A Organização Resistência Libertária [ORL] surge a partir da articulação entre estudantes anarquistas que naquele ano tinham participado das lutas pela ampliação da isenção do vestibular da UFC e da ocupação da reitoria da mesma universidade contra o REUNI, e ex-membros dos extintos Coletivo Ruptura e Comuna Libertária, que há algum tempo vinham acumulando discussões em torno da necessidade de uma atuação organizada dos anarquistas junto às lutas e movimentos sociais. Foi exatamente este o ponto inicial que possibilitou a convergência entre estas duas levas de militantes e a formação de uma organização em torno de objetivos políticos, métodos de atuação e forma organizacional comuns.
Somos uma organização específica de anarquistas, resultante da livre vontade de indivíduos de unir e coordenar seus esforços de forma horizontal e autônoma, pautados na liberdade e na responsabilidade individual e coletiva, no apoio mútuo e na democracia direta, com a disposição de militar socialmente, visando contribuir para a construção de experiências de organização e de lutas sociais com perspectiva anti-capitalista.
Cientes de que sob a denominação de anarquistas, albergam-se as mais variadas e contraditórias concepções, assumimos o anarquismo social como perspectiva política, pois no nosso entender não é possível que enquanto o capital segue avançando de forma destrutiva sobre todos os aspectos da vida e demonstra-se a cada dia mais incapaz de gerir suas próprias contradições, os anarquistas recolham-se em organizações separadas das lutas sociais ou em qualquer tipo de anarquismo anti-organizacional, individualista ou de “estilo de vida”, abstendo-se da capacidade de questionamento e de crítica social, no duplo sentido de expor os limites da sociedade capitalista e também de apontar perspectivas teóricas e práticas de luta visando sua superação. Este recolhimento para nós não seria outra coisa senão uma auto-condenação à insignificância e à impotência diante de um mundo que impiedosamente desmorona sobre nossas cabeças.
Nosso ponto de partida é, portanto, a negação de um sistema social que sem qualquer consideração pelos interesses e pelas necessidades humanas concretas submete os recursos naturais, técnicos e os próprios seres humanos ao processo de transformação de dinheiro em mais dinheiro (valorização do capital); que concentra cada vez mais poder econômico e político nas mãos de um punhado de senhores do mundo, ao mesmo tempo em que elimina para uma parcela cada vez maior da população mundial as condições mínimas de existência e ameaça devastar as bases naturais para a continuidade da vida no planeta. No mundo dominado pelo capital, liberdade, igualdade, democracia e sustentabilidade não passam de slogans auto-promocionais cínicos e irrealizáveis.
Se durante muito tempo a luta pela superação do sistema do capital foi “carinhosamente” deslegitimada como sendo uma doce utopia, hoje esta luta assume a forma de uma necessidade cada vez mais real e universalmente válida. O capitalismo não tem nada mais a nos oferecer além de crises, desemprego, miséria, fome, violência, destruição ecológica. Acreditar que ainda seremos capazes de permanecer nessa situação por muito tempo é o que merece ser condenado como uma amarga utopia. Portanto, não se pode deixar de reconhecer que os desafios são imensos.
Os problemas que o capitalismo nos impõe atualmente atingiram dimensões tão amplas e profundas, que seria no mínimo ingenuidade esperar que possa haver soluções imediatas ou que seja possível fazer frente a ele com pequenas iniciativas isoladas e inconstantes. A situação exige muito mais fôlego e necessita de outros esforços!
O capitalismo não é nenhum castelo de cartas que desmorona ao mais leve toque, é pelo contrário, o sistema de dominação social mais poderoso e abrangente da história. Por isso, defendemos que as lutas sociais assumam um caráter anti-capitalista e empreendam uma ofensiva com dimensões sociais cada vez mais amplas e radicalizadas, no sentido da construção de experiências de contrapoder, coordenadas em redes cada vez mais extensas e capazes de dotar-nos hoje da capacidade de enfrentamento e imposição contra a força social do capital e do Estado, e ao mesmo tempo sirvam como aprendizado prático e como formas preparatórias de uma sociedade auto-organizada e auto-gerida nos aspectos econômicos, políticos e sociais.
Estamos convictos de que nenhuma mudança social emancipatória pode ser o resultado da ação de pequenos grupos isolados, de vanguardas políticas ou indivíduos iluminados. Por isso, nossa disposição de atuar nas lutas e movimentos sociais não visa de forma algumas dirigi-los, controla-los e submete-los a interesses que lhes sejam alheios. Pelo contrário, assumimos abertamente o enfrentamento às práticas vanguardistas, burocráticas, eleitoreiras e alienantes que tão bem caracterizam os partidos políticos da esquerda oficial e caçadora de votos, as seitas marxistas doutrinárias, os burocratas sindicais e outros oportunistas e disciplinadores da luta social.
Também não temos como objetivo ideologizar os movimentos, tornando-os anarquistas (muito menos assumir uma postura paternalista ou o papel de tarefeiros!). Nosso objetivo é contribuir, por meio do diálogo e da troca de experiências, para que as lutas e movimentos sociais possam ultrapassar o caráter meramente reivindicativo e possam desenvolver a combatividade, a autonomia, a capacidade de auto-organização e a democracia direta.
Ultrapassar os limites meramente reivindicativos das lutas e movimentos sociais, não significa abster-se da construção de projetos alternativos que concretizem conquistas e melhorais reais nas condições de vida das pessoas. Visto que a autonomia, a auto-organização e a democracia direta não podem existir sem campos concretos de experimentação, as lutas por conquistas imediatas devem servir como experiência e aprendizado.
É na luta que se aprende a lutar! Ela deve ser a grande escola na qual se aprende a reconhecer os inimigos e a caminhar entre os comuns; na qual se aprende a participar e decidir, num processo contínuo de diálogo, de educação e construção de experiências. Uma ruptura com o sistema de dominação social capitalista não pode dar-se de forma imediata e espontânea. Ela só pode ser o resultado de um longo e difícil processo de aprendizado forjado em lutas concretas, cheias de contradições, de avanços e retrocessos, e que dependem, ao fim e ao cabo, do grau de protagonismo popular e da radicalidade de seus objetivos.
Os grandes só são grandes porque estamos de joelhos. Levantemo-nos!!
Organização Resistência Libertária [ORL]