maio 272014
 

A Organização Resistência Libertária [ORL] surge a partir da articulação entre estudantes anarquistas que naquele ano tinham participado das lutas pela ampliação da isenção do vestibular da UFC e da ocupação da reitoria da mesma universidade contra o REUNI, e ex-membros dos extintos Coletivo Ruptura e Comuna Libertária, que há algum tempo vinham acumulando discussões em torno da necessidade de uma atuação organizada dos anarquistas junto às lutas e movimentos sociais. Foi exatamente este o ponto inicial que possibilitou a convergência entre estas duas levas de militantes e a formação de uma organização em torno de objetivos políticos, métodos de atuação e forma organizacional comuns.

Somos uma organização específica de anarquistas, resultante da livre vontade de indivíduos de unir e coordenar seus esforços de forma horizontal e autônoma, pautados na liberdade e na responsabilidade individual e coletiva, no apoio mútuo e na democracia direta, com a disposição de militar socialmente, visando contribuir para a construção de experiências de organização e de lutas sociais com perspectiva anti-capitalista.

Cientes de que sob a denominação de anarquistas, albergam-se as mais variadas e contraditórias concepções, assumimos o anarquismo social como perspectiva política, pois no nosso entender não é possível que enquanto o capital segue avançando de forma destrutiva sobre todos os aspectos da vida e demonstra-se a cada dia mais incapaz de gerir suas próprias contradições, os anarquistas recolham-se em organizações separadas das lutas sociais ou em qualquer tipo de anarquismo anti-organizacional, individualista ou de “estilo de vida”, abstendo-se da capacidade de questionamento e de crítica social, no duplo sentido de expor os limites da sociedade capitalista e também de apontar perspectivas teóricas e práticas de luta visando sua superação. Este recolhimento para nós não seria outra coisa senão uma auto-condenação à insignificância e à impotência diante de um mundo que impiedosamente desmorona sobre nossas cabeças.

Nosso ponto de partida é, portanto, a negação de um sistema social que sem qualquer consideração pelos interesses e pelas necessidades humanas concretas submete os recursos naturais, técnicos e os próprios seres humanos ao processo de transformação de dinheiro em mais dinheiro (valorização do capital); que concentra cada vez mais poder econômico e político nas mãos de um punhado de senhores do mundo, ao mesmo tempo em que elimina para uma parcela cada vez maior da população mundial as condições mínimas de existência e ameaça devastar as bases naturais para a continuidade da vida no planeta. No mundo dominado pelo capital, liberdade, igualdade, democracia e sustentabilidade não passam de slogans auto-promocionais cínicos e irrealizáveis.

Se durante muito tempo a luta pela superação do sistema do capital foi “carinhosamente” deslegitimada como sendo uma doce utopia, hoje esta luta assume a forma de uma necessidade cada vez mais real e universalmente válida. O capitalismo não tem nada mais a nos oferecer além de crises, desemprego, miséria, fome, violência, destruição ecológica. Acreditar que ainda seremos capazes de permanecer nessa situação por muito tempo é o que merece ser condenado como uma amarga utopia. Portanto, não se pode deixar de reconhecer que os desafios são imensos.

Os problemas que o capitalismo nos impõe atualmente atingiram dimensões tão amplas e profundas, que seria no mínimo ingenuidade esperar que possa haver soluções imediatas ou que seja possível fazer frente a ele com pequenas iniciativas isoladas e inconstantes. A situação exige muito mais fôlego e necessita de outros esforços!

O capitalismo não é nenhum castelo de cartas que desmorona ao mais leve toque, é pelo contrário, o sistema de dominação social mais poderoso e abrangente da história. Por isso, defendemos que as lutas sociais assumam um caráter anti-capitalista e empreendam uma ofensiva com dimensões sociais cada vez mais amplas e radicalizadas, no sentido da construção de experiências de contrapoder, coordenadas em redes cada vez mais extensas e capazes de dotar-nos hoje da capacidade de enfrentamento e imposição contra a força social do capital e do Estado, e ao mesmo tempo sirvam como aprendizado prático e como formas preparatórias de uma sociedade auto-organizada e auto-gerida nos aspectos econômicos, políticos e sociais.

Estamos convictos de que nenhuma mudança social emancipatória pode ser o resultado da ação de pequenos grupos isolados, de vanguardas políticas ou indivíduos iluminados. Por isso, nossa disposição de atuar nas lutas e movimentos sociais não visa de forma algumas dirigi-los, controla-los e submete-los a interesses que lhes sejam alheios. Pelo contrário, assumimos abertamente o enfrentamento às práticas vanguardistas, burocráticas, eleitoreiras e alienantes que tão bem caracterizam os partidos políticos da esquerda oficial e caçadora de votos, as seitas marxistas doutrinárias, os burocratas sindicais e outros oportunistas e disciplinadores da luta social.

Também não temos como objetivo ideologizar os movimentos, tornando-os anarquistas (muito menos assumir uma postura paternalista ou o papel de tarefeiros!). Nosso objetivo é contribuir, por meio do diálogo e da troca de experiências, para que as lutas e movimentos sociais possam ultrapassar o caráter meramente reivindicativo e possam desenvolver a combatividade, a autonomia, a capacidade de auto-organização e a democracia direta.

Ultrapassar os limites meramente reivindicativos das lutas e movimentos sociais, não significa abster-se da construção de projetos alternativos que concretizem conquistas e melhorais reais nas condições de vida das pessoas. Visto que a autonomia, a auto-organização e a democracia direta não podem existir sem campos concretos de experimentação, as lutas por conquistas imediatas devem servir como experiência e aprendizado.

É na luta que se aprende a lutar! Ela deve ser a grande escola na qual se aprende a reconhecer os inimigos e a caminhar entre os comuns; na qual se aprende a participar e decidir, num processo contínuo de diálogo, de educação e construção de experiências. Uma ruptura com o sistema de dominação social capitalista não pode dar-se de forma imediata e espontânea. Ela só pode ser o resultado de um longo e difícil processo de aprendizado forjado em lutas concretas, cheias de contradições, de avanços e retrocessos, e que dependem, ao fim e ao cabo, do grau de protagonismo popular e da radicalidade de seus objetivos.

Os grandes só são grandes porque estamos de joelhos. Levantemo-nos!!

Organização Resistência Libertária [ORL]

maio 012014
 


Reproduzimos abaixo um texto exemplar para pensar a data do Primeiro de Maio e sua importância para as lutas sociais. Os créditos da transcrição do texto são dxs companheirxs do Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí, que vem realizando a importante tarefa de estudo, tradução e difusão do pensamento anarquista. Para mais informações sobre o GEAPI ver http://anarquistas-pi.blogspot.com.br/


FESTA OU PROTESTO?

O texto disponibilizado é uma matéria do jornal A Voz do Trabalhador – Órgão da Confederação Operária Brasileira – Ano I, n° 10, dia 1° de maio de 1909.

Como deve ser compreendido o 1° de maio por todos aqueles que trabalham, por todos que através dos tempos tem passado uma vida infame e cheia de miséria?

Sim! Todos os que passaram longos anos executando um trabalho extenuante, sem nunca terem alcançado um pouco de bem estar servindo toda a sua vida à classe capitalista, como devem eles comemorar o 1° de maio?

Creio que todos os trabalhadores nesse dia devem protestar energicamente contra esta ordem de coisas, demonstrando a toda essa gente a hipócrita tirania, que não estão dispostos a aceitar a fome, a miséria, em paga do seu esforço, feito em benefício de meia dúzia de bandidos sanguessugas da humanidade, mas sim a lutar energicamente em prol de uma vida mais livre, onde o seu esforço represente unicamente a sua própria vontade; e do qual possam obter o necessário para a completa satisfação das suas necessidades; compartilhando assim do progresso humano para o qual a completa satisfação das suas necessidades; compartilhando assim do progresso humano para o qual concorrem na medida das suas forças.

Esse dia, deve ser de revolta, e não de festa; digo de revolta, porque creio ser necessário revoltarem-se todos os seres que mourejam diariamente dentro das oficinas, das fábricas, nas minas e nos campos, contra essa sociedade nefanda, que procura artimanhosamente escravizar-nos, negando-nos o direito que nos assiste de gozar de todas as riquezas que a natureza possui, e das quais nós tratamos! Digo que não deve ser de festa, porque festejar o trabalho na atual sociedade seria o mesmo que festejar a nossa escravidão, a miséria que nos avassala, equivaleria a dizer que estamos contentes com esta corrente tirânica que nos oprime e satisfeitos com o jugo aniquilador que nos faz curvar sob o seu peso.

É preciso que todos os oprimidos se rebelem contra a organização atual, é necessário que demonstrem francamente o que seu descontentamento por toda essa miséria que invade os lares daqueles que duto produzem e nada gozam; que todos os proletários com palavras vibrantes ponham bem visível o seu ódio a todos esses cancros sociais.

Quando toda essa legião de seres humanos assalariados pelo capital, se unam para acabar com todas essas infâmias praticadas por essa classe escravocrata que se apoia na inconsciência das criaturas incultas, faltas de experiência própria, para poderem compreender os direitos que lhes assistem na terra.

Todos os operários conscientes devem por em relevo perante os que menos compreendem, que acima de tudo devemos considerar a liberdade sobre a terra, pela qual temos que lutar; lutar sem tréguas, até adquirirmos tudo o que por direito nos pertence, e que até hoje nos tem sido extorquido pela infame e degenerada sociedade burguesa.

O homem só será feliz quando for “livre sobre a terra livre”; assim escreveu não sei quem, não me lembro agora, mas aceito esse pensamento como lógico e verdadeiro, por que nele se encerra toda a felicidade da vida.

Eurípedes Floreal

maio 012014
 

ana

DECLARAÇÃO DO Iº ENCONTRO ANARQUISTA ESPECIFISTA DA BAHIA

As jornadas de junho demonstraram a insatisfação popular com a democracia representativa e a falência das instituições do estado burocrático, representada pela política dos partidos tradicionais, no momento em que as demandas populares não foram atendidas. O Estado mostrou sua capacidade de assegurar os interesses do Capital, respondendo os anseios populares com truculenta repressão. A Bahia vivenciou ricos momentos de ação popular autônoma, com manifestações em diversas cidades do estado. Para o anarquismo, esse processo abriu novas possibilidades do ‘fazer’ político junto com o povo, fomentando novos valores de democracia direta e do Poder Popular. Foi diante dessa conjuntura que, nós anarquistas, lutamos e fortalecemos o protagonismo das ruas.

É na retomada da militância do anarquismo organizado na Bahia, que propomos a construção de uma organização específica anarquista que abarque a tarefa de trilhar o caminho rumo a uma sociedade justa e igualitária. É sobre essa perspectiva, que ampliamos a construção do anarquismo, a partir das experiências do Vermelho e Negro e do Coletivo Anarquista Ademir Fernando (CAAF). Ambos processos incentivados pela construção do anarquismo no país, através da Coordenação Anarquista Brasileira (CAB). Levados por esses anseios, realizou-se o encontro pró-organização do anarquismo na Bahia, que reuniu diversos militantes do estado, para definir estratégias e programas comuns na consolidação do especifismo.

Convidamos a tod@s @s militantes que afinam com a proposta do anarquismo especifista na Bahia, a somar-se na luta pela construção de uma nova sociedade.

Bahia, 26 e 27 de abril de 2014

Email: caaf@risuep.net

coletivoanarquistaademirfernando.blogspot.com

maio 012014
 

Segue abaixo nota da Coordenação Anarquista Brasileira [CAB] enviada como saudação ao Ato do Primeiro de Maio realizado pelos companheirxs da Federação Anarquista Uruguaia (FAU).

Veja a versão da nota em português logo abaixo da versão em espanhol.

 

 

 

Saludos internacionalistas al Primero de Mayo, del luto a la lucha!

Compañeras y compañeros de la Federación Anarquista Uruguaya, la Coordinación Anarquista Brasilera viene, a través de este mensaje, saludar el dia Internacional de La Memória y de Lucha de los Trabajadores y Trabajadoras.

El año que se pasó fué particularmente importante para nosotros, anarquistas y trabajadores y trabajadoras de la Coordinación Anarquista Brasilera. Con el, manifestaciones masivas ha resurgido que tomaron las ciudades brasileras de norte a sur. Estas manifestaciones llenaron de esperanza a la lucha popular y señalaron los límites de un proyecto de dominación y de expansión del capital que oprime y masacra a los/las de abajo. Este proyecto se presenta hoy de una manera cruel, con sus efectos adversos. Mata a las trabajadoras y jóvenes negros en las favelas y periferias, impone el terror de los terratenientes en el campo y en contra los pueblos indígenas y quilombolas (afrodescendientes), y no más, reprime brutalmente a los que aún resisten. Es este el proyecto que también lleva a cabo el translado de ocupaciones urbanas en varias ciudades brasileras, que solo aumentan la explotación del trabajo y intenta vender la imagen de que “Brasil es un gigante que va bien”.

Sin embargo, nosotros, los y las de abajo, sabemos que para los trabajadores y trabajadoras nada va bien! Sabemos que los lucros de la Copa del Mundo de fútbol y los Juegos Olímpicos, que se celebrará en Brasil, se están produciendo sobre la explotación y la represión. Y que los grandes empresários se benefician con el sudor de los verdaderos productores de la riqueza.

Vale a pena recordar, en esta fecha, que los proyectos de dominación en nuestro continente no son nuevos. En este mes y neste año, la dictadura empresarial-militar implementada en Brasil con el golpe de 1964 hizo exactamente 50 años. 50 años en que la clase dominante, con la acción decisiva de los militares, puso Brasil en una noche oscura que duró veintiún años. Somos hijos de esta historia, que en su hilo, encuentra la lucha de las/los que pelean en diversos momentos historicos de resistencia.

Concientes del papel del anarquismo en la lucha popular y en nuestra Sudamérica, nosotros de la Coordinación Anarquista Brasilera reforzamos acá la solidaridad y los lazos de organicidad con nuestras compañeras y compañeros de la FAU. Porque sabemos que la globalización del capital encontrará puños fuertes y cerrados de la internacionalización de nuestra lucha. Para que no se repitan más tragedias del capital.

Para que la memoria de los Mártires de Chicago sea recordada para siempre como un día de lucha!

A los Mártires de Chicago y a todos y todas que se fueron combatiendo las dictaduras del capital de ayer y de hoy, queda nuestro mensaje: NINGÚN MINUTO DE SILENCIO, PERO TODA UNA VIDA DE LUCHA!

¡Viva el Primero de Mayo!

¡Viva el Internacionalismo de los Trabajadores y de las Trabajadoras!

¡Viva la FAU!

¡Vivan los Mártires de Chicago!

 

Coordinación Anarquista Brasilera (CAB)

 

 

VERSÃO EM PORTUGUÊS

 


Saudações internacionalistas ao primeiro de maio, do luto à luta!

Companheiras e companheiros da Federação Anarquista Uruguaia, a Coordenação Anarquista Brasileira vem, com esta mensagem, saudar o dia Internacional de Memória e Luta dos Trabalhadores e Trabalhadoras.

O ano que se passou foi particularmente importante para nós, anarquistas e trabalhadores e trabalhadoras da Coordenação Anarquista Brasileira. Com ele, ressurgiram manifestações massivas que tomaram as cidades brasileiras de norte a sul. Essas manifestações encheram de esperança a luta popular e apontaram os limites de um projeto de dominação e de expansão do capital que oprime e massacra as/os de baixo. Esse projeto se apresenta hoje de maneira cruel, com seus efeitos nefastos. Mata trabalhadoras e jovens negros nas favelas e periferias, impõe o terror dos latifundiários no campo e contra os povos indígenas e quilombolas, e, ainda, reprime brutalmente os que resistem. É esse projeto que também implementa as remoções de ocupações urbanas em várias cidades brasileiras, que aumenta a exploração do trabalho e tenta vender a imagem de que o “Brasil é um gigante que vai bem”.

Porém, nós, os e as de baixo, sabemos que para os trabalhadores e trabalhadoras nada vai bem! Sabemos que os lucros da Copa do Mundo de futebol e das Olímpiadas, que serão realizados no Brasil, estão sendo produzidos sobre a exploração e repressão. E que os grandes empresários estão sendo beneficiados com o suor dos verdadeiros produtores da riqueza.

Cabe lembrar, nesta data, que os projetos de dominação no nosso continente não são novos. Nesse mês e nesse ano, a ditadura empresarial-militar implementada no Brasil com o golpe de 1964 fez exatos 50 anos. 50 anos em que a classe dominante, com a ação decisiva dos militares, colocou o Brasil numa noite escura que durou vinte e um anos. Somos filhos dessa história, que, em seu fio condutor, encontra a luta de lutadores e lutadoras em diversos momentos históricos de resistência.

Conscientes do papel do anarquismo na luta popular e em nossa América do Sul, nós da Coordenação Anarquista Brasileira reforçamos aqui a solidariedade e os laços de organicidade com nossas companheiras e companheiros da FAU. Porque sabemos que a globalização do capital encontrará punhos forte e fechado da internacionalização de nossa luta. Para que não se repitam mais tragédias do capital.

Para que a memória dos Mártires de Chicago seja lembrada para sempre como um dia de luta!

Aos Mártires de Chicago e a todos e todas que se foram combatendo as ditaduras do capital de ontem e de hoje, fica nosso recado: NENHUM MINUTO DE SILÊNCIO, MAS TODA UMA VIDA DE LUTA!

Viva o Primeiro de Maio!

Viva o Internacionalismo dos Trabalhadores e das Trabalhadoras!

Viva a FAU!

Vivam os Mártires de Chicago!

 

Coordenação Anarquista Brasileira (CAB)

maio 012014
 

A Organização Resistência Libertária, integrante da Coordenação Anarquista Brasileira [CAB], iniciará o Ciclo de Debates Anarquistas e convida a todas e todos militantes, estudantes e trabalhadorxs para o debate sobre o 1º de Maio, Dia de Luta das Trabalhadoras e Trabalhadores.

Esse evento será o primeiro de muitos ao longo do ano, que visam:

– Discutir e difundir o Anarquismo como uma ferramenta de luta das classes oprimidas;
– Socializar o debate da Organização Resistência Libertária junto com nossxs apoiadorxs e demais lutadorxs que estão conosco no dia a dia.
– Ampliar o debate sobre o Anarquismo Especifista, e fundamentalmente sobre a necessidade da Organização Política Anarquista; 

O evento acontecerá no próximo sábado, às 09 horas no Plebeu Gabinete de Leitura, na Rua Floriano Peixoto, 735, 5º Andar (Prédio da Associação Cearense de Imprensa – ACI)