out 272017
 

NOTA EM SOLIDARIEDADE À FEDERAÇÃO ANARQUISTA GAÚCHA

A atual conjuntura política tem sido dramaticamente sentida pela população brasileira. Isso tem se dado primeiramente pela retomada da cartilha do liberalismo (arrocho fiscal e cortes nos direitos sociais) e, principalmente, pela podridão parlamentar, que legitima os atos do governo golpista de Temer e seus criminosos. Tudo isso, com o silêncio profundo do judiciário, o mais acentuado corrupto dos poderes.

Independente de todo esse estado de coisas e contra tudo isso, as ruas se movimentam. Malgrado a letargia da população que muitos apontam ante os escândalos diários da política nacional, são muitos os movimentos sociais que teimam em se manter de pé de norte a sul desse país. Movimentos sociais e organizações políticas de esquerda resistem e lutam diariamente, ombro a ombro com a população nos campos e nas cidades. Nesse embate feroz com os “de cima”, a criminalização das lutadoras e dos lutadores é uma regra. Muitos de nós somos presos(as) e mortos(as), como signos que somos das injustiças sociais desse país e do mundo.

A Organização Resistência Libertária, integrante da Coordenação Anarquista Brasileira, vem a público se solidarizar com os nossos irmãos e irmãs da Federação Anarquista Gaúcha, assim como com a Ocupação Pandorga da Azenha e do Movimento Parrhesia, que no último dia 25 de outubro tiveram seus espaços invadidos pela Polícia Civil e tiveram suas publicações e equipamentos de trabalho sequestrados pela operação repressiva do governo gaúcho.

Chamamos atenção ainda, uma vez mais, para a grave perseguição ideológica que o Anarquismo tem sofrido, sobretudo nos últimos anos. É preciso denunciar em voz alta a ação criminosa da polícia gaúcha, via forja de provas e a perseguição política e ideológica. Agora a criminalização se abate sobre nós, anarquistas, amanhã será também contra todos e todas que sonham e criam todos os dias a necessária transformação social dessa sociedade. E por esse motivo é preciso afirmar sempre.

LUTAR NÃO É CRIME!!!

CONTRA A CRIMINALIZAÇÃO DO ANARQUISMO E DA ESQUERDA!!!

RODEAR DE SOLIDARIEDADE OS(AS) QUE LUTAM!!!

Organização Resistência Libertária (ORL/CAB)

26 de outubro de 2017

 

out 262017
 

Ficamos sabendo há poucas horas de uma operação da polícia civil contra um suposto grupo responsável por diversos ataques contra viaturas policiais, banco, concessionárias de veículos, delegacias e sedes de partidos políticos. Segundo notícia divulgada no G1, serão atribuídos a este suposto grupo os crimes de formação de quadrilha, uso de explosivos e tentativas de homicídio. O endereço da nossa antiga sede pública, localizada na Travessa dos Venezianos, foi invadido pela polícia que apreendeu computadores, telefones, livros e outros pertences do grupo cultural que mantinha o espaço. Ficamos sabendo que o mandado era endereçado à nossa Organização. Outros locais político-culturais também receberam “visita” da polícia civil.

Trata-se de mais um FACTÓIDE que pretende criar um espantalho, um bode expiatório, para criminalizar e reprimir o conjunto dos movimentos sociais e da esquerda não-eleitoral e em específico a nossa ideologia. Em uma conjuntura de retirada de direitos, de ajuste fiscal, de intensificação da exploração e da dominação sobre o conjunto das classes oprimidas, a mão pesada da criminalização contra os e as anarquistas entra em cena.

Ainda não tivemos nosso local público invadido, mas acreditamos que pode ser só questão de tempo. Alertamos o conjunto dos e das lutadoras sociais sobre isso e sobre a necessidade de SOLIDARIEDADE a todos e todas que lutam!

NÃO SE INTIMIDAR!
CONTRA A CRIMINALIZAÇÃO DOS QUE LUTAM!
RESISTÊNCIA E SOLIDARIEDADE!

Federação Anarquista Gaúcha – FAG
25 de Outubro de 2017

out 222017
 

AS MULHERES NA REVOLUÇÃO RUSSA: MEMÓRIA E RESISTÊNCIA NO CENTENÁRIO

Cem anos nos separaram da convulsão social que deu origem à Revolução Russa. Seus efeitos foram sentidos em todo o globo e influenciaram diversos outros processos revolucionários com suas ideias. No Brasil, a Greve Geral de 1917 teve profunda influência da Revolução Russa, com a atuação predominante de anarquistas. A influência também se deu em relação ao método, a partir do que alguns chamaram de “Soviete do Rio”, que foi uma tentativa de insurreição anarquista no Rio de Janeiro, reproduzindo aqui o que fora a “tomada do palácio de inverno”.

Com o passar dos anos, ficou claro que a Revolução estaria hegemonizada pelos bolchevistas, mas sabemos que o desenvolvimento do processo revolucionário, bem como o início da construção de uma nova sociedade naquele momento histórico, teve a participação de anarquistas: nos sovietes, nos exércitos e na imprensa revolucionária. O desenvolvimento da Revolução não estava dado a priori e vários projetos revolucionários foram envolvidos e disputados na luta contra o capitalismo e o czarismo.

A maior força anarquista se concentrou na organização dos sovietes, que eram órgãos de união e coordenação das lutas operárias em escala local, inicialmente autônomos, e na Maknovitchina, na Ucrânia, com organizações populares, assentamentos de camponesas e camponeses e um exército organizado por Makno.

Sem dúvidas, quando pesquisamos sobre anarquistas se organizando na Revolução Russa, as fontes nos levam a uma história protagonizada por homens, fruto da supremacia masculina. Não se trata de negar a importância dos companheiros para o processo revolucionário, mas urge tirar do silenciamento a história e o papel das mulheres-militantes na Revolução.

Lançando um olhar mais atento e feminista para a Revolução Russa, enxergamos a presença e o envolvimento das mulheres em várias pautas: patriarcado, equiparação de salários, violências machistas, relações afetivas, matrimônio, maternidade, saúde da mulher, descriminalização do aborto etc.

Além disso, as mulheres da Revolução Russa desafiam concepções constantes nas organizações políticas da esquerda: que mulheres militam, pesquisam e produzem apenas sobre questões de gênero. Aqui, vemos mulheres anarquistas discutindo, planejando e marcando posições políticas em diversas questões: sobre o triunfo da Revolução; a necessidade e a problematização das alianças; a organização dos sovietes; o enfrentamento ao bolchevismo; a luta armada na Maknovitchina; a necessidade de organização de anarquistas; a posição que anarquistas deveriam ter na Primeira Guerra Mundial etc.

Para essas mulheres, não existia um etapismo que secundarizava a luta pela emancipação da mulher. Não há também, para nós, a escolha entre a nossa emancipação e um projeto revolucionário “maior”. Nossa luta faz parte deste projeto revolucionário e para nós só há sentido em lutar pelo socialismo libertário se estivermos lutando pelo feminismo. E sabemos que devemos construir essa luta a partir do dualismo organizacional trazido a nós pelo especifismo: na organização política e nos movimentos sociais.

Queremos, com esse pequeno texto biográfico,saudar a memória e a resistência de nossas ancestrais: mulheres feministas e anarquistas que lutaram contra o capitalismo, o Estado e o patriarcado. Para isso, escolhemos cinco mulheres: Maria, Marie, Fania, Ida e Emma.

Saudações Feministas!

Saudações Anarquistas!

Construir Mulheres Fortes!

Construir um Povo Forte!

 

 

Maria Grigovena Nikiforova

Comandante Anarquista na Ucrânia

Maria GrigovenaNikiforova, ou Mariucha, como era conhecida, nasceu em Alexandrovsk, atual Zaporizhia, na Ucrânia, em 1885. Começou a trabalhar fora de casa aos 16 anos, passando por diversos e breves empregos, até encontrar trabalho em uma fábrica de bebidas, localizada em uma área da cidade que vivia as contradições sociais de um processo de industrialização recente.

A partir de seu trabalho e organização na fábrica, encontrou um grupo anarco-comunista com o qual passou a militar e onde esteve envolvida com saques para financiá-lo. Durante uma dessas atividades, foi presa pela polícia e acusada de assassinar um policial e participar de uma série de expropriações. Em 1908, foi condenada a morte, mas sua pena foi substituída por 20 anos de trabalho forçado, inicialmente cumpridos em São Petersburgo e depois na Sibéria, após ser banida. Na Sibéria, organizou rebeliões na prisão e conseguiu fugir para Japão e EUA, ajudada financeiramente por companheiros anarquistas.

Nos EUA, encontrou um grupo de anarquistas russos exilados e escreveu através de vários pseudônimos na imprensa libertária. Em 1913, instalou-se em Paris, onde teve contato com artistas, demonstrando interesse por pinturas e escrituras. Nesse período, uniu-se com o anarquista polonês WitoldBzhostek. Além disso, participou, em Londres, de uma conferência de anarco-comunistas russos exilados, sendo representante de uma das 26 delegações.

Em 1917, chegou em Paris a notícia do início da Revolução Russa e Mariucha seguiu para Petrogrado. Na Rússia, participou de reuniões em Kronstadt, instando os marinheiros a se rebelarem contra o governo provisório. Em julho de 1917, voltou à Ucrânia, onde, em Alexandrovsk, juntou-se a Nestor Makhno, para participar de uma manifestação em 29 de agosto de 1917.

Em setembro de 1917, Mariucha liderou soldados que cercaram o quartel-general do exército. Após o saque, ela determinou que os comandantes fossem executados e que as armas capturadas fossem enviadas ao exército Makhnovista, ocasião em que foi presa. No dia seguinte, foi convocada uma grande manifestação para sua liberdade, à qual Mariucha se referiu instando os trabalhadores a lutar por uma sociedade livre de toda autoridade.

Após a revolução de outubro, Mariucha se uniu ao Exército Negro, assumindo as unidades cossacas. Sua aliança com o exército Makhnovista lhe rendeu dois processos montados por pelos bolcheviques: um por insubordinação e outro por saques em 1918 e 1919.

Em ambos os julgamentos, contou com ajuda da amiga e feminista bolchevique Kollontai e do amigo bolchevique Antonov-Ovseenko, que havia conhecido em Paris. Mesmo assim, foi proibida de exercer qualquer cargo político ou comando por um ano. Voltando para Makhnovicthina, foi mantida como membro importante do exército, mas como Makhno não queria violar sua aliança com o Exército Vermelho, ele se recusou a lhe conceder qualquer posição de comando.

Com o ataque à Makhnovicthina pelos Exércitos Branco e Vermelho, a situação ficou insustentável. Diante de uma guerra em duas frentes, Maria e seu companheiro WitoldBzhostek organizaram um grupo de lutadores para combater o Exército Branco em Sebastopol, onde foram presos em 11 de agosto de 1919 e fuzilados.

Fontes: 

http://www.blackcatpress.ca/atamansha.html

http://www.katesharpleylibrary.net/t76jvf

Emma Goldman

A anarco-sindicalista mais perigosa dos EUA

Emma é certamente, no Brasil, a mais conhecida mulher anarquista que militou na Revolução Russa. Muito provavelmente devido à grande temporada que viveu nos EUA e à profunda influência no anarco-sindicalismo latino-americano, há muito material sobre Emma em espanhol e em português, o que facilita a pesquisa e a produção sobre essa grande mulher. Emma nasceu em Kaunas, na Lituânia, em 1869, e faleceu em Toronto, no Canadá, em 1940.

Embora Emma tenha nascido no Império Russo, ainda muito nova emigrou para os EUA, em 1885. Em Nova York, trabalhou em fábricas de costura, onde conheceu e começou a fazer parte de movimentos anarco-sindicalistas. Ficou conhecida por suas conferências que reuniam milhares de pessoas e por seus incontáveis ensaios publicados na imprensa anarquista local, mesmo com as inúmeras barreiras impostas pelo patriarcado e enfrentadas pelas mulheres-militantes para que pudessem se organizar e ter voz ativa nos sindicatos. Em 1906, fundou o jornal anarquista Mother Earth.

Seus textos tratavam sobre o anarquismo, os problemas sociais, o anarco-sindicalismo, a necessidade de organização e também sobre a luta, a vida e a emancipação das mulheres na militância e nos espaços domésticos. Emma tem o mérito de ter invadido os espaços privados dos relacionamentos sem pedir licença, sem acatar a tese de que o que ali acontecia deveria ser secundarizado em prol de um projeto revolucionário “maior”. Emma se preocupou em escrever e problematizar as mais sutis relações de violências machistas em espaços domésticos, de trabalho e de militância, atribuindo a libertação da mulher como elemento necessário para a libertação da humanidade.

Emma conheceu, nos EUA, Berkman, que também era anarquista e se veio a se tornar seu amante e companheiro pelo resto da vida. Em 1982, Berkman e Emma planejaram o assassinato do industrial Henry Clay Frick. Como resultado, Berkman foi condenado a 22 anos de cadeia.

Emma seguiu na construção da luta sindical por anos, sendo condenada por incentivar motins nos sindicatos, distribuir ilegalmente informações sobre métodos anticonceptivos e incentivar a não-filiação militar, o que ocasionou sua prisão por dois anos. Em 1918, o Governo dos EUA editou o segundo Ato de Exclusão Anarquista, deportando Emma junto com centenas de outros militantes para a Rússia.

Inicialmente simpatizante da Revolução Bolchevique, como havia publicado na imprensa anarquista estadunidense, Emma não demorou a expressar publicamente sua oposição à violência contra os sovietes e as organizações populares independentes. Há relatos de uma conversa entre Emma e Kollontai, feminista dirigente do partido bolchevique e comissária do povo para a Assistência Pública no primeiro Governo Revolucionário. Nessa conversa, Emma pediu à Kollontai para que interviesse contra a repressão e o governo bolchevique autoritário que estava esmagando a organização dos sovietes e silenciando anarquistas. Kollontai respondeu à Emma que “esquecesse” esses pequenos problemas e assumisse um cargo no Ministério da Saúde para trabalhar com as mulheres, o qual a anarquista recusou. Emma também conversou com Lênin, que considerou o autoritarismo do governo bolchevique uma medida necessária ao triunfo da revolução.

Em 1921, Emma e Berkman se retiraram da Rússia por não conseguirem desenvolver militância, pois eram constantemente vigiados pelo partido bolchevique. Saíram da Rússia e permaneceram no exílio, no qual Emma publicou suas experiências durante a Revolução, que se tornaram os livros Minha Desilusão com a Rússia (1923) e Minha Nova Desilusão com a Rússia (1924). Fora da Rússia, Emma se instalou inicialmente na Alemanha, passando também pela França. Mais tarde, instalou-se ainda em Londres. Em 1928, começou a escrever sua autobiografia, publicada posteriormente com o título Vivendo Minha Vida.

Na década de 1930, vários livros de Emma já estavam traduzidos para inúmeras línguas, tornando-se influência para diversos pensadores libertários e formando opiniões políticas anarquistas sobre a Rússia Soviética. Em 1934, o escritor chinês Ba Jin publicou seu livro The General, orConfessions – The OutcryofMy Soul, dedicando-o a Emma Goldman.

Em 1936, com quase 70 anos, Emma recebeu a notícia da Guerra Civil Espanhola e seguiu entusiasmada pra Espanha, onde foi recepcionada pela Confederação Nacional do Trabalho (CNT) e pela Federação Anarquista Ibérica (FAI), passando a colaborar na tradução do boletim informativo da CNT-FAI para o inglês e a escrever com frequência para o jornal A Espanha e o Mundo. Após deixar a Espanha, Emma passou a ser uma representante oficial da CNT-FAI em Londres. Emma faleceu em Toronto, no Canadá, em 1940.

Fontes:

http://www.nu-sol.org/artigos/ArtigosView.php?id=46

https://docviewer.yandex.com/?url=ya-disk-public:///X9QhTjLUmOuFgnFldQLbz+Wj/uyEc5o3QuOEJ7Vhns=&name=Mi%20mayor%20desilusión%20con%20Rusia.pdf&c=58d845decd71”c=58d-845decd71

http://www.anarquista.net/emma-goldman/

Ida Mett

Uma mulher na redação da Plataforma

Ida Gilman, mais conhecida pelo pseudônimo de Ida Mett, foi uma anarquista russa nascida em 20 de julho de 1901, em Smorgon (antigo Império Russo e atual Bielorússia). De família judia, seus pais eram comerciantes de tecido. Estudou medicina em Kharkov e em Moscou, cidade onde iniciou seu envolvimento com os círculos anarquistas e onde foi detida por realizar atividades subversivas e anti-soviéticas. Em 1924, viu-se obrigada a partir para o exílio, pouco antes de obter o diploma em medicina, a fim de evitar sua prisão. Sua fuga clandestina da Rússia bolchevique só foi possível graças à ajuda de contrabandistas judeus. Durante dois anos, viveu na Polônia na casa de parentes.

No outono de 1925, chegou a Paris via Berlim, onde manteve contatos com outros anarquistas russos emigrados como Volin, Archinof e Nicolas Lazarévitch, todos membros do grupo Vontade do Povo. Em Nicolás, Ida encontrou um companheiro nas ideias e na vida.

Em 1926, juntamente com Makhno, Archinov, Valevsky e Linsky, Ida participou da criação e redação da Plataforma Organizativa para uma União Geral de Anarquistas, documento assinado pelo Grupo DieloTruda (Causa Operária), título do órgão do Grupo de Anarquistas Russos no Estrangeiro, jornal no qual Ida Mett realizava tarefas editoriais. Ajudou também na correção das memórias de Nestor Makhno, em 1926 e 1927. Em 1928, Ida e Nicolas foram excluídos do Grupo DieloTruda, acusados de realizar ritos religiosos por terem ascendido um círio na cerimônia do funeral do pai de Ida, Meyer Gilman, como era de costume na comunidade judia.

Ida e Nicolás iniciaram, na França, Bélgica e Suíça, uma campanha de denúncia e informação sobre as condições de vida em que vivia a classe trabalhadora na Rússia. Até sua expulsão da França, em 25 de novembro de 1928, editaram o jornal La Libérationsyndicale.

Refugiados na Bélgica, Ida retomou seus estudos de medicina, obtendo licenciatura em 1930. Porém, nunca pôde exercer a profissão, nem na França nem na Bélgica. Nicolás, por sua vez, trabalhou dois anos como mineiro. Os dois frequentaram os círculos anarquistas, nos quais tornaram-se amigos de numerosos anarquistas espanhóis que estavam no exílio, entre eles Francisco Ascaso e Buenaventura Durruti, cujas teses da Plataforma e da experiência revolucionária ucraniana puderam ser conhecidas de primeira mão.

Logo após a proclamação da República na Espanha, em 1931, Ida entrou clandestinamente no país, onde participou de numerosos atos convida por Ascaso e Durruti. No ato de Primeiro de Maio, em um comício organizado pela CNT de Barcelona, Ida e Volin, representaram o movimento anarquista russo. Após o comício, uma manifestação acabou resultando num tiroteio na Plaza de la República, momento em que Ida teria demonstrado suas aptidões médicas tratando de um ferimento a bala que Ascaso recebera no braço.

Em novembro de 1931, Ida e Nicolás retornam à Bélgica, e, em 1932, nasceu seu filho Marc. Em 1933, fundaram, com Jean De Boë, o jornal Le Réveilsyndicaliste. Ida Mett trabalhou como farmacêutica e retomou seu ativismo anarquista. Após uma manifestação antibelicista em Bruxelas, Ida e Nicolás foram perseguidos pela justiça. Ida foi condenada por um tribunal a 15 dias de prisão e lhe foi imposta uma multa. Por causa da condenação, Ida perdeu seu trabalho e se viu sujeita a sérias dificuldades, que, apesar de tudo, não lhe impediram de solidarizar-se na campanha de apoio a Francesco Ghezzi, Victor Serge e os anti-stalinistas presos na URSS.

Em 1936, novamente instalada de forma ilegal na França, retoma sua vida junto a Nicolás, que acabava de sair da prisão. Ida, muito ativa no campo sindical, foi nomeada secretaria do Sindicato de Trabalhadores do Gás. Colaborou na revista La Révolutionprolétarienne, da qual havia sido correspondente na Bélgica durante vários anos. Ida também colaborou em Le Libertaire, publicando habitualmente artigos sobre os processos de Moscou. Em 28 de agosto de 1936, publicou um artigo intitulado “Stalin extermina a geração de Outubro”, no qual denunciava o caráter totalitário da vida imposta na Rússia pelo stalinismo. Em 11 de setembro de 1936, insistiu na denúncia do stalinismo, constatando sua influência contrarrevolucionaria na Guerra da Espanha, defendendo que os revolucionários espanhóis deveriam considerar os stalinistas como inimigos tão perigosos como os fascistas para o triunfo da causa revolucionária.

Ainda em 1938, teve início uma grave discrepância entre Ida e a redação de La Révolutionprolétarienne, referente ao anti-semitismo, – o que a fez deixar de publicar nessa revista. Em 8 de maio de 1940, Ida e Nicolás foram detidos e separados. Nicolás foi internado no duríssimo campo de concentração de Vernet. Ida foi internada, junto com seu filho Marc, de 8 anos, no campo de Rieucros (Lozère), do qual saiu em abril de 1941, graças a intervenções de Boris Souvarine, obtendo a residência vigiada em La GardeFreinet (departamento de Var). Em 1942, ambos puderam se instalar em Draguignan até a primavera de 1946.

Entre 1948 e 1951, Ida trabalhou como médica em um sanatório para crianças judias tuberculosas em Brunoy. Dos anos quarenta até sua morte, trabalhou como tradutora técnica na indústria química.

Na década de 1950, Ida formou parte da redação da prestigiosa revista Est-Ouest, que, em 1957, publicou dois números especiais sobre a Rússia e o stalinismo, nos quais Ida interveio destacadamente. O número 168, de fevereiro, intitulava-se Le Communismeeuropéendepuislamort de Staline, e o número 180, de outubro, apareceu sob o título Histoire et Bilan de laRévolutionsoviétique. Os artigos de Ida eram publicados sem assinatura ou sob o nome de Ida Lazarévitch.

Ida Mett morreu em Paris em 27 de junho de 1973. Os arquivos documentais de Ida foram depositados no Instituto Internacional de História Social (IISG) de Amsterdam. Ida é autora de inúmeras obras: Ausecours de Francesco Ghezzi, unprisonnier Du Guépéou (1930), La Comuna de Cronstadt: crepúsculo sangriento de lossoviets (1948), La médecineen URSS (1953), L’écolesoviétique: enseignementsprimaireetsecondaire (1954), Le paysanrussedanslarévolution et la post-révolution (1968), Souvenir sur Nestor Makhno (escrito em 1948 e editado postumamente em 1983).

Maria Isidorovna Goldsmith

Solidariedade russa no exílio

Maria Isidorovna Goldsmith nasceu em 19 de julho de 1871 na Rússia. Seu pai, Isidor, publicou Znanie, uma revisão de orientação positivista. De acordo com o historiador Max Nettlau, Isidor foi exilado para o norte por suas opiniões, primeiro para Pinega e mais tarde para Arkhangsk. Nettlau acredita que Isidorovna nasceu em um desses lugares de exílio do seu pai. Sua mãe, Sofia Ivanova Goldsmith, era uma seguidora do escritor socialista-revolucionário Labrov. O pai de Goldsmith morreu quando ela ainda era jovem. Assim como sua mãe, Maria interessava-se por política e ciência natural, o que serviu de base para terem um relacionamento próximo e durante toda a vida. Em 1888, as duas deixaram a Rússia e se estabeleceram em Zurique, na Suíça.

Em 1890, chegam à Paris. Goldsmith ingressou na vida política pelos passos trilhados por sua mãe. Como a mãe, ela se tornou membro dos Estudantes Revolucionários Socialistas Internacionais (um ramo dos Socialistas Revolucionários russos no exílio) em junho de 1892, estando sempre ativa na edição de panfletos.

Sua presença era constante em círculos de exilados russos e, a partir desse contato, tornou-se anarquista. No entanto, mantinha relações com SocialistasRevolucionários, para quem continuou a editar panfletos por um tempo, apesar das divergências políticas. Aos poucos, Goldsmith diminuiu seus compromissos com Socialistas Revolucionários e se tornou cada vez mais ativa entre os anarquistas, sobretudo no círculo de anarquista exilado em Paris.

Em 1897, Goldsmith começou a se corresponder com Peter Kropotkin, uma troca de cartas que deveria continuar pelo menos até 1917. Há um problema para análise deste contato, pois apenas as cartas recebidas por Goldsmith foram preservadas. Em seu exílio na Inglaterra, Kropotkin estava em um estado, talvez justificável, de excesso de precaução. Por isso, ele queimou todas as suas correspondências. Assim, temos apenas suas cartas para Goldsmith para análise. Para agravar ainda mais a situação, a maior parte delas foram escritas em russo e apenas algumas são em francês. As letras russas ainda aguardam tradução. Goldsmith realmente se tornou a maior correspondente de Kropotkin com cerca de 400 peças preservadas na coleção Nicolaevsky em Paris. Como tal, ela foi uma das principais influências sobre o pensamento posterior de Kropotkin, ainda que ela tenha discordado dele em certos pontos. Ela era, na verdade, o principal correspondente político na vida de Kropotkin no exílio. O número de suas cartas para ela só é ultrapassado pelo número de correspondências de Kropotkin para seu irmão, como Martin A. Miller, um dos mais respeitáveis biógrafos de Kropotkin, diz em suas notas para sua biografia. A coleção de cartas entre Goldsmith e Kropotkin contém seis volumes.

Goldsmith tornou-se a figura principal entre os exilados russos em Paris, e as reuniões de grupo anarquista aconteciam em seu apartamento. Foi durante este período que ela adotou o pseudônimo ‘Maria Korn’. Goldsmith também começou uma produção prolífica para a imprensa libertária, escrevendo em russo, francês, inglês e italiano para publicações em toda a Europa e América do Norte. Ela também conheceu outra recém-chegada, Emma Goldman, quando esta estava na Europa entre 1895 e 1896, em uma turnê para a campanha para a libertação de Alexander Berkman da prisão. Goldman se encontrou com outros anarquistas parisienses na casa de Goldsmith.

Goldsmith também foi proeminente em círculos anarquistas não-russos, embora seu foco principal estivesse no movimento russo. Na conferência de Londres de 1906 com anarquistas russos no exílio, ela foi autora de nada menos do que três dos relatórios, “no assunto da política e da economia, na organização e na greve geral”. Em 1914, foi uma das oradoras em Paris no aniversário da morte de Bakunin. Também ajudou a organizar reuniões sobre as comemorações da Comuna de Paris e dos mártires de Haymarket. Entretanto, sua principal contribuição foi como um dos fundadores e um dos principais escritores do jornal de língua russa Khleb i Volia (Pão e Liberdade), publicado em Genebra de agosto de 1903 a novembro de 1905 e contrabandeado para a Rússia. Sob a influência da recentemente bem sucedida CGT francesa, ela promoveu as idéias de anarco-sindicalismo em seus escritos. Seus escritos sobre este assunto foram, maistarde, produzidos como o panfleto “Sindicalismo Revolucionário e Anarquismo” em Moscou/Petrogrado em 1920.

Publicou também na imprensa libertária, incluindo a La Libre Fédération (Lausanne, 1915-1919), LesTemps nouveaux (Paris, 1919- 1921) e Plus Loin (Paris, 1925-1939).

Goldsmith estudou biologia na Universidade de Paris em Sorbonne. Em 1894, obteve seu diploma de graduação e mais tarde seu mestrado. Ela trabalhou nesta instituição por muitos anos em associação com seu colega biólogo Yves Delage. Goldsmith teve uma carreira científica longa e distinta, tanto como associada de Delage, como por conta própria. Publicou pelo menos dez livros no campo da Biologia. Ela também foi editora de ‘L’annéebiologique’ de 1902 a 1924. No entanto, teve que lutar nos últimos anos de sua vida para encontrar emprego científico. Trabalhou sob a duplo fardo de ser mulher e de ser indubitavelmente conhecida por seus pontos de vista anarquista, apesar de seu uso de pseudônimos. Goldsmith suicidou-se 11 de janeiro de 1933.

Fontes:

https://libcom.org/history/goldsmith-marie-her-life-thought

Fania Kaplan

A anarquista russa que atirou em Lênin

“Meu nome é Fania Kaplan. Hoje atirei em Lenin. O fiz com meus próprios meios. Não direi quem me proporcionou a arma. Não darei nenhum detalhe. Tomei a decisão de matar Lênin há muito tempo. O considero um traidor da revolução.” Fania Kaplan Fania Efimovna Kaplan nasceu em 18 de fevereiro de 1890, em um povoado da região de VolynskayaGuvernia (hoje uma região próxima a Kovel, no oeste da Ucrânia), uma de oito irmãos de uma família religiosa judia. Nasceu em uma cultura que conseguiu se aproximar de uma vivência da liberdade a partir da morte de grandes tiranos, algo que veio a influenciar seus atos enquanto militante.

Durante a Revolução de 1905, aproximou-se do anarquismo e participou de grupos organizados em Kiev e Odessa. Neste lugar, encontrou pela primeira vez “as/os clandestinas/os”. Em 1905, incluiu-se no grupo “anarquista-comunista do sul” e participou em ações armadas. No grupo, assumiu o nome de “Dora”.

Dora Kaplan, em ações diretas contra o czarismo russo, perdeu parcialmente a visão em uma explosão. Foi condenada à morte pelo juizado militar de Kiev, mas, como ainda era menor de idade (e provavelmente por ser mulher), sua pena foi trocada para prisão perpétua em Katorga, na Sibéria. Em 1907, chega à Sibéria praticamente cega e com mãos e pés acorrentados por sua “tendência a fugir”. Além de quase cega e parcialmente surda, sofria fortes dores e entrou em depressão. Recebeu tratamento em um hospital e depois voltou a outro cárcere em Katorga.

Ali, em 1911, encontrou à celebre terrorista MaríaSpiridonovna e, segundo a versão soviética, sob sua influência, afastou-se do anarquismo em função das ideias dos SRs (socialistas revolucionários). Mas, na verdade, até a sua morte, Fania continuou sendo anarquista. Em 1917, Fania foi liberada depois da Revolução de Fevereiro. Em seguida, viveu um tempo em Chita e depois foi para Moscou com outra companheira “SR”.

Em Jarkov, finalmente operada da vista, começou a trabalhar organizando cursos para operárias/os, instruindo-as/os sobre como organizar assembleias autônomas locais. Com a Revolução de Outubro, o crescente poder Bolchevique esmagou as assembléias locais em sua fúria centralista. Nesse momento, Fania soube o que queria: a auto-organização anarquista.

Os bolcheviques, à época, em sua loucura pelo centralismo do poder, já haviam condenado qualquer opositor de suas ideias a “reacionários”, “pequeno-burgueses” e “inimigos”, criando mecanismos sanguinolentos de repressão como o ataque armado e os campos de concentração para inimigos políticos. Fania Kaplan passou para a história soviética como uma terrorista SR e não como uma anarquista.

Em 13 de agosto de 1918, em uma ocasião em que Lênin se apresentaria publicamente em meio a trabalhadoras/es, às 22:30, no pá- tio da fábrica, no momento em que ele se encaminhava para entrar em seu carro, Fania gritou seu nome. Quando Lênin virou, ela disparou três tiros contra ele. Errou um, os outros dois atingiram o ombro e o pulmão esquerdo. Fugiu rapidamente, mas foi capturada por operários na rua ao lado. Lênin nunca se recuperaria totalmente. Fania declarou, com orgulho, o seu intento e disse que o planejava desde fevereiro, quando, em sua opinião, as ideias socialistas recrudesceram décadas com ações bolcheviques. Considerava Lênin um traidor.

A maior surpresa para os seguidores de Lênin foi a declaração de Fania de que havia pensado e preparado tudo por conta própria, sem a cooperação de nenhum partido ou grupo. O assunto se converteu em algo muito incômodo para o poder bolchevique e, em 3 de setembro de 1918, depois de seu contínuo rechaço em colaborar com os investigadores, Fania foi fuzilada no pátio de Kremlin, sem nenhum julgamento.

Todas/os as/os SRs foram exterminadas/os, assim como toda oposição ao autoritarismo. Em 1921, quando Gastón Leval se encontrava na Rússia para entrevistar Lênin, este lhe disse que as/os anarquistas russas/os não eram como os do ocidente, pois eram traidores e contra-revolucionárias/os. Neste mesmo ano, multiplicaram-se os campos de concentração para inimigos políticos.

Fania não só foi um exemplo vivo da teoria e da prática convergidas em uma só fórmula, mas foi o rosto visível que se opôs com palavras e atos ao domínio, independentemente de que cor esse fosse. É importante resgatar a sua memória tanto para uma radicalização do discurso antiautoritário quanto para a negação de qualquer tipo de governo ou Estado. Fania Kaplan, a anarquista que baleou Lênin, é uma experiência inspiradora para pensarmos em nossa própria libertação enquanto mulheres.

Fonte:

ttps://contramadriz.espivblogs.net/files/2017/01/Fania-Kaplan.pdf

 

maio 212017
 

ELITISMO E PERSEGUIÇÃO POLÍTICA NA UFRGS!

Viemos a público denunciar a situação de perseguição política e assédio moral por parte da UFRGS à companheira Lorena Castillo, estudante de Geografia da Universidade e militante da nossa Organização.

De forma arbitrária, impositiva e sem direito a defesa, a UFRGS quer desligar a companheira da Universidade alegando uma renda que a companheira não possuía e não possui. Tudo isso depois da Ufrgs perguntar seu vínculo militante com a FAG, perguntando que “cargo” ela teria e se recebia alguma remuneração por isso. Uma clara situação de assédio moral!

A companheira conseguiu realizar sua matrícula no ano passado após a Universidade colocar uma série de obstáculos e constrangimentos. Está sofrendo o que muitos outros/as estudantes que entraram através das cotas raciais e para estudantes de escola pública com baixa renda vem sofrendo ao terem suas documentações questionadas e suas vidas vasculhadas sem nenhum respeito. Já no segundo semestre e em época de provas, a companheira recebe o resultado de um processo de revisão da análise socio-econômica que a excluiria do quadro discente da UFRGS. Além disso, há no processo a omissão de informações que a companheira passou e informações forjadas pela Universidade (como sua renda).

Repudiamos a postura da Universidade e dizemos em alto e bom som: A FEDERAÇÃO ANARQUISTA GAÚCHA NÃO TEM E NÃO ADMITE FUNCIONÁRIOS! NOS AUTOSSUSTENTAMOS SEM SUBVENÇÃO ESTATAL NEM PATRONAL!

Exigimos um posicionamento público por parte da Reitoria sobre as recorrentes situações de assédio moral e desrespeito com os cotistas, com a nossa companheira e a imediata suspensão de seu desligamento.

UFRGS RACISTA E ELITISTA!
NENHUMA PERSEGUIÇÃO POLÍTICA SEM RESPOSTA!
SOLIDARIEDADE A LORENA CASTILLO!

Federação Anarquista Gaúcha – FAG

dez 152016
 

 

Nota de repúdio às violências cometidas por integrantes do MTST e UNE

no último ato contra a PEC 55 (13/12) em Fortaleza

Ontem, 13 de dezembro de 2016, pela manhã, era aprovada pelo Senado, já em segundo turno, o Projeto de Emenda Constitucional (PEC) 55, que congela os orçamentos com direitos sociais básicos por 20 anos, colocando na conta do povo uma crise ocasionada pelos de cima.

Em Fortaleza, um ato estava convocado pela Frente Povo Sem Medo, para as 14h, saindo da Praça da Gentilândia, contra a aprovação da PEC 55 e as reformas na previdência. Havia um chamado para um bloco independente de partidos, que reunia pessoas autônomas, independentes, libertárixs e anarquistas, na maioria secundaristas, que tomaram as ruas com rostos cobertos em geral para se protegerem de represálias, acompanhando o ato, com tintas, colas e sprays para intervenções de lambe-lambe e pinturas no asfalto.

Durante o ato, percebendo que não era possível escrever no asfalto no meio do ato por causa do trânsito das pessoas, o bloco foi para a “frente da frente” do ato, que era demarcada com uma faixa onde estava escrito Fora Temer.

Como resposta, estes do bloco responderam que o ato não deveria ter direção e entre ofensas verbais recíprocas começou o empurra-empurra. No carro de som, a UNE pedia para “comissão de segurança reforçar a linha de frente”. Nessa hora chegam mais de 30 militantes do MTST. Naquele momento os organizadores do ato reivindicavam a direção do ato. Ficou implícito que, ou ficava o MTST na frente, ou do contrário os mesmos usariam da força bruta. Exatamente isso que aconteceu, sobre o pretexto de “defender a manifestação”, auto atribuindo-se um papel de polícia da manifestação, espancaram estudantes e professores. Mulheres apanharam e humilhações foram feitas somente porque as pessoas se reivindicavam enquanto anarquistas. Há também relatos de uma companheira anarquista, que foi espancada. Segundo ela, os agressores disseram: vamos te arrombar!

Desesperados, em menor número e em menor força, alguns fogem por uma rua perpendicular e os militantes do MTST correm atrás, perseguindo-os e espancando-os agora com madeiras e barras de ferro. Muitos secundaristas e militantes autônomos ficaram feridos e dois foram hospitalizados em estado de saúde grave. Um professor da UFC foi ferido com a barra de ferro e teve a cabeça aberta.

Compactuando com essas ações, no momento foi feito um cordão de isolamento pela UNE e outros coletivos para que pessoas do bloco não retornassem ou se escondessem no ato. O ato inteiro passou enquanto o bloco independente era agredido e sangrava pelas ruas. Vários são os relatos e fotos de perseguições e espancamentos, inclusive da hospitalização dos dois companheiros em estado grave.

As direções desses movimentos sociais, com discursos de manutenção da ordem e receio de que o ato perca referência na direção, criam no imaginário social de militantes um repúdio a pessoas encapuzadas, atribuindo a elas a repressão policial posterior e a ilegitimidade dos atos, criando espaço para violência contra pessoas de rostos cobertos. O que temos percebido – em pelo menos três atos onde nossa militância esteve presente – é um avanço violento e cheio de ódio sobre pessoas com rostos cobertos e uma criminalização da ideologia anarquista. Ações truculentas como esta, infelizmente, não são novidade. Em 2014, em um ato do Sindicato da Construção Civil em 2014, a direção da Conlutas gritava no carro de som: “expulsem os anarquistas! Eles não são bem vindos!”. Ou como na manifestação do dia 29 de novembro desse ano, em Brasília. [1]

Quem sai fortalecido quando a direção de um ato cria um discurso legitimador da violência contra pessoas de rostos cobertos? Em que medida a linha defendida por Guilherme Boulos em seu artigo para a mídia burguesa não cria fundamentos para agressões e violências como a que aconteceram ontem em Fortaleza? [2] Quem tem medo de um povo sem dirigentes?

Esse fato já recorrente faz-nos acreditar que há uma linha geral do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), com o objetivo de massificação dos atos acompanhadas de uma espécie de obediência cega aos interesses de seus dirigentes, nem que para isso seja necessário a legitimação do discurso da mídia burguesa de que é uma minoria que causa baderna. Esse discurso tanto usado para “dividir e conquistar” e que absorve o discurso do “vandalismo” que só protege a ordem capitalista.

Nós estamos lutando também contra a PEC 55 e mais do que nunca precisamos lutar juntos, pois o que nos espera possui tremenda força. É uma hipocrisia que os agressores se passem por vítima e tentem justificar essas violências. Nada justifica. Mais do que nunca gritaremos:

Paz entre nós, guerra aos senhores!

Vivenciamos uma criminalização da ideologia anarquista, onde a todo momento é feita generalizações, quando nos citam, somos “os anarquistas”. Tática que tenta colocar em ostracismo e em um mesmo saco homogêneo todxs aquelxs de um amplo espectro libertário. Com o marxismo isso não acontece, porque ao nosso ver, mesmo discordando de sua linha geral, que consideramos autoritária, há inúmeros companheirxs que fazem outras leituras dialogáveis. Logo, nunca reduziríamos companheirxs com objetivos desonestos ao jargão “os marxistas”.

O que está em disputa é um perfil de ato de rua, onde as direções, bandeiras e carros de som de partidos não dão conta da totalidade do povo indignado que está nas ruas. O MPL e a força das manifestações de junho de 2013 nos lembraram formas autônomas e horizontais de construção de atos fortes e combativos. E são nesses atos que queremos estar.

A atitude de alguns militantes do MTST e UNE que estavam no ato contra PEC tem nossa imediata reprovação. Julgamos essas atitudes como covardes, desonestas, machistas, fascistas e autoritárias. Nada, absolutamente nada, justifica as fortes agressões aos militantes autonomistas, anarquistas e independentes que também se manifestavam contra a PEC.

Mesmo que as pessoas agredidas não sejam organizadas em coletivos, se intitulem ou não como anarquistas, sabem ou não o que defendem (como há insinuações), para nós isso não seria motivo nenhum para legitimar essas agressões.

O fato de ontem é gravíssimo, e precisa ser apurado com máxima seriedade pelos movimentos sociais desta capital. Neste sentido, convidamos a todos os coletivos e partidos presentes no ato para que se somem ao repúdio dos agressores, responsabilizando-os e a prestar toda solidariedade as vítimas.

Manifestamos toda nossa solidariedade aos companheiros e às companheiras agredidos/as, reiterando que solidariedade é mais que palavra escrita, é estar ombro a ombro na peleja cotidiana. Denunciamos as ações irresponsáveis e violentas protagonizadas por alguns integrantes da Frente Povo Sem Medo e da Frente Brasil Popular. Nos manteremos fortes e alertas contra qualquer tipo de repressão em assembleias e atos populares. A luta se faz desde baixo e à esquerda.

Contra todos os autoritarismos!
Deixar passar a revolta popular!
Construir um Povo Forte!

Organização Resistência Libertária

15 de dezembro de 2016

 

[1] https://quebrandomuros.wordpress.com/2016/12/09/criminalizar-a-combatividade-isso-sim-e-fazer-o-jogo-da-direita/

[2] http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/09/1809940-movimentos-de-esquerda-se-dizem-contrarios-a-tatica-black-bloc.shtml

 

Observação: a nota sofreu duas alterações desde a sua publicação. A primeira delas foi a supressão das citações ao Kizomba, por considerar os relatos de que companheirxs desse agrupamento também tentaram remediar/apaziguar a situação, e, não, como agressores. O segundo ponto, a retirada do trecho abaixo: “Há relatos que pessoas do bloco tentaram tirar essa faixa e que neste momento foram questionados pela direção do MTST porque não estiveram nas reuniões de construção do ato e agora queriam está na linha de frente e fazer ação direta mesmo sem isso ter sido “acordado”. Como resposta, estes do bloco responderam que o ato não deveria ter direção e entre ofensas verbais recíprocas começou o empurra-empurra. No carro de som, a UNE pedia para “comissão de segurança reforçar a linha de frente”. Nessa hora chegam mais de 30 militantes do MTST.” O trecho foi retirado por respondermos as múltiplas versões de como o fato ocorreu, mas também por entendermos que não necessariamente existe causalidade entre uma possível incitação e o próprio ato da agressão. Fazemos a autocrítica dessas duas atualizações, com o pedido de desculpas aos citados. Fortaleza, 16 de dezembro de 2016.

fev 122015
 

 

Reproduzimos abaixo a nota dxs nossxs companhierxs da Federação Anarquista Gaúcha, denunciando a forte repressão no Rio Grande do Sul e a prisão do companheiro Vicente. Pedimos ampla divulgação desta nota.

É denunciar o Estado Brasileiro!

 

 

NÃO SE INTIMIDAR, NÃO DESMOBILIZAR! TODA NOSSA SOLIDARIEDADE AO COMPANHEIRO VICENTE!

 

 

Janeiro de 2015, às vésperas da retomada das lutas contra o aumento das passagens e em defesa de um transporte 100% púbico em Porto Alegre, recebemos a notícia da sentença dada ao companheiro Vicente, militante da FAG e lutador social do Bloco de Luta pelo Transporte Público de Porto Alegre. Vicente está sendo condenado a um ano e meio de prisão por dano ao patrimônio público e crime ambiental, “crimes” que teria cometido em Abril de 2013 durante uma manifestação do Bloco de Luta em frente a Prefeitura de Porto Alegre. Trata-se da primeira condenação em Porto Alegre e para nós uma clara tentativa de intimidar e colocar medo no conjunto de lutadores e organizações que estão rearticulando as lutas nesse início de 2015. Um expediente político e histórico utilizado pelos setores dominantes de nossa cidade e de todo o mundo: o encarceramento dos que se levantam. Não nos desmobilizaremos e a nossa solidariedade será militante e nas ruas!!!

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E a criminalização continua…

O fato de a condenação nos ter sido comunicada apenas uma semana antes do primeiro protesto do ano do Bloco de Lutas pelo Transporte Público é tudo menos uma obra do acaso ou de um processo regular do poder judiciário. Inicia-se o ano e ao mesmo tempo se começa a mexer nos processos que estavam tramitando desde 2013: adicionando nomes à alguns, novos crimes à outros. O processo neste contexto busca ter o mesmo efeito de uma bala de borracha ou de uma bomba de efeito moral: uma tentativa de intimidar e freiar as lutas nas ruas que ousam questionar os lucros dos empresários e os conchavos já evidente das empresas com os poderes públicos.

A situação está longe de ser apenas uma situação local: quem achou que a conjuntura de criminalização havia se esgotado em virtude do descenso das mobilizações de rua após a Copa do Mundo em 2014, a recente movimentação dos governos e dos aparelhos repressivos indicam o contrário. Em São Paulo, Rio de Janeiro e uma série de outras cidades no Brasil que iniciaram o ano com mobilizações contra o aumento das tarifas de ônibus a repressão tem usado dos mesmos expedientes contra os manifestantes: gás lacrimogênio, bala de borracha e detenções arbitrárias. O carioca Rafael Braga Vieira, que era até então o único condenado dos protestos de junho de 2013 continua preso e em Porto Alegre os processos voltam a ser movidos, novos nomes são inseridos e agora a primeira sentença é dada, sem prova alguma. É a velha justiça burguesa tomando lado em uma luta entre opressores e oprimidos que está longe de acabar.

Contudo, a luta e organização dos de baixo não começou hoje e também continuará. Mobilizam-se os jovens, os trabalhadores, os sem tetos e as comunidades de periferia. As mobilizações de rua de 2013 abriram novas possibilidades na gestação de experiências organizativas e de luta que o conjunto da esquerda combativa e anti capitalista precisa ajudar a fomentar e impulsionar, descartando as velhas práticas vanguardistas, sectárias e impositivas que infelizmente ainda permeiam discursos e práticas de muitas organizações. Acreditamos que só assim podemos criar força social que desde baixo vá gestando mecanismos de auto-organização e cravando em seu horizonte a necessidade de transformação social do conjunto da sociedade. Uma verdadeira frente de oprimidas e oprimidos solidária a todo e qualquer companheiro preso, torturado, assassinado e desaparecido.

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2015: avançar em organização, cercar ainda mais de solidariedade @s que lutam!

A seletividade do sistema penal também se torna evidente neste caso. Ao longo desse processo que começa com mais de uma dezena de acusados pelos danos realizados em uma manifestação com mais de mil pessoas, vimos arquivarem um a um todos os suspeitos, responsabilizarem o único rapaz negro de ideologia anarquista que estava entre os acusados e agora incluírem outro militante negro do Pstu. Sabemos que o motivo central dessa condenação é de ordem político-ideológica mas não podemos omitir o fato de que a cor negra dos acusados tem um peso importante.

Os últimos processos tiveram como destaque a criminalização contra os coletivos e movimentos anarquistas. Em 2013, tivemos os nossos espaços públicos invadidos e nossos livros recolhidos, passando por pesados processos de inquéritos onde o que era avaliado era nossa posição em relação a temas como autoridade, governo, forças policiais e outros assuntos caros à ideologia anarquista. Panfletos, cartazes e literatura foram anexadas nos processos, como se fossem provas circunstanciais que mostrassem algum papel de mentor intelectual da nossa ideologia nas depredações ou saques realizados nas manifestações de 2013, que contavam com mais de 50 mil pessoas em Porto Alegre.

O companheiro Vicente, assim como os demais militantes e lutadores de outras organizações, coletivos e ideologias, não foi o primeiro e não será o último jovem negro e anarquista a ser condenado nesse Brasil racista. São milhares de homens e mulheres negros/as e pobres exterminados e condenados diariamente pelas polícias militares e pela justiça burguesa e racista. É a elas e eles que nossa solidariedade militante é direcionada e será junto de cada trabalhador/a que cerraremos nossos punhos. Não nos intimidaremos e em cada marcha de rua, piquete, greve, ocupação estaremos ombro a ombro com todos e todas que lutam!

Solidariedade à todos e todas companheiros e companheiras perseguidos por lutar!

Pelo fim da polícia militar!

Nossa ideologia anarquista não se presta a caricaturas!!!

 

Federação Anarquista Gaúcha – FAG

maio 012014
 

ana

DECLARAÇÃO DO Iº ENCONTRO ANARQUISTA ESPECIFISTA DA BAHIA

As jornadas de junho demonstraram a insatisfação popular com a democracia representativa e a falência das instituições do estado burocrático, representada pela política dos partidos tradicionais, no momento em que as demandas populares não foram atendidas. O Estado mostrou sua capacidade de assegurar os interesses do Capital, respondendo os anseios populares com truculenta repressão. A Bahia vivenciou ricos momentos de ação popular autônoma, com manifestações em diversas cidades do estado. Para o anarquismo, esse processo abriu novas possibilidades do ‘fazer’ político junto com o povo, fomentando novos valores de democracia direta e do Poder Popular. Foi diante dessa conjuntura que, nós anarquistas, lutamos e fortalecemos o protagonismo das ruas.

É na retomada da militância do anarquismo organizado na Bahia, que propomos a construção de uma organização específica anarquista que abarque a tarefa de trilhar o caminho rumo a uma sociedade justa e igualitária. É sobre essa perspectiva, que ampliamos a construção do anarquismo, a partir das experiências do Vermelho e Negro e do Coletivo Anarquista Ademir Fernando (CAAF). Ambos processos incentivados pela construção do anarquismo no país, através da Coordenação Anarquista Brasileira (CAB). Levados por esses anseios, realizou-se o encontro pró-organização do anarquismo na Bahia, que reuniu diversos militantes do estado, para definir estratégias e programas comuns na consolidação do especifismo.

Convidamos a tod@s @s militantes que afinam com a proposta do anarquismo especifista na Bahia, a somar-se na luta pela construção de uma nova sociedade.

Bahia, 26 e 27 de abril de 2014

Email: caaf@risuep.net

coletivoanarquistaademirfernando.blogspot.com

fev 172014
 

 

SOBRE A RECENTE TENTATIVA DE CRIMINALIZAÇÃO DAS LUTAS

 

Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ)

Publicado em 13/02/2014, no site da FARJ

Desde as lutas iniciadas em junho de 2013 assistimos uma tentativa massiva da mídia burguesa em domesticar, sufocar ou capturar as pautas da luta popular. Os protesto de junho e dos meses seguintes, que tinham como principal foco, exigir pela força das ruas, direitos sociais (redução da passagem, saúde, melhoria da educação etc.) tentaram ser apropriados por seus adversários reacionários.

Outra questão é que a burguesia, o governo federal (PT e aliados) e os setores médios conservadores da sociedade nunca aceitaram as táticas de luta (ataque a propriedade privada e resistência a violência policial) e as mobilizações de massa (favela, estudantes, sindicatos etc.) que foram forjadas pelas manifestações. Com receio de uma “crise” em plena Copa do Mundo atrapalharem os negócios do capital e as eleições, o Estado brasileiro se apressou a utilizar instrumentos judiciais que permitissem a rápida repressão de manifestantes, organizações políticas e entidades de trabalhadores.

A luta contra o aumento da tarifa

A lembrança da massificação dos atos de junho e julho pelas lutas contra o aumento da passagem retornam como um pesadelo na cabeça dos governos federais e estaduais. A estratégia agora utilizada é tentar sufocar a luta contra o aumento da tarifa antes de uma possível ampliação dos atos. Apenas oito meses depois da redução da tarifa pela força das ruas, o prefeito do rio, Eduardo Paes autorizou criminosamente o aumento da tarifa, contrariando (de se esperar) os laudos técnicos do Tribunal de Contas do Município, que recomendaram a diminuição da tarifa para R$2,50. O Movimento Passe Livre do Rio de Janeiro (MPL-RJ) junto a outros coletivos e organizações políticas, responderam ao aumento com uma seqüência de atos de rua e a resposta das elites políticas foi a mesma de sempre: repressão.

O ato do dia 06 de fevereiro e suas duas mortes

O ato do dia 6 de fevereiro ficou marcado pela forte repressão da PM, que atirou bombas pra todo lado, inclusive dentro da Central do Brasil, onde havia muitas trabalhadoras e trabalhadores e até crianças circulando. A consequência desse descalabro da PM foi o terror nas ruas do Rio de Janeiro. O resultado  foi que ocorreram duas mortes: o cinegrafista da TV Bandeirantes, atingido acidentalmente por um rojão, e um camelô, atropelado por um ônibus, enquanto fugia das bombas da PM. Lamentamos profundamente a morte desses dois trabalhadores e nos solidarizamos com suas famílias, mas denunciamos, assim como outros movimentos sociais e organizações que ambas as mortes foram frutos da criminosa atuação da PM e da política de transportes do Governo do Rio de Janeiro, que insiste em manter o aumento da tarifa para R$3,00 e espanca manifestantes abertamente. É a situação de barbárie instrumentalizada pelo alto custo de vida, o domínio e extermínio militar dos pobres (UPP’s), o racismo, a desigualdade generalizada que levam os/as trabalhadores/as ao limite. Ainda assim, fazemos questão de ressaltar que nada que os manifestantes façam, mesmo uma atitude desastrada, pode se equiparar, a violência cotidiana do sistema capitalista, do Estado e sua dominação. Tampouco podemos ignorar o fato, de que a resistência popular vista nos atos (tática Black Bloc) surgiu exatamente como uma resposta a violência policial e a violência cotidiana do sistema capitalista.

A mídia, obviamente, sempre alinhada com os anseios dominantes tratou de dar ênfase apenas a uma dessas mortes (do cinegrafista Santiago) e antes mesmo da apuração dos fatos, avaliou, periciou, julgou e condenou dois manifestantes em rede nacional, ignorando voluntariamente os inúmeros mortos e feridos provocados pela ação da Polícia Militar desde as manifestações de junho.  A farsa estava montada.

A criminalização das lutas

À partir disso os setores conservadores, com apoio do PT trataram de orquestrar um forte consenso reacionário se utilizando do sensacionalismo e a repetição exaustiva das imagens na TV. Já está claro que toda a máquina podre do sistema está em funcionamento. Ao inventarem a “doença”, trouxeram também o “remédio amargo”: a discussão do projeto de lei 499/2013 à toque de caixa e que regulamenta judicialmente o “terrorismo”. Do Rio de Janeiro veio também a  acusação absurda de que os manifestantes recebem 150 reais para irem às manifestações e a sugestão do Secretário de Segurança Pública pela proibição de máscaras nas manifestações e o endurecimento das penas aos manifestantes. Ou seja, os terroristas serão todos aqueles que se manifestem por direitos sociais. Também os chamados “Grupos de Direitos Humanos” estão sendo criminalizados, perseguidos e ameaçados por buscarem defender os manifestantes, ou mesmo os pobres de maneira geral que sofrem ações violentas da polícia como é o caso das recentes chacinas (Maré, Juramento, dentre outras) ou até mesmo de ações fascistas como foi a tortura ao adolescente negro no bairro do Flamengo.

Além disso, já é fato notório e conhecido, que a Polícia Militar, a Agência Brasileira de Inteligência e a Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos [1] vigiam, provocam, sabotam, montam farsas jurídicas, se infiltram e mapeiam possíveis “ameaças” à realização da Copa do Mundo. Qualquer semelhança com as leis do regime militar de 1964 não é coincidência. Aliás, para quem acha que a comparação é exagerada, uma portaria assinada por Dilma em 20 de dezembro de 2013 permite ao exército “o combate ao bloqueio de vias públicas e a ofensiva contra a sabotagem nos locais de grandes eventos”. A justiça como vimos manteve-se como de costume, ao lado dos ricos e poderosos e prepara o terreno para um processo de criminalização coletiva que tem de ser denunciado por todos os movimentos populares, organizações políticas e sindicatos.

Desafios para a esquerda, para a luta e os trabalhadores

Apesar dessa ofensiva reacionária já ter sido esperada por todos/as, devemos ter cuidado para não cair nas várias armadilhas que ela coloca. Se aproveitando de um fato isolado, a mídia está trabalhando (assim como o fez desde junho) para “separar” os manifestantes entre dois grupos (vândalos e manifestantes) e assim, melhor nos dividir. Tal ação visa esvaziar o potencial de radicalidade e de adesão aos protestos. Forçam assim, a muitos setores de esquerda que acreditam na via eleitoral, a se comprometerem como “moderados” durante o período da Copa do Mundo, como se isso fosse evitar a repressão generalizada que se anuncia. O fato é que devemos nesse momento, igualmente ter calma e serenidade, evitando a tentação fácil do sectarismo e da miopia política que faz o trabalho que o inimigo deseja, enxergando bodes expiatórios e inimigos no interior das nossas fileiras ou apenas olhando para dentro das nossas organizações.

Precisamos também, reforçar as instâncias coletivas de decisão e diálogo, como por exemplo, as assembleias que estão sempre continuamente realizadas antes dos atos contra o aumento, para traçar estratégias e definir caminhos a serem seguidos coletivamente por todos (ou o máximo possível de pessoas). O aprofundamento dos ataques reacionários exige de nós maturidade e avanço na organicidade das lutas, é preciso trabalhar com critérios de segurança e ação para não facilitarmos a repressão policial e tampouco permitir atitudes individualistas ou desastradas ou pior, de infiltrados, que ponham em risco a nossa segurança coletiva nesse momento.

Precisamos trabalhar para de fato construir uma unidade nas ruas e nas bases. Lutar por reivindicações concretas é o caminho mais efetivo para trazer a população para o nosso lado, superando a hegemonia da máquina midiática. Precisamos agitar pautas que dialoguem com a realidade dos oprimidos e não cairmos na armadilha montada pela burguesia de nos isolar politicamente ou nos dividir num momento em que esta e os políticos unem-se para tentar nos esmagar.

Não escondemos as diferenças estratégicas ou de princípios que existem no interior da esquerda e não iremos neste momento “varrer tudo para debaixo do tapete”. Mas precisamos, para além das diferenças construir um forte consenso popular nas ruas. Sem a presença massiva de organizações e movimentos de trabalhadores corremos o risco de passar esse período apenas na defensiva, que é exatamente o que a burguesia e o governo do PT desejam e estão articulando.

É preciso que a classe trabalhadora se articule e conquiste às ruas, junto de suas demandas. E como um pequeno grão de areia nesse universo, essa é a tarefa que a FARJ modestamente está comprometida a realizar nesse curto período de luta e reação.

Protestar não é crime!

Pela redução da passagem!

Lutar, criar, poder popular!

[1] Brasil espiona manifestantes para evitar danos à Copa do Mundo. Blog Estadão. 07/02/2014. Disponível em <http://blogs.estadao.com.br/link/brasil-espiona-manifestantes-para-tentar-evitar-danos-a-copa/>;.

[2] Mortos e Feridos em Protesto. Centro de Mídia Independente.  Disponível em <http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2014/02/528893.shtml