“A imprensa é tão poderosa no seu papel de construção de imagem que pode fazer um criminoso parecer que ele é a vítima e fazer a vítima parecer que ela é o criminoso. Esta é a imprensa, uma imprensa irresponsável. Se você não for cuidadoso, os jornais terão você odiando as pessoas que estão sendo oprimidas e amando as pessoas que estão fazendo a opressão.”
Malcolm X
Ocorreu em Fortaleza no último dia 29 uma manifestação pública dos trabalhadores gráficos do Ceará em frente à sede do jornal Diário do Nordeste (imprensa corporativa), próximo à Praça da Imprensa. Os gráficos do setor de jornais e revistas estão em greve desde o dia 18 de maio, por melhores condições de vida e trabalho para a categoria, uma das mais sofridas e exploradas no estado. No decorrer da manifestação, os trabalhadores do Sindicato da Construção Civil da Região Metropolitana de Fortaleza – em greve há 24 dias (desde o dia 07 de maio), que se dirigiam em caminhada à Assembleia Legislativa, resolveram somar-se aos gráficos, num ato de solidariedade.
Durante o protesto, que transcorria de forma organizada e tranquila, um segurança particular do Diário do Nordeste provocou um dos manifestantes, pegando uma pedra e insinuando atirá-la contra os trabalhadores. Diante disso, os manifestantes perderam a paciência e responderam com uma ação direta espontânea, quebrando uma porta de vidro da recepção do jornal, que até então estava fechada e com vários seguranças impedindo qualquer pessoa de entrar ou sair. Diferente do que diz o jornal, “apurando” os fatos de forma antiética, ninguém foi atingido ou ficou ferido.
Os gráficos perderam a paciência não apenas com as provocações e insinuações do segurança do jornal. Há vários dias os trabalhadores estavam em greve e os jornais da grande mídia do Ceará (entre eles O Povo e Diário do Nordeste) não davam a mínima atenção às reivindicações da categoria, tratando-os com desprezo. O sindicato dos gráficos procurou por diversas vezes os responsáveis pelos jornais para abrir um canal de negociação, que foi negado, em atitude de total indiferença com os grevistas.
Nos dias anteriores e após o início da greve, a situação foi ficando mais tensa nas sedes dos jornais e nos locais de trabalho. Os trabalhadores gráficos foram provocados por seus superiores, que cometeram vários atos de ilegalidade, efetuando uma verdadeira perseguição política. Praticaram violência simbólica, psicológica e verbal contra os trabalhadores, fazendo ameaças de demissão aos que se envolvessem na greve, confinando trabalhadores dentro das dependências do jornal e substituindo os grevistas por gráficos vindos de outros locais, inclusive do interior do estado. Todas práticas ilegais e que ferem frontalmente o direto de greve assegurado a todos os trabalhadores. Além disso, na tentativa de intimidar os trabalhadores e impedir o exercício do direito de greve, foram contratados seguranças armados com armas de fogo para vigiar a entrada da sede dos jornais.
No momento, a imprensa mercenária (como chamavam acertadamente os trabalhadores gráficos do Ceará há mais de cem anos) e seus jornalistas fazem uma campanha difamatória e caluniosa, criminalizando os trabalhadores pela ação realizada, taxando os gráficos e os trabalhadores da construção civil de “vândalos”, “bárbaros”, “agressores”, “selvagens”, “maus sindicalistas” e várias outras palavras negativas. A tentativa é de construir uma imagem dos trabalhadores em greve como violentos, desordeiros, criminosos e promotores do medo.
Os trabalhadores gráficos escreveram uma nota em conjunto com os trabalhadores da construção civil, na qual expõem sua versão do ocorrido à sociedade. A nota (que pode ser vista logo abaixo), assim como outras informações, encontra-se no site do Sindicato dos Trabalhadores Gráficos do Ceará (www.sintigrace.org.br). Os gráficos e trabalhadores da construção solicitam solidariedade de todos os movimentos sociais, organizações, grupos e das pessoas sensíveis do mundo, nesse difícil momento de perseguição e criminalização, que vai se desdobrar em ações judiciais, demissões e retaliações das mais variadas formas.
Toda solidariedade aos trabalhadores gráficos em greve!
Pela solidariedade de classe entre os trabalhadores em luta!
Contra toda forma de criminalização dos movimentos sociais e do protesto popular!
Alexandre Buenaventura
Nota dos Trabalhadores Gráficos e Trabalhadores da Construção Civil
QUANDO A LIBERDADE SERVE APENAS PARA UM GRUPO SOCIAL, NÃO É LIBERDADE DE IMPRENSA E NEM LIBERDADE PLENA |
Nos últimos, 23 dias de greve dos operários da construção civil e 13 dias de greve dos trabalhadores gráficos, vimos claramente a quem servem os donos da mídia, e não é a sociedade como um todo. A mídia de uma sociedade democrática deve primar por princípios éticos que garantam transparência e primem pela verdade dos fatos. Boa parte da mídia no Ceará, prima por seus próprios interesses econômicos e sociais. Repetindo uma velha forma de reprodução do discurso hegemônico sobre os movimentos sociais: A total exclusão ou a criminalização. Em 13 dias de greve dos trabalhadores gráficos, a sociedade só obteve informação desse processo de luta quando foi interessante responsabilizar uma categoria inteira e sua direção sindical por um ato motivado pela segurança da própria empresa. A luta dos gráficos não existia, ao menos para os leitores cearenses, por que para a categoria que enfrentou práticas ilegais como substituição de grevistas e até o confinamento, ela existe e serve para que pais e mães de família lutem por melhores condições de vida e de trabalho. E em 23 dias de greve dos operários da construção civil, vimos como é possível a criminalização de um movimento. Embora, a direção da entidade repita constantemente que não incentiva violência, que não fornece bebidas alcoólicas e que defende a liberdade de imprensa. O que vemos é a constante reprodução de noticias que tratam os grevistas como baderneiros, vândalos e bêbados. Chegou-se ao ponto, de se mostrar um trabalhador fumando cigarro Maratá e insinuar que se tratava de um cigarro de maconha. Imagens de antigos processos de luta são utilizadas para insinuar quebradeira, imagens de funcionários do sindicato fechando um portão são usadas com o mesmo intuito. Uso de câmeras ocultas. Alegações de agressão e vandalismo, sem comprovação de imagem. E tantas outras formas de manipulação da informação que já foram denunciadas em nota pela entidade sindical. Generalizam-se as exceções. E o que as entidades solicitam? Que mostrem o que está errado, mas não esqueçam a imparcialidade, consultem os dois lados e não acusem sem provas. Mas, ontem (29/05) a superação de como a imprensa pode julgar fatos chegou ao seu ápice, buscaram declarações de personalidades do Estado, que se pronunciaram sem ao menos ouvir os dois lados, e, diga-se de passagem, pessoas que em tanto tempo de luta desses trabalhadores, jamais se manifestaram em defesa dessas categorias. Por que, nenhum desses entrevistados questionou as 28 mortes acontecidas nos canteiros de obra de 2011, até hoje? Por que nenhuma delas questionou por que foram substituídos os grevistas gráficos com contratação de outros trabalhadores? Por que em nenhum momento colocaram-se na defesa da luta dos trabalhadores, ou pediram que os patrões mostram-se mais dispostos em negociar? Quanto ao dia de ontem, mais uma vez, vimos como uma história pode ser construída. Através desta nota, tentamos esclarecer a sociedade e aos jornalistas (trabalhadores), sobre os fatos: 1- O trio elétrico da entidade, onde se encontravam a direção das entidades, cruzava a rua lateral do jornal, quando teve inicio o confronto entre a segurança contratada pelo Diário do Nordeste e alguns trabalhadores; 2- O confronto foi iniciado, pois segundo informações colhidas pela direção do sindicato junto aos trabalhadores, um segurança do jornal teria tirado uma pedra do jardim e chegou a ser orientado para trocar por uma maior; 3- A tentativa de segurar uma pedra, foi impedida por um trabalhador que segurado pelo braço, foi sendo arrastado para o interior do jornal; 4- Foi quando a categoria enfrentou a segurança; 5- Mesmo assim, o presidente do Sindicato dos Gráficos pegou o microfone do carro de som e gritando aos manifestantes pediu que as categorias recuassem e não caíssem em qualquer tipo de provocação; 6- Membros da direção do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil fizeram com seus corpos uma corrente de proteção ao Diário do Nordeste para conter a situação, ironicamente a foto dos dirigentes fazendo a corrente foi capa do próprio jornal; 7- O assessor político do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, Valdir Pereira, nunca esteve no local, ao contrário do que foi publicado. Apesar desta cobertura fora dos códigos de ética da profissão dos jornalistas. As duas entidades sindicais mais uma vez vêm a público afirmar, que não incentivam violência contra jornalistas e são defensores da liberdade de imprensa (o que é diferente de liberdade de mentira ou de liberdade de empresa). A revolução não será televisionada… Sindicato dos Gráficos do Estado do Ceará Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil da Região Metropolitana de Fortaleza |