No dia 10.06.2021 professores, professoras e estudantes da UECE foram intimados pela polícia federal para depor sob a acusação de “práticas antifascistas” no ano de 2018.
Não nos surpreende a criminalização de lutadores e lutadoras do povo pelo poder repressor do estado policial de ajuste que foi forjado no seio do governo PT com a lei de segurança nacional, operações no Haiti e em favelas brasileiras, estando agora sob o comando do governo Bolsonaro e do germe do fascismo que cresce a cada dia nas escolas e universidades pelo Brasil, arrancando direitos e livre-expressão dos e das de baixo, direitos conseguidos por aqueles e aquelas que vieram antes de nós e pelos quais passaram décadas lutando.
Por outro lado, nos dá esperança que contra o fascismo cresce a força do povo organizado em luta e nas ruas, força da qual esses aguerridos e aguerridas professores, professoras e estudantes da uece são parte latente, vibrante, em movimento.
Reafirmamos que ser antifascista é dever de cada lutador e lutadora nesses tempos obscuros que estamos vivendo. Colocar o antifascismo como crime escancara as intenções autoritárias do estado policial desse período histórico que estamos vivendo.
Expressamos nossa total solidariedade e, por saber que solidariedade é mais que palavra escrita, nos colocamos de mãos dadas e punhos erguidos para enfrentar com vocês esse Estado que nos oprime e criminaliza.
A Reforma Administrativa (PEC 32/2020), proposta pelo governo Bolsonaro, ao contrário do que afirma a retórica privatista, pretende reforçar a burocracia estatal aprofundando sua instrumentalização pelos tecnocratas, políticos e capitalistas, em detrimento do controle social dos serviços públicos. Nós da CAB afirmamos que é preciso cerrar punhos contra essa proposta, que é um passo adiante na precarização dos serviços e das condições de trabalho, e alguns passos para trás em relação à autogestão.
É importante ressaltar que, como anarquistas, não acreditamos que os órgãos de Estado sejam públicos, isto é, bens comuns compartilhados pela sociedade. Eles são apropriados pelas classes dominantes com o fim de perpetuar o próprio sistema de dominação, mesmo que em certas circunstâncias se apresentem com uma face de serviço público com alguns mecanismos “democráticos”. Em nossa atuação militante, fortalecemos as lutas das/os trabalhadoras/es nesses setores, tendo como horizonte a autogestão dos serviços públicos, de forma que trabalhadoras e trabalhadores possam se autoorganizar, com controle popular por meio da democracia direta, envolvendo os órgãos de base da sociedade.
Defendemos o modelo autogestionário para os serviços públicos e por isso somos contra as privatizações, assim como somos contra a defesa da tutela do Estado como instrumento de combate ao capitalismo, tendo em vista que ele não é um aparelho neutro. O Estado se interrelaciona com o capital e seus processos, e também está submetido aos interesses privados de uma minoria, como por exemplo, os setores tecnocráticos que compõem o aparelho estatal (governantes de turno, carreiristas estamentais ou teocratas, por exemplo). Somos radicalmente contra a privatização, mas não achamos que a solução esteja na estatização. Defendemos a autogestão e a transformação radical da sociedade. Dito isto, a proposta de Reforma Administrativa do governo Bolsonaro reforça ainda mais esse caráter de privilégios de um grupo específico em detrimento dos interesses das/dos de baixo, e nossa defesa tática aponta para um horizonte de um modelo organizativo autogestionário, de socialização e planejamento por meio da democracia direta.
A proposta prejudica todo o povo
Todo o povo será afetado caso a Reforma seja aprovada. A redução da estabilidade das trabalhadoras e trabalhadores do serviço público abre caminho para que os políticos imponham seus próprios interesses, recebendo favores particulares, por exemplo. Favorece a indicação por apadrinhamento no serviço público, ou seja, pessoas que nunca colocaram o pé no dia-a-dia dos serviços, são nomeadas por serem amigas de um político, seja por motivos econômicos imediatos como a indicação de funcionários-fantasmas, enriquecendo políticos por meio de rachadinhas, seja por motivos políticos de defesa intransigente dos interesses de quem indica.
A Reforma Administrativa também libera formas de cooperação do Estado com empresas privadas, que visam somente ao lucro, o que aumenta a possibilidade de corrupção, com superfaturamento e desvios de dinheiro público. Além disso, dá ao presidente da República o poder de extinguir cargos e acabar com empresas públicas em uma canetada, sem diálogo com outros órgãos, muito menos com a população. Ou seja, fica mais fácil desmontar serviços públicos, por pura conveniência política. O povo só tem a perder.
Prejuízos aos e às trabalhadoras
As servidoras e os servidores também serão prejudicados caso a Reforma seja aprovada. Ela facilita a perseguição política e a perda do cargo, dando mais poder para os chefes, indicados politicamente, fazerem uma avaliação ruim do/da trabalhador/a, caso desagrade ordens de cima, por exemplo. Também acaba com direitos existentes hoje, como adicionais e licenças por tempo de serviço. Além disso, retira a preferência de servidores de carreira ocuparem cargos de chefia, abrindo a porteira para politicagem muito maior dentro dos órgãos públicos. Ainda permite a contratação de temporários/as durante greves. Tudo isso vai dificultar ainda mais as lutas dos/das trabalhadores/as por melhores condições de trabalho e direitos sociais.
Quem pretende trabalhar no setor público será ainda mais prejudicado. A proposta libera a criação de contratações precárias para os serviços públicos, aumentando ainda mais o peso das indicações políticas. Também favorece a rotatividade: como um exemplo, servidoras/es poderão ser contratadas/os por alguns meses, passarão um tempo desempregadas/os, e depois voltarão a ser contratadas/os por alguns meses. Ou seja, trabalhos tão precários quanto são na iniciativa privada.
A PEC também cria o “Cargo Típico de Estado”, que garante o ingresso por concurso e estabilidade no emprego. O problema é que isso ficaria restrito apenas a algumas carreiras, consideradas estratégicas. A grande maioria de trabalhadoras/es não seriam mais contratados por concurso, nem teriam estabilidade, outra forma de precarização e abertura para que interesses privados invadam ainda mais o serviço público. A estabilidade é um mecanismo que tem o propósito de evitar que servidoras e servidores sejam, no exercício de sua função, perseguidas/os ou pressionadas/os por seus chefes de plantão, como políticos e seus indicados.
Por tudo isso, seguimos contra a Reforma Administrativa, e desde nossa atuação cotidiana impulsionamos as lutas para derrubar essa proposta, que só reforça a dominação privada sobre o serviço público. É preciso mobilizar as e os trabalhadores desde os locais de trabalho, e levar às classes oprimidas o que está em jogo com essa proposta! Nesse momento é importante aliar essa luta às demandas por direitos sociais, como vacina para geral mais rápido e um auxílio emergencial decente para que todas e todos possam se proteger da pandemia!
NÃO À REFORMA ADMINISTRATIVA! DEMOCRACIA DIRETA NO CAMINHO DO PODER POPULAR!
O Brasil alcançou o trágico número de 300 mil vidas perdidas, no pior momento da pandemia da covid-19 em um ano. Desde o início, Bolsonaro fez o máximo possível para sabotar o controle da doença e a vacinação dos brasileiros, incentivando aglomerações, criticando o uso de máscaras e desrespeitando o luto daqueles e daquelas que se foram, com o apoio de todo o seu governo, dos militares aos neoliberais, e a conivência dos outros poderes.
Nesse momento somos o país com o maior volume de mortes no mundo, com mais de duas mil vítimas diárias, em meio a variantes do vírus que se alastram pelas regiões, atingindo um povo que passa fome, está desempregado, sem auxílio e sem vacina. Há quem diga que os números diários de vítimas serão ainda maiores com o colapso nacional, já que em todos os estados há registros de pessoas morrendo sem conseguir vaga em hospital, em um cenário sem perspectiva de melhora.
Essa gravíssima situação não dá outra alternativa a não ser uma forte revolta pela base, espalhada pelo país, exigindo auxílio digno para o povo e vacinação em massa. Um recado claro às classes dominantes que esse genocídio não pode continuar!
A classe capitalista e os governantes não podem seguir matando nosso povo sem uma resposta à altura! Por isso defendemos nos espaços de militância que os movimentos populares lancem mão de todo seu repertório de lutas, com ação direta e independência de classe, para mostrar que queremos permanecer vivos, de forma digna!
DESEMPREGO E PANELA VAZIA É REVOLTA NA PERIFERIA! FORA BOLSONARO, MILITARES E PAULO GUEDES! PELA DEMOCRACIA DIRETA! POR VACINAÇÃO EM MASSA E AUXÍLIO PARA TODOS!
É chegado mais um 8 de março. Embora o ano de 2020 tenha sido marcado por esforços desesperados para sobrevivermos, no qual muitas de nós tiveram suas vidas ceifadas –seja pela COVID-19, seja pelos feminicídios e violências do Estado, seja pelas guerras declaradas pelos de cima, seja pela fome –, nos encontramos novamente com os punhos cerrados, em alto e alertas. Aproveitamos a data, memória das lutas das mulheres, para, internacionalmente, reafirmarmos: vivas estamos, na resistência e na luta nos manteremos! Ao Estado, ao Capitalismo, ao Patriarcado e Racismo, gritamos que nenhum segundo de paz lhes será dado. Nós, mulheres anarquistas organizadas na CAB, inseridas nas fileiras das lutas sociais Brasil afora, ocupamos o espaço deste Opinião Anarquista de março para apontarmos alguns elementos de leitura da realidade social que temos vivenciado.
Antes de tudo, é preciso dizer que, para as mulheres de baixo, a conjuntura brasileira tem significado um conjunto de adversidades e ofensivas que atentam diretamente contra nossas vidas. Se a realidade nunca nos foi favorável, assim como não é para todo o povo preto, pobre e periférico, o contexto da pandemia veio como um catalisador de ataques e genocídios. As políticas neoliberais do governo de Bolsonaro e Paulo Guedes, a farra dos milionários e bilionários às custas de trabalhadoras e trabalhadores que amargam as consequências da pandemia, o descaso pela vida vindo de todo o Estado e do Capitalismo – escancarado, mais uma vez, na crise sanitária –, a ofensiva do conservadorismo da extrema direita, recaem intensamente sobre nossos corpos e nossas vidas. Por outro lado, essa mesma conjuntura também é composta das muitas experiências auto-organizadas e populares que tiveram papel essencial para nossa sobrevivência; e delas, não podemos nos esquecer.
Estado, capital e governos são aliados na construção e manutenção da miséria! A cada ano que passa, as mulheres têm precisado enfrentar cada vez mais dificuldades. Os direitos já conquistados por aquelas que por aqui estiveram antes de nós, e lembrados neste 8 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres, estão sendo retirados pelo Estado machista, racista e opressor. Direitos mínimos como moradia e saúde não estão sendo garantidos durante a pandemia, momento que fragiliza ainda mais a nós mulheres; somam-se as demissões, abandonos pelo distanciamento social, jornadas duplas e triplas de trabalho, violência contra a mulher e o aumento de feminicídios.
Não esqueceremos das lutas de nossas companheiras e daremos continuidade para garantir vida digna a todas nós, mulheres da classe trabalhadora, pobres, periféricas, as de baixo.
O cenário brasileiro está marcado por um longo caminho de ofensivas neoliberais que atravessaram os governos no decorrer da história do país. O governo Bolsonaro/Mourão/Guedes – extrema direta/militarismo/neoliberalismo – aprofundou esse projeto, colocando em prática políticas que beneficiam o mercado, exploram ainda mais trabalhadoras/es e desmontam os serviços públicos. Em 2021, ao avaliarmos a dura realidade em meio à iminência de uma 3ª onda da COVID-19, não podemos deixar de considerar todo um pacote de reformas defendidas e implementadas por esse governo. Elas se relacionam diretamente com o contexto de miséria enfrentado pelo povo, juntamente com as demais políticas de manutenção do capital.
A Lei do Teto de Gastos – ainda vigente – congelou os investimentos em saúde e educação; serviços básicos que atendem o povo e são urgentes na realidade de vida das mulheres pobres e periféricas. A reforma trabalhista entregou os direitos trabalhistas nas mãos dos patrões, atingindo milhares de trabalhadoras, principalmente, daqueles serviços mais precarizados e compostos majoritariamente por mulheres – como as terceirizadas da limpeza etc.; a carteira verde-amarela é emblema do governo de Bolsonaro, pois também é marca da precarização dos direitos trabalhistas e do trabalho que explora e empobrece ainda mais as pessoas – representa, portanto, um governo que quer ver o povo trabalhador entregue à miséria e à submissão. A Reforma da Previdência atentou contra o direito de uma aposentadoria digna e demonstra que ao povo nada é garantido; também ela deve ser emblemática desse governo, uma vez que atingiu diretamente o tempo de contribuição e idade para as mulheres se aposentarem, as mais atingidas – a misoginia da extrema direita servindo aos interesses do Estado e do capitalismo. Ainda nessa lista, a Reforma administrativa representa o desmonte dos serviços públicos mais básicos para as mulheres – saúde e educação –, atingindo, também, milhares de trabalhadoras desses serviços; é preciso lembrar que a reforma atingirá, principalmente, servidoras/es públicas/os que estão na ponta da saúde e da educação e, por isso, possuem os trabalhos mais precarizados e os salários mais baixos – frentes compostas por uma maioria de mulheres, que terão seus salários reduzidos e seus direitos retirados. A PEC Emergencial (186), em curso neste momento, além de não propor um auxílio emergencial digno para o povo, ainda previa o fim dos pisos para investimento em saúde e educação, desobrigando estados e municípios de investirem um valor mínimo. Apesar das mudanças em relação ao fim do piso, na versão em votação, a PEC ainda prevê gatilhos para limitar os investimentos nesses setores tão essenciais às/aos de baixo.
Pois bem, nesse cenário de desgaste de direitos, salários, saúde e vida das trabalhadoras e trabalhadores, a pandemia acrescenta as dificuldades financeiras trazidas pela crise sanitária, a tensão psicológica provocada por uma atmosfera de medo e morte, as necessidades de se virar para dar conta de um cotidiano carregado de mais tarefas, o luto… em meio a tudo isso, a política do mercado, implementada pelo governo de Bolsonaro, continuou seu caminho de massacre. O contexto da pandemia foi aproveitado para acelerar os processos de implementação das reformas, tanto na esfera federal quanto nas esferas estaduais e municipais. Os governos, alinhados ao projeto neoliberal e às brechas abertas por Bolsonaro/Paulo Guedes, aproveitaram o isolamento para passar, em Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais, diversos projetos de reformas e Emendas Constitucionais de retiradas de direitos ou, ainda, projetos que beneficiam os setores mais ricos do país.
Além da Covid-19, a carestia de vida tem adoecido as mulheres trabalhadoras deste Brasil. O alto custo de vida resulta de todo um sistema capitalista que se acomoda com a crise paga pelos mais pobres; no Brasil, produzida pelas políticas implementadas pelo governo de Bolsonaro/Paulo Guedes, tão genocida quanto o próprio capitalismo. O encarecimento de alimentos básicos, energia, água, gás, combustíveis, resultante daí, atinge o povo em um momento extremamente difícil de pandemia, gerando miséria, fome e mais adoecimentos; enquanto isso, os de cima continuam a saborear do bom e do melhor, pois seus lucros sempre vêm, maiores ou menores. O desemprego e a passagem de trabalhadores para o setor do trabalho informal e/ou mais precarizado atingiu um grande número de mulheres; é o que se registrou em Pernambuco, por exemplo, onde 99% das vagas demitidas eram ocupadas por mulheres (dados do CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados; apontados em reportagem do Brasil de Fato de 25 de fevereiro de 2021). Com trabalhos e salários precarizados ou com o desemprego, as mulheres mais pobres, muitas delas, as únicas mantenedoras de suas casas, encontram-se abandonadas e desassistidas, sem qualquer proteção social. Não há possibilidade de colocar comida à mesa apenas com o Bolsa Família ou, ainda, aquelas que conseguem uma renda mínima não podem garantir uma vida digna de fato, vivendo apenas com o básico para sobreviver. Neste momento, o capitalismo retira o emprego e o salário; e o Estado retira a proteção social, já que as reformas congelaram verbas e serviços públicos, além de cortarem partes ou reduzirem auxílios.
Não podemos aceitar que explorem nossos corpos e nossa mão de obra por salários baixos, desgastados e más condições de trabalho, questões evidenciadas durante a pandemia. Exigimos deste governo genocida o pagamento do Auxílio Emergencial, para que nossas famílias possam ter condições de sobrevivência. Mas, para além das políticas emergenciais, nos juntamos com nossas companheiras na luta pelo fim do capitalismo, principal responsável por nossa pobreza, nossas dificuldades e nossas mortes. Por isso, o fim do governo de Bolsonaro/Mourão/Guedes deve ser acompanhado pelo fim desse modo de dominação que beneficia os de cima e produz a miséria das/dos debaixo.
Exigimos vida digna, pão e liberdade. Pelo fim da cultura machista, racista e LGBTQIAfóbica, que nos mata e explora nossos corpos e suga nossas forças, nossa vida.
Pela saúde das mulheres! Exigimos a aceleração nas aplicações das vacinas. Se mantermos o ritmo atual, muitas de nós ainda morrerão enquanto esperam que o Estado garanta nosso direito. As mulheres trabalhadoras estão em exposição constante ao vírus quando saem de suas casas, pegam o transporte público e cumprem suas jornadas de trabalho. O governo genocida de Jair Bolsonaro foi um desserviço durante toda a pandemia, sem levar a sério as mais de 250.000 mortes causadas pela Covid. Bolsonaro, políticos, militares e empresários são responsáveis pela morte de milhares de pessoas, que não tiveram direito nem sequer a um velório. Nós exigimos respeito aos nossos, as trabalhadoras e trabalhadores, que morreram se expondo ao vírus por disseminação de informações falsas por parte do governo, que incentivou o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid e que desmotivou a utilização das máscaras e distanciamento social, que podem salvar vidas.
Os povos indígenas e quilombolas sentiram na pele toda a omissão deliberada do Estado nesta pandemia. Com um projeto claro de extinção desses povos, construído e apoiado pelos setores ruralistas/agronegócio, faltou verbas e projetos que facilitassem o atendimento médico e condições de sobrevivência aos contaminados pela COVID-19. O número de indígenas mortos em decorrência do Coronavírus foi bastante alto e representa o descaso e o genocídio deliberados. Hoje, também tem sido negado o direito à vacinação nas primeiras fases. Além do abandono, muitas comunidades quilombolas foram ameaçadas de invasão e retomada de terras – como a comunidade de Mata Cavalo em Mato Grosso; em outras, ocorreram retiradas das pessoas, que se viram na rua. As mulheres indígenas foram afetadas em todo esse processo, assim como as mulheres das comunidades quilombolas. A falta de assistência sanitária, de recursos, de atendimento, matou e adoeceu indígenas e quilombolas durante a pandemia!
Bolsonaro e seus comparsas matam nosso povo. São também responsáveis pela precarização de nossas vidas e nossa segurança quando não organizaram a compra de vacinas, permitiram o atraso na imunização e, agora, por não estarem garantindo a quantidade de doses necessárias e a vacinação imediata de todas, todos e todes.
Retorno às aulas coloca em risco a vida das mulheres e dos de baixo Neste contexto de pandemia, lutamos também pelas vidas das/dos trabalhadoras/es da educação, que, em sua maioria, são mulheres, diretoras de escolas, professoras, zeladoras, cozinheiras, agentes da limpeza do chão da escola, e pelas crianças e as famílias que fazem parte da comunidade escolar. Com a volta às aulas, estamos todos em risco.
Em muitos estados e municípios, as aulas ou atividades presencias estão sendo retomadas sem protocolos mínimos de segurança. Governos e prefeituras têm cedido à pressão do setor empresarial das escolas particulares para o retorno, sem levar em consideração as grandes diferenças estruturais entre as escolas da rede privada e da rede pública. Lembramos que mais de 80% dos estudantes da rede básica estão matriculados na rede pública, exemplificando o tamanho da rede e sua demanda em comparação com a privada/particular. Segundo o censo escolar de 2020, escolas da rede privada correspondem apenas a 22% do total de escolas no país; dos 47.295.294 de matrículas no ensino básico, 38.504.108 são da rede pública e 8.791.186 da rede privada.
Isso significa que um retorno às aulas presenciais sem vacina vai impactar a população mais pobre, público que praticamente constitui quase toda a rede básica. O setor privado se vale de um discurso de preocupação com a necessidade do ensino, mesclado ao tom de negacionismo do governo federal, mas, no fim, os interesses são bem outros. Não deixemos de mencionar que, em muitos casos, são as próprias professoras da rede privada que têm pagado as contas da pandemia, pois muitas foram demitidas durante o “ensino remoto” ou tiveram seus salários reduzidos. Não defendemos o retorno presencial de nenhuma das duas redes – nem privada, nem pública – neste momento de extremo perigo, mas não podemos deixar de avaliar que isso seria desastroso, principalmente, na rede pública, por se tratar de um corpo de estudantes que enfrentam condições mais vulneráveis. Do mesmo modo, também não podemos deixar de denunciar que a lógica dos empresários da Educação não condiz com a realidade da rede pública e com o contexto de alta contaminação e mortes no país.
Escolas públicas da Rede Básica, que já não possuem estruturas adequadas, visto que o sucateamento ocorre há vários anos, agora, estão na condição de receber estudantes e trabalhadoras da Educação sem qualquer reorganização estrutural e investimentos necessários. Em muitos locais, a ida de trabalhadoras e estudantes para a escola têm resultado em vários casos de contaminação, expondo o risco de um retorno sem vacina e sem segurança alguma. Para qualquer ensaio de retorno às aulas ou qualquer atividade presencial, é preciso que se faça modificações estruturais dos espaços das escolas, o que exige investimento orçamentário, planejamento de políticas públicas e construção conjunta escola-comunidades conforme as demandas de cada realidade; é preciso que haja vacinação, pois estudantes e trabalhadoras/es da Educação circularão no espaço da escola e em suas casas, expondo também seus lares e familiares. Mais uma vez, os mais afetados serão os lares do povo pobre.
Exigimos a testagem frequente dos profissionais enquanto não ocorrer vacinação; condições estruturais e de biossegurança contra a COVID-19; vacinação em massa! Precisamos conter o número de infectados e as mortes. Mortes essas que atingem principalmente quem tem a maior falta de recursos, as e os trabalhadores, que estão diariamente expostos ao coronavírus e a outras doenças que podem agravar seu estado de saúde. Estamos na luta pelas nossas companheiras, por testagem e vacinação na comunidade escolar.
Auto-organização e apoio mútuo são base da resistência e sobrevivência das/dos de baixo! Apesar de todo um confluente político e sistêmico que produz nossa miséria e atenta contra nossas vidas, devemos manter vivas as experiências responsáveis pela nossa sobrevivência. A pandemia reafirmou o papel do Estado, que serve aos interesses dos ricos e não ao povo, que trabalha para a manutenção da ordem de exploração e opressão e não da vida. Em meio à omissão, despreparo e descaso do Estado, construímos redes de solidariedade, redes de distribuição de alimentos, remédios e atendimento médico nas favelas, nas periferias, nas comunidades indígenas e quilombolas. Essas experiências foram marcadas por auto-organização e apoio mútuo, construídas com as nossas próprias mãos.
Exigimos nossos direitos! O Estado serve aos capitalistas, aos exploradores, machistas, racistas e LGBTQIAfóbicos. Estamos diariamente na luta, construindo poder popular, pela emancipação do povo pobre, das mulheres, das pretas, das lésbicas, das bi, das trans, de todas nós. Enquanto isso, não podemos morrer de fome, de Covid, de más condições de trabalho, em abortos clandestinos, de violências contra as mulheres, de feminicídio. Por isso, lutamos também pela garantia de direitos neste sistema miserável e omisso. A nossa luta transpassa o 8 de março, é todo dia, porque só a luta diária pode mudar nossas vidas.
Desemprego e panela vazia é revolta na periferia! Somos resistência na luta por vida digna! Mulheres são revolução na LUTA CONTRA AS POLÍTICAS DE MORTE!
COORDENAÇÃO ANARQUISTA BRASILEIRA 8 de Março de 2021
Em 2018, a greve protagonizada pelos motoristas de caminhão parou o Brasil, exigindo garantias e direitos essenciais que são negados para a categoria. Apesar do aparente recuo do governo Temer, na época, as condições de vida não melhoraram de forma significativa.
Agora, dois anos depois, a categoria se mobiliza por uma nova greve. Uma minoria de lideranças, cooptadas pelos interesses do empresariado e do governo Bolsonaro, tenta sabotar a mobilização, virando a classe trabalhadora contra si mesma e promovendo intrigas com o objetivo de dividir a luta. Mas apesar dessas artimanhas, os caminhoneiros e as caminhoneiras mostram unidade e disposição de ir até o fim.
Os dois grandes jornais dos patrões, a Folha e o Estadão, se somam com o MBL para defender a política de Bolsonaro e atacar a greve. Isso mostra que no andar de cima são todos amigos. O Judiciário, agindo como agente da reação, já decidiu em diversos estados para coibir a luta popular.
Está cada vez mais caro viver, e o aumento dos preços também se revela no aumento do combustível, incluindo o diesel. É preciso unidade da classe trabalhadora, de solidariedade entre si, como demonstraram os sindicatos dos petroleiros ao declarar apoio aos/às caminhoneiros/as.
No dia 8 de dezembro de 2008, na abertura do I Encontro Libertário: Anarquismo e Movimentos Sociais, a Organização Resistência Libertária lia seu Manifesto de Criação. (https://resistencialibertaria.org/2016/02/20/manifesto-de-criacao/)
Naquele momento, anarquistas que já atuavam de forma descoordenada no nosso Estado entendiam pela necessidade de organização política para potencializar a militância no plano político e social. Hoje, fruto daquele esforço de nossos(as) fundadores(as), nossa organização completa doze anos de existência. Este período certamente não é muito tempo diante da longa caminhada que nosso povo pobre organizado trilha na construção do poder popular. Nesse cenário, somos uma pequena e recente semente plantada no solo cearense, mas uma semente que se movimenta e dá frutos e, por isso, para nós, esses doze anos significam o nosso esforço enquanto anarquistas organizadas(os) em enraizar nossa ideologia no estado do Ceará.
Nesse período, com muito esforço e dedicação fortalecemos nossa convicção ideológica pelo anarquismo especifista e a luta do nosso povo pobre e oprimido. Nesses doze anos atuamos modestamente na luta do nosso povo construindo desde baixo a resistência daqueles e daquelas que o estado policial de ajuste corta na própria pele, que lutam de forma autônoma e com independência de classe nos bairros e vielas da periferia, nos territórios de povos tradicionais, nas escolas e universidades precarizadas, nos sindicatos e nas organizações de trabalhadores(as) terceirizados(as) e desempregados(as), no cárcere, nos espaços autoorganizados de mulheres, povo preto e população lgbtqi+.
Os últimos anos não foram fáceis para o nosso povo e também para a nossa militância e muitos(as) dos(as) nossos(as) precisaram se afastar. Não somos eternamente fortes nem eternamente fracos na luta popular e mesmo que alguns dos nossos tenham se afastado registramos que foi graças ao esforço que depositaram no nosso projeto, foi graça ao suor e a disposição de cada um de vocês que nossa organização hoje completa doze anos.
Nesse momento de celebração reafirmamos nosso compromisso com o anarquismo organizado e especifista no Ceará e com a luta do nosso povo. Fazemos doze anos em tempos de avanço do fascismo e de neoliberalismo no nosso país, numa conjuntura ofensiva contra nós e nosso povo, mas nem por isso nos ajoelharemos. Desde nossos locais de trabalho, estudo e moradia, no campo e na cidade, estaremos ao lado daqueles que lutam desde baixo para mais um período de resistência.
Hoje queremos agradecer aqueles e aquelas que nessa jornada de mais de uma década dedicaram-se para construir nossa organização. Agradecemos aos(às) que trilharam o início desse caminho, fortalecendo as bases para que hoje pudéssemos estar firmes. Agradecemos aos nossos companheiros e companheiras dos movimentos sociais em que atuamos, que ao nosso lado travam as batalhas do dia-a-dia.
Por fim, registramos que este último ano foi de reorganização em nossas fileiras e coordenação do nosso projeto no Ceará com o fortalecimento da nossa convicção ideológica especifista, sem deixar de lado em nenhum momento a militância social que estrutura nossa atuação como anarquistas. Esse foi um período no qual a Coordenação Anarquista Brasileira teve um papel fundamental de suporte e formação ideológica. Com isso, cada militante de cada uma das organizações políticas que constroem a CAB, sintam um caloroso abraço de agradecimento pela culminância desde ano difícil para nós. A ORL segue sendo a morada do anarquismo especifista no Ceará e está desperta na luta do nosso povo.
“As chamadas leis […] não valem o papel em que estão escritas”, Lucia Gonzales Parsons
Entramos na etapa no segundo turno nas eleições municipais em algumas capitais brasileiras, inclusive Fortaleza. A primeira etapa demonstrou uma caída importante na capacidade da extrema direita comandada por Bolsonaro em gerar vitórias nas urnas, e reativa em setores da esquerda eleitoral a confiança nas instituições da democracia burguesa.
Entendemos perfeitamente a animação de diversos adversários de militantes de outras correntes da esquerda e de companheiros e companheiras que constroem movimentos, e mesmo que não depositemos confiança nem votos nas urnas, também nos parece positivo que parte considerável do povo já não esteja mais tão seduzida pelas mentiras da extrema-direita.
Porém, é necessário dizer: não acreditamos que o processo de desestabilização do país que envolveu um golpe de estado amparado em um malabarismo jurídico que gerou um Estado de maior elasticidade em suas leis para que as classes dominantes possam ter ataques ainda mais duros contra o povo sem empecilhos legais ou constitucionais; o assassinato político de Mariele Franco que também vitimou Douglas; e uma eleição presidencial que se construiu em cima de mentiras e na censura ao antifascismo se resolvam num evento previsto na agenda do Estado.
A confiança que as instituições funcionariam dentro da sua legalidade e a aventura da conciliação de classes levada a cabo pela ex-esquerda foi o que nos trouxe até aqui em primeiro lugar.
O PSOL nacionalmente se mostrou como o atual notável partido da esquerda de maior relevância e foi provavelmente o partido que mais cresceu levando inéditas prefeituras do interior de diversos Estados, incluindo na cidade de Potengi aqui no Ceará da mesma forma que aumentou sua presença nas câmaras brasileiras em 50%.
O PSOL, como o PT, é uma reunião de correntes que disputam entre si a hegemonia do partido. Sabemos que seus quadros se comportam de maneiras diferentes dependendo da corrente em que se encontram. Também sabemos pelo aprendizado histórico que o parlamento é uma máquina de moer princípios e convicções ideológicas. Cabe ver se o PSOL trilhará o fracassado caminho do PT na disposição de construir amplas alianças com o que há de mais retrogrado no país: a profunda exploração econômica, o genocídio negro e indígena levado a cabo pela máquina oligárquica, empresarial e militar que se encontra no parlamento e que sabemos não respeita as leis e o jogo eleitoral.
Por outro lado, a extrema direita Bolsonarista – que pode vir a trocar de liderança – ainda que tenha perdido espaço nas urnas em nível nacional não é um ator que pode passar a ser ignorado, pois conseguiu a formação de um núcleo duro de militantes que demonstrou disposição, disciplina e lealdade canina.
Essa direita nojenta fez experiências de ginástica golpista com motins policiais com claras ligações com o Bolsonarismo em diversos estados governados pela oposição, incluindo o Ceará, e ainda é apoiada por um núcleo de generais incluindo o criminoso de guerra Augusto Heleno responsável pelo massacre de Cite de Soleil no Haiti, por grupos de extermínio por todo brasil e no RJ em particular, um inicio de demonstrações armadas de apoiadores civis e por grupos neopentecostais fanatizados, que dentre outras coisas realizam atentados terroristas em terreiros e demonstraram apoio ao atentado integralista contra a produtora do grupo Porta dos Fundos.
No segundo turno de Fortaleza está o candidato de Bolsonaro que apoiou sucessivos motins policiais desde 2014, inclusive o motim no inicio deste ano, e fez campanha publicamente pela anistia dos policiais assassinos condenados pela Chacina da Grande Messejana em 2015.
Na capital de nosso Estado, o candidato de Bolsonaro enfrenta Sarto – o candidato dos Ferreira Gomes. Este assume a tradição coronelista dos seus padrinhos políticos. Sarto foi vice-presidente da ALCE em 2011, ano em que os professores e professoras da rede estadual entraram em greve e foram duramente reprimidos/as ao ocupar a assembleia legislativa. Sarto também foi líder na ALCE do governo Cid Gomes nos anos de 2013 e 2014, período em que construíamos desde 2010 a luta popular contra as remoções da Copa por projetos do governo do estado que beneficiariam a especulação imobiliária jogando para fora da cidade o povo pobre.
Também nesse período de luta estivemos com milhares de outras pessoas em manifestações das copas das confederações e do mundo e fomos violentamente reprimidos com força policial preparada para uma guerra civil. Não temos memória curta e nem expectativa com eleições.
Reconstruir o tecido social através dos movimentos populares seja no bairro, no trabalho ou nos locais de estudo, é uma tarefa longa e difícil que não exige apenas fazer campanhas de dois em dois anos. A burocratização de parte importante desses movimentos durante os governos petistas e a repressão imposta nos governos de todos os partidos nas esferas municipais, estaduais e federal assim como uma falta de maturidade da esquerda não-parlamentar deixou em frangalhos a capacidade de resistência dos debaixo a qualquer ataque. No máximo respondendo com revoltas momentâneas que pela falta de organização de base não conseguem ter um horizonte palpável ou se traduzirem em um trabalho contínuo, para nós. Ainda que a mais difícil, esta é principal tarefa.
Pela nossa convicção ideológica anarquista e coerência estratégica, não participamos do processo eleitoral. Nós, anarquistas, votamos nas lutas do nosso povo. Votamos na periferia organizada, nos territórios de povos tradicionais ocupados, nos sindicatos e locais de estudo em luta.
Aos companheiros e companheiras que decidiram votar: que as urnas não substituam as lutas
O Ceará é o terceiro estado com mais casos de infectados e mortos pelo coronavírus. No começo, a pandemia se proliferou pelas nas áreas ricas de Fortaleza fazendo com que os políticos logo intervissem declarando a quarentena e isolamento social. (post original http://reporterpopular.com.br/convite-para-a-formacao-do-comite-de-luta-por-vida-digna-no-ceara/)
Sabemos que muitos(as) trabalhadores(as), além dos(as) profissionais
de saúde, tiveram que continuar deixando suas casas para conseguir o seu
sustento e de sua família, pois o Estado com algumas concessões como a
isenção da conta de água e de luz – desde que cumprindo um limite de
consumo impossível para uma família grande – e outras politicas sociais
básicas, não conseguiu garantir o mínimo para que as pessoas pudessem
permanecer em suas casas com suas necessidades básicas supridas. Na
esfera federal, tivemos a aprovação de um auxílio emergencial que além
de ser pouco em seu valor (600,00 podendo chegar a 1.200,00) travou em
burocracias e em uma “situação em análise” eterna que mais parece falta
de vontade do governo federal.
Nessa conjuntura e com uma grande quantidade de trabalhadores(as)
informais, não é possível respeitar o isolamento social se isso
significa deixar faltar a comida na mesa. Enquanto os patrões estão
preocupados com seus lucros, nos estamos preocupados com nossas vidas.
Hoje, com a pandemia mais controlada nos bairros nobres da capital e a
morte aniquilando vidas nas periferias e nos territórios de povos
tradicionais, os políticos se apressam em reabrir o comércio, pois estão
preocupados com o lucro de quem paga por suas campanhas, tentam passar
ao nosso povo uma ilusão de controle, mas a realidade para aqueles(as)
que dependem do SUS, é que ele está sobrecarregado.
Mas a covid-19 não é o único mal que adoece a população cearense. A
inflação de Fortaleza no ano de 2020 está sendo a maior de todas as
capitais do Brasil. Percebemos a alta principalmente na nossa comida
além disso ainda temos que pagar aluguel, água, gás e energia. A
prefeitura distribui cestas básicas produzidas com os alimentos que
seriam consumidos nas escolas municipais e o governo estadual cria um
vale-merenda escolar no valor de R$ 80,00 para estudantes da rede
estadual sendo que os estudantes dos municípios pequenos do interior do
estado não receberam sequer esse vale que sabemos não dar para a
alimentação do mês!
Comida cara e pouco dinheiro, várias contas pra pagar e sem emprego
formal, nosso povo encontra como única saída a informalidade que não
conhece limitações de vírus ou saúde. Para muitos de nós é preciso estar
todos os dias nas ruas trabalhando, colocando em risco nossa saúde e da
nossa família. Por tudo isso, queremos construir no Ceará a campanha de
luta por vida digna. Dia 27 de junho, convidamos todas e todos para uma
reunião aberta às 10h, através da plataforma zoom!
Exigimos a entrega de vales ou cestas básicas para todos os
estudantes da rede pública de ensino de todos os municípios do Ceará! Fim da cobrança de luz e água para famílias de baixa renda! Anulação de dívidas para aqueles que perderam emprego! Garantia de renda básica para todos(as) os(as) trabalhadores(as)!
Desde o dia 02 de janeiro Fortaleza, Cidades da Região Metropolitana e no interior do estado, sofreram uma série de ataques a veículos e órgãos públicos (incêndios e explosões) organizadas por facções em retaliação à fala do novo Secretário de Administração Penitenciária, Luiz Mauro Albuquerque. Em sua fala, o Secretário, vestindo farda, afirmou não reconhecer facções e como medida prática acabar com porte de celulares, com pernoites e com a separação por facção nos centros penitenciários.
Acabar com a separação por facções nos presídios pode ocasionar um massacre nos moldes dos ocorridos no Rio Grande do Norte em 2017 ou uma união e fortalecimento do crime organizado como nunca antes visto. Aliás, Mauro Albuquerque foi Secretário de Justiça e Cidadania do Rio Grande do Norte e é conhecido por sua “doutrina”: restringir qualquer contato entre agentes penitenciários e internos. Olhar, levantar-se, falar sem autorização, tudo é proibido nos presídios onde o Secretário opera. Trancas, algemas, armas, desnudamento e humilhação são a tônica. Esta lógica cria um ambiente de extrema insegurança. Qualquer conflito tende a ser respondido com violência e nada se torna previsível ou evitável. O próprio secretário foi acusado de tortura, mas a acusação foi arquivada pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte. Nos presídios potiguares, o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura e outros órgãos federais têm registrado uma tortura similar à feita pelos EUA em Abu Ghraib, Iraque.
Enquanto as mortes acontecem sem cessar nessa guerra armada, os militares e políticos nada falam sobre aumentar o trabalho para internos, direito assegurado na Lei de Execução Penal (LEP), que no CE é de apenas 5% e RN 1%, ou de oferecer oportunidades de trabalho digno. Também não se fala em educação para internos, direito também assegurado na LEP, que no CE é de apenas 7% e RN 2%, ou oferecer oportunidades de formação e profissionalização.
Com mais de 90 ataques, incluindo a tentativa de explodir um viaduto, a ação do crime organizado trouxe à cena a força que estas facções têm no Ceará. Do outro lado, 371 novos policiais militares foram empossados e 2080 agentes das forças nacionais chegam ao estado (1.500 militares das Forças Armadas Brasileiras (FAB), 500 policiais da Força Nacional de Segurança e 80 agentes penitenciários da Força de Intervenção Penitenciária). Essa ação monta uma guerra ostensiva que tem caráter imediato, mas que não resolve o problema. Não é a primeira vez que a cidade é paralisada por conflitos entre Estado do Ceará e crime organizado, instalando-se pelos dois lados o medo e o terror ovacionado pela mídia e capaz de legitimar no inconsciente coletivo as piores chacinas de vidas “não vivíveis” ou “menos vivíveis” para a ordem capitalista racista. Nessa guerra, quem sofre é o povo pobre e não apenas no cenário atual, mas há longo tempo.
Fortaleza é a capital com mais homicídios de adolescentes do Brasil, com Índice de Homicídios na Adolescência (IHA) de 10,94%, segundo o estudo Trajetórias Interrompidas, divulgado pelo UNICEF, resultado do trabalho do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência. Muitas desses assassinatos são anunciados, pois mais de 50% dos adolescentes vítimas de homicídio haviam sido ameaçados antes de ser mortos. Em quase metade (46%) dos 146 casos analisados na Capital, esses adolescentes haviam cumprido alguma medida socioeducativa. Nas demais cidades pesquisadas, esse percentual é de pouco mais de um terço (35%). Ainda segundo o estudo Trajetórias Interrompidas, a grande maioria das vítimas de homicídios são meninos (97,95%) e negros ou pardos (65,75%). O estudo mostra que 67,1% viviam em lares com renda familiar entre um e dois salários-mínimos, enquanto 68,7% eram beneficiados pelo programa Bolsa Família. Além disso, Fortaleza é considerada a segunda cidade mais violenta do Brasil e a sétima do mundo, segundo estudo divulgado em março de 2018 pela ONG do México “Seguridad, Justicia y Paz”.
O perfil dos jovens mortos atendem ao critério de raça e classe: são jovens pretos e pobres. As facções são o espantalho que respondem por cadáveres que nunca viram. Os jovens que morrem na periferia podem nunca ter passado por uma facção, mas a justificativa sempre será a mesma, para legitimar os “autos de resistência” que fazem vítimas dezenas de jovens por dia no Ceará.
O problema da violência, que para o Estado vem na figura do “inimigo”, esconde por trás da lógica de guerra, uma crise complexa. A política de drogas aliadas ao direito penal brasileiro aprisionam mais de 29 mil pessoas no Ceará. Métodos como a velha crença na punição e no encarceramento nunca deram certo e sabemos; vejam só a superlotação dos presídios, nós temos a 3ª maior população carcerária do mundo e 67% desses presos e presas são Negros e Negras, segundo o próprio Ministério da Justiça. Com superlotação em todos os presídios, cerca de 53% dos presos são de regime provisório, que em teoria deveriam esperar julgamento em liberdade, mas que enquanto isso, o Estado prefere gastar em média R$ 2.400, por preso, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Em relação à escolarização, os dados indicam que oito em cada 10 presos estudaram, no máximo, até o ensino fundamental. Com isso percebemos que é o povo pobre, preto e marginalizados que lotam os presídios, e que historicamente teve serviços sociais negados.
Já está mais do que óbvio que estes métodos não foram criados para solucionar nada, eles fazem parte de um sistema caótico de criminalização da pobreza e com ela, um controle do povo Pobre e Preto para o desfrute dos burgueses ricos, em sua maioria homens brancos. Mais do que um jogo entre bem e o mal, justificando a repressão de cima pra baixo, os donos do mercado mais lucrativo do mundo, o tráfico de drogas, que pode chegar a 2 Trilhões de dólares por ano, não têm nenhum interesse pela sua saúde. Não há um tipo de poder paralelo do crime, quando está se falando entre os de cima, o estado é mais do que cúmplice nessa história, o que não pode nos espantar em um mundo capitalista onde ganhar dinheiro é a única regra.
E ao contrário das forças policiais e dos programas policialescos, devemos diferenciar os grandes traficantes dos pequenos (os varejistas). No presídio feminino do Ceará, Auri Moura Costa, aproximadamente 60% dos casos são por conta de tráfico de drogas. As mulheres acabam ocupando postos secundários na estrutura do tráfico e passam também pela rotina de lotação. Em sua maioria, são analfabetas funcionais e “segundo dados da Pastoral Carcerária, cerca de 85% dos homens presos recebem visitas femininas, de suas companheiras, de suas namoradas, suas esposas, enquanto apenas 8% das mulheres continuam recebendo visitas”. (Informativo Fábrica de Imagens, Edição nº 9, 2012)
A polícia matou mais na guerra às drogas, do que todas as substâncias psicoativas juntas. A causa de morte aqui é ser pobre e negro, podendo ser criminalizado/a por estar com algum “bagullho” no meio da noite nas periferias ou então ser “agraciado” com um kit flagrante pela PM – kit composto por alguns materiais que tem o objetivo de incriminar os/as periféricos/as, como foi o caso do Rafael Braga, jovem negro e pobre que, em janeiro de 2016, foi preso com flagrante forjado.
A postura do governo do estado do Ceará em enfrentar o crime através da militarização das ruas, encontra guarita na nova política do Governo Bolsonaro, mesmo sendo de campos políticos que se confrontam diariamente. Camilo Santana (PT) pretende dialogar com Bolsonaro (PSL) e para isso acaba de criar um cargo específico de interlocução entre o Governo do Estado e o Governo Federal. Por isso, nós anarquistas insistimos que a política eleitoral é uma farsa. Sabemos que o resultado é sempre o massacre e o extermínio da juventude pobre e preta seja nas favelas ou nos presídios, sejam de facção ou não.
O crime e o Estado Policial têm lugar certo para atuar e pessoas certas para matar. Em nenhum deles encontraremos soluções para a vida. Há de se lutar nas comunidades, periferias e favelas de forma autogestionária, horizontal e por ações diretas. A cada ação, buscar fortalecer o povo oprimido e consolidar nossa força, construindo o poder popular. Deste modo, se hoje estamos acuados, é preciso nos mantermos firmes na resistência, sempre a caminho da revolução que trará um mundo novo, mais justo, livre e igual para todos e todas.
Organização Resistência Libertária
07 de Janeiro de 2019
A todos os/as companheiros/as que fizeram parte dessa caminhada,
A Organização Resistência Libertária completou 10 anos de existência. Sabemos que diante da conjuntura política pela qual passamos, existir e atuar de forma pública com um programa revolucionário de transformação social radical, antiautoritária e anticapitalista, é, por si só, uma
razão de RESISTÊNCIA!
Nossa resistência tem caráter libertário, fundada na coerência anarquista entre os meios e os fins. Nossa resistência coloca que quando resistimos ao capitalismo cruel e sanguinário, resistimos as ilusórias promessas autoritárias de libertação.
Asseveramos o que diz George Orwell: “Aqueles que renunciam à liberdade em troca de promessas de segurança acabarão sem uma nem outra”. Esse tempo modesto tem amplo significado para todos aqueles/as que fazem ou já fizeram parte de nossa luta, tanto para nossas vidas pessoais como
para a experiência organizada de luta anarquista no Ceará. São 10 anos de enfrentamento organizado ao machismo, ao racismo, às LGBTTfobías, à concentração fundiária, ao avanço do latifúndio sobre territórios indígenas e quilombolas à especulação imobiliária, à segregação
sócio-espacial nas cidades, ao cárcere, à guerra às drogas e ao nosso povo preto e à exploração da classe dominante sobre o povo pobre.
Em meados de 2007, uma experiência de luta de muitos/as estudantes secundaristas e universitários/as se unia à experiência organizativa de muitos/as militantes anarquistas que há longos anos movimentava a luta libertária nestas terras cearenses. Naquele cenário, prosperou a
fraternidade necessária e a vontade de fazer crescer um coletivo independente das forças/partidos políticos existentes até ali, que na nossa avaliação, representavam mais prejuízos que benefícios aos
movimentos sociais, retirando-lhes potência e ação.
Recordamos com orgulho do dia 8 de dezembro de 2008, na abertura do I Encontro Libertário: Anarquismo e Movimentos Sociais, quando a Organização Resistência Libertária lia seu Manifesto de Criação, após um 1 ano e dois meses de formação política. A partir daí, nossa Organização
foi palco de diversos sonhos, de diversos rostos e cada um/a deles/as foram fermento impulsionador de outros sonhos, de novas pilastras fincadas. Agradecemos aos velhos e novos rostos, aos/às apoiadores/as que cada um/a com sua contribuição fizeram parte de nossa história. Cada um/a participou de um processo coletivo e sinérgico de muita discussão política, revezando-se na difícil tarefa de diálogo e construção de laços de uma unidade possível.
Diante dos resultados de todos esses anos, enchemos nossos peitos de alegria ao lembrar de toda história de luta ombro a ombro entre nós e com os movimentos sociais que participamos. No entanto, é preciso sempre relembrar que nossa história não é triunfalista. É preciso ter coragem,
sob tantos os ângulos, para afirmar nossos acertos e principalmente nossos erros. Afinal, foram muitos destes erros que nos fizeram amadurecer e prosseguir, dirimindo traumas e construindo um espírito de luta coerente com nossa caminhada.
Seguiremos mantendo a resistência libertária diante dos ataques aos direitos do nosso povo oprimido e do projeto monstruoso neoliberal e neofascista que se instalou no Brasil. Seguiremos mantendo a resistência à “esquerda”, mas diferenciando-se desta esquerda que vendeu-se
completamente aos interesses do capitalismo e da classe dominante, que girou todos os seus esforços para a política eleitoreira e que colocou o povo em uma passividade diante da falsa representatividade democrática.
Sempre lutaremos lado a lado com os/as de baixo. Seguiremos caminhando, mesmo que a passos modestos, no caminho cada vez mais próximo da construção do poder popular, no sentido de fazer crescer um povo forte e rumo à revolução social que almejamos. Como nosso projeto jamais seria possível concentrado apenas no Estado do Ceará, é importante mencionar a título de agradecimento, as organizações políticas que constroem conosco o mesmo projeto libertário.
Agradecemos aos companheiros e às companheiras da Coordenação Anarquista Brasileira (CAB), nomeadamente as organizações: Federação Anarquista Gaúcha (FAG/RS), Rusga Libertária (RL/MT), Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ/RJ), Federação Anarquista dos Palmares (FARPA/AL), Coletivo Anarquista Luta de Classes (CALC/PR), Organização Anarquista Socialismo Libertário (OASL/SP), Coletivo Anarquista Bandeira Negra (CABN/SC), Federação Anarquista Cabana (FACA/PA), Coletivo Mineiro Popular Anarquista (COMPA), ao Fórum Anarquista Especifista da Bahia (FAE/BA), Organização Anarquista Maria Iêda (OAMI/PE) e Coletivo Mutirão Anarquista (COMUNA) – PB. Agradecimentos especiais ao Movimento Social FOME, de Sobral, pelo companheirismo durante todos esses anos.
Viva a Organização Resistência Libertária!
Lutar, Criar, Poder Popular!
Organização Resistência Libertária 01 de janeiro de 2019