Organização Resistência Libertária

abr 102016
 

Reproduzimos abaixo a nota do Movimento Social FOME (Sobral/Ceará) sobre o lançamento da nova edição do jornal “Frutos de Resistência”. Convidamos todxs a acompanharem as atividades do Movimento por meio da fanpage “Movimento Social FOME”.

“É com muita FOME e RESISTÊNCIA que lançamos a 1ª Edição desse 3º ano de nosso jornal informativo como parte da nossa luta dentro da periferia com as irmãs e irmãos.
Nesta edição, o jornal informativo Frutos de Resistência traz ao leitor denuncias sobre o descaso do poder público na periferia, assim como a questão de moradia digna para os moradores do bairro Terrenos Novos .”

Frutos de Resistência - Ano 3 - Nº 1 p1

Frutos de Resistência - Ano 3 - Nº 1 p2

 

 

abr 092016
 

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Carta de Saudação da Coordenação Anarquista Brasileira ao

Ato de Fundação da Organização Anarquista Zabelê (OAZ)

A Coordenação Anarquista Brasileira comemora a Fundação da Organização Anarquista Zabelê (OAZ). A CAB é resultado de um processo de reconstrução da ideologia anarquista no Brasil desde a década de 1990, que foi aos poucos se gestando nas discussões do Fórum do Anarquismo Organizado (FAO) e se concretiza como Coordenação em 2012. Recorremos a este histórico com um único objetivo, o de reconhecer também o esforço e o processo de organização do Anarquismo no Piauí, saudando de maneira unânime nossas companheiras e companheiros por mais esta iniciativa.

O Anarquismo tem ganhado espaço no cenário nacional e com isso inúmeras propostas e iniciativas libertárias tomam corpo no país, concretizando alternativas autoorganizadas e potentes na construção de movimentos sociais cada vez mais fortes. No entanto, muitos desses projetos com o tempo naufragam e acabam virando apenas “iniciativas”, perdendo a oportunidade de concretizar-se em verdadeiros espaços de agitação e articulação das lutadoras e lutadores desse país.

Nesse sentido, elogiamos o passo dado pelxs companheirxs do antigo Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí (GEAPI), que depois de 2 anos de estudos, discussões e lutas – e retomando as experiências de várixs militantes ao longo dos últimos anos –, amadureceram o projeto de fundar uma Organização Anarquista Especifista nesse estado, em sintonia com o projeto já em curso no Brasil.

Nesse país, com dimensões continentais, é necessário fincar pé em cada lugar. E nós, militantes da CAB, nos sentimos irmanadxs pelo projeto que agora tem início no Piauí. Para nós, não é “apenas” o surgimento público de uma nova organização política ao nosso lado. É, pois, um novo sotaque em cada palavra que iremos difundir em todos os lugares. Por um lado regionaliza o projeto de construção nacional e avanço do anarquismo e, por outro, são novas idéias energias e sonhos que ousarão construir novas táticas de lutas para todo o país. A grandiosidade de nossos objetivos finalistas impõe a necessidade de enraizarmos nossa ideologia em cada palmo de chão desta terra.

Destacamos ainda duas iniciativas que nos pareceu exitosas e que merecem ser lembradas nesta saudação. Trata-se dos dois Congressos realizados no Piauí (CONAPI’s). Nós entendemos que esses Congressos tiveram uma importância fundamental tanto para a criação da OAZ quanto para nosso afinamento. Foram momentos em que tivemos oportunidade de ver vários projetos libertários em curso por todos os cantos, e de maturar conceitos e propostas de intervenção e de organização política.

Além disso, registramos aqui o fortalecimento do eixo Teresina/Sobral/Fortaleza. Nos últimos dois anos, a organização conjunta de várias atividades nas três cidades, como foram os Seminários “Anarquismo e Organização Popular”, demonstram claramente laços importantes e que certamente fará nossa bandeira avançar.

Diante de uma conjuntura bastante singular em nossa história e com expectativa de ainda mais ataques a nossa classe, temos como urgência a organização em nossos locais de estudo, trabalho e moradia. Acreditamos que a Organização Anarquista Zabelê irá contribuir imensamente para seguirmos buscando soluções para os enormes desafios na construção do Poder Popular.

 

Viva a Organização Anarquista Zabelê!!!

Fazer crescer a bandeira negra!!!

Viva a Anarquia!!!

Coordenação Anarquista Brasileira

09 de Abril de 2016

Baixe a Carta de Saudação da CAB a OAZ

abr 032016
 

Ciclovida

O Coletivo Ciclovida é formado por um grupo de agricultores e agricultoras do assentamento Barra do Leme, em Pentecoste (Ceará) que se propõem a realizar atividades ambientalistas, ecológicas e cicloativistas de resgate e transporte de sementes crioulas.

Conscientes de que as ações das políticas públicas no Nordeste estão envolvidas com a Indústria da Seca – geração de lucros a partir da desertificação da mata nativa para a criação de monoculturas, de gado e a devastação florestal, assim como a manutenção da seca como troca de favores e compra de votos -, o grupo está desenvolvendo um projeto piloto que pretende entregar às vítimas do Polígono das Secas uma proposta concreta para solucionar o problema das secas, baseando-se em 3 princípios básicos: 1) Tecnologia simples, 2) Baixo custo e 3) Eficácia.

A ideia do Projeto é construir cisternas subterrâneas, os chamados olhos d’água, utilizando a potencialidade do solo local e o processo de enraizamento de árvores frutíferas que serão plantadas em cima dos olhos d’água com o intuito de perenizar esses poços e aumentar a área de irrigação da terra sem perda por evaporação, como é típico das ações de políticas públicas de açudamento ou construção dos grandes espelhos d’água. Esses olhos d’água se tornarão lençóis freáticos capazes de abastecer as comunidades próximas e, com a efetivação do projeto, transformar a ideia em uma nova política pública.

O Projeto já está sendo executado e com o intuito de arrecadar verba, o Ciclovida organizou uma programação cultural e comunitária durante o feriado da Semana Santa. A maioria dos participantes, vindo principalmente de Fortaleza, adotaram a bicicleta como meio de transporte e chegaram no assentamento na quinta, sexta e sábado. Na noite do sábado, ocorreu as apresentações da peça “A virada de Catirina no encontro com o mago e as trapalhadas de Matheu” e do Circo Pirata, seguidas de um sopão comunitário, sarau de poesias, músicas e palco livre.

A Organização Resistência Libertária tem o intuito de potencializar as ações do Ciclovida, promovendo ações educativas de caráter ambientalista em parceria com uma escola de Pentecoste, assim como ajudar na organização de eventos culturais para a arrecadação de fundos para continuar a desenvolver o projeto piloto.

mar 242016
 

RODA DE ESTUDOS ANARQUISTA NEGRA BONIFÁCIA (REANB)

Espaço Público da Organização Resistência Libertária (ORL-CAB)

Somos uma Roda de estudos, mas não só estudaremos, refletiremos ou criticaremos academicamente por criticar. Nos propomos a ser um espaço de propaganda e agitação. Objetivamos ser um lugar de autoformação; autoidentificação; fortalecimento da luta antiautoritária Negra e produção de teoria e prática, conforme nossos diálogos e vivências com o cotidiano racista da sociedade capitalista. Uma Roda de Estudos sobre a luta antiautoritária Negra é em essência um instrumento de intervenção política revolucionária; é um espaço que te convida para entrar na Roda e um lugar de resistência e autodefesa nossa, pessoas negras, desde baixo e à esquerda sempre.

A Roda de Estudos Anarquista Negra Bonifácia é uma ferramenta que visa contribuir com a luta cotidiana, construindo com COR os alicerces para a revolução social, a revolução Negra e a real liberdade e igualdade política, econômica e social. Queremos denegrir todos os lugares, ruas, becos e vielas, colocar fogo no engenho, na casa grande, no capital e no racismo!

A Roda antiautoritária recebe o nome da Negra Bonifácia. Mas quem foi Bonifácia? Bonifácia foi uma mulher escravizada desde o nascimento, e que foi acusada de ter matado o filho de “seu proprietário”, Joaquim Carpina, fato que ela negou ter cometido. Num julgamento de cartas marcadas, Bonifácia foi condenada ao enforcamento, vindo a ser morta no dia 22 de setembro de 1842, no campo do paiol; hoje, atual Passeio Público. Provavelmente Bonifácia nasceu nessas terras, que nunca foram alencarinas e nunca serão, pois o território em que pisamos de ampla maioria Negra, quilombola, camponesa e indígena não pode receber o nome de uma família racista e defensora da escravidão.

Espaço de propaganda e agitação

Na propaganda, difundiremos materiais produzidos pela Roda de Estudos sobre a luta Antiautoritária Negra. Podem ser lançados: notas de escurecimento, zines, textos e materiais online, além de textos que resgatem a memória de militantes ou produções de Organizações que possuam uma perspectiva libertária.

Na agitação viemos para quebrar as correntes da dominação e não nos silenciarmos diante da exploração e genocídio do povo Negro e pobre. Unir os quilombos periféricos e lutar contra o Estado assassino que só nos oferece migalhas de forma gradual é nosso dever.

Esperar um salvador da pátria ou que qualquer partido possa fazer algo ou parar o holocausto Negro é continuar com uma mente colonizada, subserviente e hierarquizada, por isso é fundamental a propagação da voz e luta sob a perspectiva Negra. Quantas Negras e quantos Negros não morreram com a farsa gradual do “fim da escravidão”? Fim do tráfico negreiro, Lei do ventre Livre, Lei dos sexagenários e a Lei Áurea, foram leis com uma perspectiva de fim gradual, uma falsa abolição, mas, enquanto isso, nas senzalas, porões e ruas as surras continuavam; os gritos dos açoites faziam parte do cotidiano; Um F feito em brasa no rosto de quem tentava fugir era mais uma marca deixada pelo sistema escravista; órgãos genitais eram arrancados, entre outros horrores feitos pela supremacia branca capitalista.

A tradição de luta Negra é longa e aprenderemos com nossa vasta experiência. É necessário forjarmos práticas educativas antirracistas, pois se dependermos do Estado ele nos direcionará para uma história “oficial”, uma educação acorrentada, que não nos leva para nossa raiz, nossa ancestralidade genitora. Zumbi e Dandara nos dão o exemplo e dizem: todo o povo Negro é livre ou não tem conversa. A Roda de estudos vem para semear, cultivar e partilhar novas e ancestrais práticas educativas de nosso povo, contribuindo com nossa total emancipação. É o nós por nós, já que “as ferramentas do senhor nunca vão desmantelar a casa grande” (Audre Lorde)

Palavras ESCURAS como referência para a LIBERDADE e IGUALDADE

Pelejaremos pela Liberdade cerrando as correntes que nos prendem, assim como os Negros escravizados da embarcação Laura II em 1839 (escuna que passava pelo litoral cearense com destino ao Rio de Janeiro). Os Negros rebelados tomaram a embarcação e fugiram pela praia de Arapaçu (atual Iguape). Os rebelados foram executados, assim como milhares de pessoas Negras foram e são nos dias de hoje. Sabemos que o genocídio prossegue e as chacinas estão aí bem presentes em nosso cotidiano, “mas não temos nada a perder senão as nossas correntes” (Assata Shakur), então é fundamental nossa auto formação para nossa autodefesa e empoderamento da luta antiautoritária Negra.

Aperrearemos pela Igualdade com a ferramenta da Interseccionalidade, pois não enxergamos hierarquia de opressões e visualizamos a intersecção da raça, classe e gênero. Concordamos com a Negra, feminista e lésbica Audre Lorde, que dizia:

“Não existe hierarquia de opressão. Eu não posso me dar ao luxo de lutar por uma forma de opressão apenas. Não posso me permitir acreditar que ser livre de intolerância é um direito de um grupo particular”.

METODOLOGIA

A Roda de estudos mensalmente se reunirá, podendo também organizar alguma atividade. Debateremos a partir de textos, documentários, elementos conjunturais e demandas pessoais. Os diálogos informais e ações de cunho social que o grupo possa realizar será uma outra ferramenta importante de fortalecimento da luta antiautoritária Negra.

A proposta principal é que o grupo seja um espaço de problematização de situações, com o intuito de elaborar coletivamente sugestões de mudança ou intervenção na realidade, promovendo ações concretas sobre ela.

Roda de Estudos Negra Bonifácia

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mar 242016
 

Espaço Público da Organização Resistência Libertária (ORL-CAB)

Somos uma Roda de estudos, mas não só estudaremos, refletiremos ou criticaremos academicamente por criticar. Nos propomos a ser um espaço de propaganda e agitação. Objetivamos ser um lugar de autoformação; autoidentificação; fortalecimento da luta antiautoritária Negra e produção de teoria e prática, conforme nossos diálogos e vivências com o cotidiano racista da sociedade capitalista. Uma Roda de Estudos sobre a luta antiautoritária Negra é em essência um instrumento de intervenção política revolucionária; é um espaço que te convida para entrar na Roda e um lugar de resistência e autodefesa nossa, pessoas negras, desde baixo e à esquerda sempre.

A Roda de Estudos Anarquista Negra Bonifácia é uma ferramenta que visa contribuir com a luta cotidiana, construindo com COR os alicerces para a revolução social, a revolução Negra e a real liberdade e igualdade política, econômica e social. Queremos denegrir todos os lugares, ruas, becos e vielas, colocar fogo no engenho, na casa grande, no capital e no racismo!

A Roda antiautoritária recebe o nome da Negra Bonifácia. Mas quem foi Bonifácia? Bonifácia foi uma mulher escravizada desde o nascimento, e que foi acusada de ter matado o filho de “seu proprietário”, Joaquim Carpina, fato que ela negou ter cometido. Num julgamento de cartas marcadas, Bonifácia foi condenada ao enforcamento, vindo a ser morta no dia 22 de setembro de 1842, no campo do paiol; hoje, atual Passeio Público. Provavelmente Bonifácia nasceu nessas terras, que nunca foram alencarinas e nunca serão, pois o território em que pisamos de ampla maioria Negra, quilombola, camponesa e indígena não pode receber o nome de uma família racista e defensora da escravidão.

Espaço de propaganda e agitação

Na propaganda, difundiremos materiais produzidos pela Roda de Estudos sobre a luta Antiautoritária Negra. Podem ser lançados: notas de escurecimento, zines, textos e materiais online, além de textos que resgatem a memória de militantes ou produções de Organizações que possuam uma perspectiva libertária.

Na agitação viemos para quebrar as correntes da dominação e não nos silenciarmos diante da exploração e genocídio do povo Negro e pobre. Unir os quilombos periféricos e lutar contra o Estado assassino que só nos oferece migalhas de forma gradual é nosso dever.

Esperar um salvador da pátria ou que qualquer partido possa fazer algo ou parar o holocausto Negro é continuar com uma mente colonizada, subserviente e hierarquizada, por isso é fundamental a propagação da voz e luta sob a perspectiva Negra. Quantas Negras e quantos Negros não morreram com a farsa gradual do “fim da escravidão”? Fim do tráfico negreiro, Lei do ventre Livre, Lei dos sexagenários e a Lei Áurea, foram leis com uma perspectiva de fim gradual, uma falsa abolição, mas, enquanto isso, nas senzalas, porões e ruas as surras continuavam; os gritos dos açoites faziam parte do cotidiano; Um F feito em brasa no rosto de quem tentava fugir era mais uma marca deixada pelo sistema escravista; órgãos genitais eram arrancados, entre outros horrores feitos pela supremacia branca capitalista.

A tradição de luta Negra é longa e aprenderemos com nossa vasta experiência. É necessário forjarmos práticas educativas antirracistas, pois se dependermos do Estado ele nos direcionará para uma história “oficial”, uma educação acorrentada, que não nos leva para nossa raiz, nossa ancestralidade genitora. Zumbi e Dandara nos dão o exemplo e dizem: todo o povo Negro é livre ou não tem conversa. A Roda de estudos vem para semear, cultivar e partilhar novas e ancestrais práticas educativas de nosso povo, contribuindo com nossa total emancipação. É o nós por nós, já que “as ferramentas do senhor nunca vão desmantelar a casa grande” (Audre Lorde)

Palavras ESCURAS como referência para a LIBERDADE e IGUALDADE

Pelejaremos pela Liberdade cerrando as correntes que nos prendem, assim como os Negros escravizados da embarcação Laura II em 1839 (escuna que passava pelo litoral cearense com destino ao Rio de Janeiro). Os Negros rebelados tomaram a embarcação e fugiram pela praia de Arapaçu (atual Iguape). Os rebelados foram executados, assim como milhares de pessoas Negras foram e são nos dias de hoje. Sabemos que o genocídio prossegue e as chacinas estão aí bem presentes em nosso cotidiano, “mas não temos nada a perder senão as nossas correntes” (Assata Shakur), então é fundamental nossa auto formação para nossa autodefesa e empoderamento da luta antiautoritária Negra.

Aperrearemos pela Igualdade com a ferramenta da Interseccionalidade, pois não enxergamos hierarquia de opressões e visualizamos a intersecção da raça, classe e gênero. Concordamos com a Negra, feminista e lésbica Audre Lorde, que dizia:

“Não existe hierarquia de opressão. Eu não posso me dar ao luxo de lutar por uma forma de opressão apenas. Não posso me permitir acreditar que ser livre de intolerância é um direito de um grupo particular”.

METODOLOGIA

A Roda de estudos mensalmente se reunirá, podendo também organizar alguma atividade. Debateremos a partir de textos, documentários, elementos conjunturais e demandas pessoais. Os diálogos informais e ações de cunho social que o grupo possa realizar será uma outra ferramenta importante de fortalecimento da luta antiautoritária Negra.

A proposta principal é que o grupo seja um espaço de problematização de situações, com o intuito de elaborar coletivamente sugestões de mudança ou intervenção na realidade, promovendo ações concretas sobre ela.

mar 212016
 

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Entre a farsa do pacto social e a tragédia golpista: só a luta de classes decide!

Coordenação Anarquista Brasileira

20 de março de 2016

Manifestamos aqui nossa posição, das e dos anarquistas da CAB, diante do agravamento no cenário de disputa feroz entre os setores dominantes pela direção do poder político nacional.

Os expedientes usados pelo juiz Sergio Moro, a Polícia Federal e o MPF, combinado com o espetáculo orquestrado pelos oligopólios da comunicação, em especial a rede Globo, desde a condução coercitiva de Lula até os grampos vazados em paralelo a sua nomeação como ministro, são descritivos de uma luta cada vez mais agressiva pela máquina do Estado.

A direita opositora ao governo do PT se vale da judicialização da política e de toda produção do discurso seletivo e criminalizador da mídia para atuar numa “zona de fronteira” dos marcos constitucionais do direito democrático burguês. Em meio a esse cenário, têm sido comuns entusiasmadas manifestações oportunistas de setores da esquerda anti-governista com pretensões eleitorais em torno da judicialização da política. Ao contrário do que sugere estas manifestações, a judicialização da política não guia para a esquerda, muito menos para uma “revolução política”. Sugerir isso demonstra o retrocesso de expectativas e horizonte estratégico e um esvaziamento de significado que faz do que se entende historicamente por “revolução”, uma infantil bravata para ser agitada de forma torpe nas redes sociais. O oportunismo que hoje abraça esse espetáculo abre caminho para a capitulação de amanhã. Trágicos exemplos que seguiram essa via não nos faltam.

Antes de mais nada, a judicialização da política joga efeitos ideológicos que repercutem em ideias e noções conservadoras de uma salvação nacional pelas mãos do poder judiciário, da polícia ou das forças armadas. Tanto ceticismo, indiferença, a ascensão de discursos de ódio e ressentimento com a política amesquinhada pelos partidos da democracia burguesa são o caldo de cultura de um pensamento fantasioso. Uma noção de política que dispensa a participação popular e governa pelas técnicas do controle e da ordem. Pode dar asas para a imaginação autoritária de onde nascem as criaturas mais infames da política.

É pela via desses artifícios que um golpe branco está em curso. Mas, digamos em linhas muito francas para evitar equívocos: este é um tipo de golpe orquestrado por setores da direita no congresso, no judiciário, na mídia, nas organizações patronais que tomam coragem em cima da situação ridícula e patética em que caíram o PT, as autoridades do governo e as burocracias dos movimentos populares que fazem parte de seu arco de sustentação. Um PT atirado na vala comum da política burguesa é o álibi perfeito de uma ofensiva que vem para castigar os direitos e liquidar recursos e serviços públicos.

O sistema de dominação capitalista não leva a Constituição debaixo do braço para atuar. Quando tem oportunidade, ele torce a legalidade, rasga o estado de direito, mexe nas regras do jogo pela força e impõe seu poder de fato. Quando a esquerda tentou fazer reformismo apoiada nessa estrutura legal, foi, primeiramente, empurrada ao recuo organizativo e ideológico para em seguida ser severamente reprimida. A história tem vários episódios que contam isso.

Mas esse não é o caso do PT. O Partido dos Trabalhadores, parafraseando Lula, foi acovardando seu reformismo desde os anos 80 até chegar ao governo pela eleição de 2002 com um programa negociado com as estruturas do poder dominante. Foi um eficiente e deslumbrado gestor de turno do capitalismo brasileiro, associado com patrões, banqueiros e ruralistas, amigado com uma oligarquia nojenta. O PT atraiu um setor da direita para um pacto de classes com prazo de validade e o pior é que se convenceu e segue convencido que pode ser parte confiável do sistema das classes dominantes.

O fracasso da colaboração de classes que sonhou o PT e seus governos arrastou junto o movimento sindical e popular, tirou a independência de classe na luta da classe trabalhadora, dividiu e burocratizou as organizações de resistência. Fez toda uma cultura política que produziu um sujeito domesticado pelo poder, que pôs freios e cabrestos na luta de classes.

Se esse projeto sempre rezou a cartilha das regras do jogo institucional do Estado burguês, no campo popular nunca dispensou a possibilidade de pisotear os mais elementares princípios de democracia de base. Fraudes em eleições e assembleias de organizações sindicais e estudantis, manobras, agressões e perseguições a correntes e militantes dissidentes foram se afirmando como o script por excelência na base dos maiores movimentos que dão sustentação ao projeto “democrático-popular”. Nesse sentido, é sintomático notar que as burocracias dos movimentos populares a reboque são muito mais enérgicas e combativas para defender o governo de turno do que para defender a classe, constantemente aviltada por esse mesmo governo e também pelos rebaixados acordos assinados por seus sindicatos com as patronais que hoje convocam a liquidação de ambos.

Por outro lado, ativou na sociedade um recalque furioso pelo que não foi, que desperta ódios e abre espaço para emergência nas ruas de setores fascistizantes de extrema-direita, que, animados por esse mesmo recalque, buscam hoje um linchamento público de tudo aquilo que cheire esquerda, fazendo-se valer da vidraça do PT.

Quem quer assumir o governo agora e pisa por cima da carniça do PT são partidos de oposição ressentidos por ficarem de fora do controle dessa estrutura de privilégios, mas que nunca ficaram de fora do rateio dos recursos públicos e da farra com os patrões sobre o orçamento e o patrimônio público. Mas também está o mercado com o sistema financeiro e os industriais que ganharam toda sorte de juros, benefícios e privilégios durante os melhores dias da narrativa do crescimento econômico. Os agiotas, sonegadores, genocidas do povo indígena e negro, que fazem de conta que estão de fora do esquema. Eles cospem no prato que comem, engordaram com o PT e agora querem fazer da sua queda o palco de imposição do ajuste no grau máximo. Um ajuste que busca rasgar de vez os direitos trabalhistas, fazer a cama para os vampiros das patronais que pretendem precarizar ainda mais as condições de trabalho, impor o PL das terceirizações, a reforma da previdência, manter as falências fraudulentas, atirando os trabalhadores vítimas de acidentes de trabalho no olho da rua como se fossem dejetos, demitindo em massa para recontratar em condições cada vez mais precárias.

Esse é o golpe que está em processo. Que se vale do PT sócio da corrupção com as empreiteiras, avalizador do ajuste, de entrega do pré-sal, autor da lei antiterrorismo, das UPPs, da paralização da reforma agrária e da violência contra os povos indígenas e quilombolas. Que o toma como patético refém e o execra publicamente para fazer o ajuste cortar ainda mais fundo e sangrar sem limites as classes oprimidas.

O curto prazo promete um concerto por cima. Seja como for, vem um governo de coalizão agressivo contra os trabalhadores e o povo. Independente do desfecho deste trágico espetáculo, o que veremos serão coxinhas e jararacas, cada qual a sua forma, buscando fazer valer o ajuste, ainda que com graus de variações distintos. A punhalada está vindo de frente pela direita ideológica, mas também pelas costas, aplicada por um governo e partido que não deixa de se valer de um discurso emotivo e irracional, que convoca mitologias e fetiches em torno de um passado de luta como forma de criar uma cortina de fumaça ao seu ajuste e ao seu claro projeto político de centro-direita.

A eterna espera pela “guinada à esquerda” nesses dias se manifesta na defesa intransigente de um Lula ministro que não esconde que chega para tentar salvar a aliança com o PMDB e o restante da base aliada, leiloando o que pode, com os joelhos dobrados cada vez mais à direita. Enquanto a cortina de fumaça midiática agita uma polarização de “torcidas”, as mãos se fecham em acordos pelo avanço da privatização das empresas estatais e adequamento do aparato repressivo para a maior criminalização do povo que luta.

Somos contra este golpe, porque ele implica um corte mais profundo na carne das classes oprimidas e abre caminho para uma correlação de forças ainda mais desfavorável para os de baixo. Mas não admitimos negociar nenhum direito para servir como moeda de troca deste governo moribundo que cavou sua própria cova ao trair as expectativas dos/as trabalhadores/as e ao sancionar a lei antiterrorista em plena crise política. Vamos lutar realmente contra esta tentativa de golpe, sem aderir ao reboquismo e ao mesmo tempo sem perdoar a pelegada, ao fortalecer uma posição à esquerda, de combate e a partir da concepção de que só podemos contar com nós mesmos e com o povo em luta organizado construindo seu próprio caminho, contra todo e qualquer golpe historicamente aplicados pelas/os de cima contra as/os de baixo.

Nosso lugar nessa dramática e decisiva disputa é fazer valer a independência de classe como a real alternativa às classes oprimidas. Uma alternativa de classe que no curto prazo, marcado pelo trágico desmantelamento organizativo do tecido social, se traduz na mais resoluta solidariedade de classe. Dar disputa ideológica em defesa das lutas que surgem desde baixo e aportar toda solidariedade possível; buscar estender e massificar as greves, ocupações, atos contra as medidas de austeridade e a carestia para, a partir daí, se acumular forças reais para radicalizar a independência de classe, colocando-a como efetivo embrião de poder popular, de um forte e solidário punho a se estender dos oprimidos em todos os rincões do país e golpear de forma altiva e destemida os patrões, governos e também o peleguismo e a traição de classe.

A organizar os diversos setores que compõem a classe trabalhadora, construindo movimentos sociais e fortalecendo seu protagonismo popular, pautando sua autonomia e combatividade! Apenas o avanço do poder popular será capaz de tanto dar resposta ao avanço da onda conservadora que toma o país, quanto resistir aos retrocessos impostos pelo governo.

Uma só classe, uma só luta!

Derrotar a direita golpista e avançar na luta contra o pacto de classes!

Pelo socialismo e pela liberdade!!!

 

mar 202016
 

Por Grupo de Trabalho em Gênero da Organização Resistência Libertária (ORL),

organização integrante da Coordenação Anarquista Brasileira (CAB)

Dentro da sociedade capitalista a mulher é duas vezes escrava: é protegida, a tutelada, a “pupila” do homem, criatura domesticada por um senhor cioso e, ao mesmo tempo , é a escrava social de uma sociedade baseada no dinheiro e nos privilégios mantidos pela autoridade do Estado e pela força armada para defender o poder, o dominismo, o industrialismo monetário.”

Maria Lacerda de Moura.

É difícil precisar uma definição de feminismo, pois este termo traduz um processo de lutas que é atravessado por influencias de diferentes ideologias, desde concepções liberais-burguesas até distintas concepções de socialismo. Inicialmente, podemos estabelecer que o feminismo pretende a busca de igualdade política, econômica, social e sexual entre homens e mulheres, pessoas cisgeneras ou transgeneras[1]. Portanto, o terreno de contestação (e de afirmação) do feminismo são as implicações sociais das construções de gênero e das pessoas e símbolos envolvidos nesta construção.

Assim, podemos definir o feminismo como o conjunto entre a teoria e a prática que pretende a construção de uma nova sociedade, em que impere a igualdade de gênero. Quanto ao anarquismo, entendemo-lo como o objetivo de “transformar a atual sociedade capitalista burguesa em uma sociedade que assegure ao trabalhador os produtos de seus esforços, sua liberdade, independência, igualdade política e social. Esta outra sociedade será o comunismo libertário, no qual a solidariedade social e a individualidade livre acharão sua expressão plena, e no qual estas duas ideias se desenvolverão em perfeita harmonia.” [Plataforma Dielo-Truda]. Assim, entendemos que o anarquismo se aproxima do feminismo porque ambos tocam nas relações de poder instituídos na sociedade, visando destruir o poder autoritário e a construir o poder popular, desde baixo e à esquerda, sempre pautado nas lutas pela igualdade e contra as opressões, incluindo a igualdade de gênero.

Anarquistas associam o Estado ao poder centralizado, portanto, ao autoritarismo, e acreditam não ser possível chegar a uma outra sociedade através de etapas que conservem a existência do estado, pois acreditamos, como mostra a historia, que o estado não irá definhar depois de algum tempo.Conservá-lo é fortalece-lo e, enquanto ele existir, será autor de inúmeras injustiças e não permitirá que floresça a liberdade. Portanto, nós anarquistas não acreditamos ser possível a adoção de um meio que conflite com o fim pretendido, e desde já buscamos coerência com nossos objetivos finalistas: o socialismo libertário. Ainda como anarquistas acreditamos na interdependência estrutural das três esferas: política, econômica e social e na interseccionalidade das opressões.

Nós, feministas anarquistas, estamos inseridas nas fileiras das feministas classistas. Chamamos de feministas classistas aquelas que reconhecem que a sociedade é dividida em classes e identificam a luta de classes como seio da opressão, permanecendo na luta ao lado classe explorada.

Para nós, feministas anarquistas, as opressões que as mulheres sofrem surgem e se potencializam a partir de diversas esferas: econômica, social, política, étnica, racial e de diversidade sexual. Com isso, queremos dizer que além da desigualdade econômica, um feminismo anarquista deve compreender a construção das desigualdades de gênero sobre diversas interfaces. Aqui, precisamente, diferenciamo-nos do feminismo marxista, essencialmente economicista. Para as feministas marxistas, a opressão das mulheres sob o capitalismo tem uma base essencialmente econômica, mas para nós, feministas anarquistas, a opressão das mulheres no capitalismo não tem uma base essencialmente econômica. É claro que fatores de ordem econômica agem na construção das opressões de gênero no capitalismo. Basta lembrar o trabalho doméstico da mulher, que não é pago, mas que agrega valor, além da jornada de trabalho apropriada diretamente pelo empregador.

O capitalismo nos explora duas, três ou quatro vezes mais, quando nos força aos dois trabalhos: de produção e o de reprodução. O trabalho de produção está associado à produção de mercadorias e serviços, em espaços públicos ou privados[2]. O trabalho de reprodução diz respeito tanto à obrigatoriedade da função biológica da reprodução, quanto à função socializada de cuidar da casa e dos filhos, assim como satisfazer as necessidades masculinas de intimidade e satisfação sexual. Esses trabalhos de reprodução foram historicamente ocupados por mulheres. Atualmente, mesmo quando a mulher branca se aparta do trabalho de reprodução, ocupando-se exclusivamente do trabalho de produção no capitalismo, deixa uma mulher negra nesse posto, mais um sintoma de uma sociedade que conjuga capitalismo, machismo e racismo. Sempre é associado à mulher os trabalhos de produção e reprodução. Assim, por exemplo, no Brasil as mulheres costumam receber salários menores que os dos homens, nos mesmos postos de trabalho, além de serem excluídas de certas posições consideradas mais apropriadas ao sexo masculino.

Quando o gênero e a raça se entrelaçam, a opressão toma seu posto mais cruel. A opressão da mulher negra pelo Estado e pelo capitalismo adquirem outras formas de expressão. O racismo, marca de um país ainda escravocrata, reserva às mulheres negras, mais que às brancas, serviços domésticos sem direitos trabalhistas etrabalhos informais. São as mulheres negras as mais presentes no sistema penitenciário brasileiro, as que criam seus/suas filhos/filhas sozinhas, as mais espancadas pela polícia, as que mais enfrentam os senhores de engenho e os capitães-do-mato. São as mulheres negras as que mais sofrem com as violências institucionais do Estado, desde as doenças transmitidas por falta de saneamento básico nos bairros da periferia, até a ausência de serviços de saúde e educação em seus bairros. São as mulheres negras que mais sofrem em revistas íntimas vexatórias nas filas dos presídios brasileiros quando vão visitar companheiros e filhos.

As percepções mais recentes têm mostrado, contudo, que às atitudes tradicionais a respeito da mulher somam-se outras formas de machismos, nas quais a antipatia a elas dirigida tem se expressado de forma simbólica ou indireta. Assim, hoje podemos distinguir entre uma forma de machismo antigo (mas ainda presente) e uma forma de machismo percebido recentemente. O machismo antigo define-se pelo endosso a papéis de gênero tradicionais, tratamento diferencial entre mulheres e homens e estereótipos sobre a menor competência feminina; enquanto o machismo percebido recentemente associa-se à negação de que a discriminação contra a mulher ainda exista e a um antagonismo contra as atuais lutas da mulher por maior inserção nas lutas sociais. O machismo percebido recentemente, portanto, baseia-se, também, em sentimentos negativos sobre as mulheres, muito embora eles sejam mais encobertos e relacionados a práticas mais contemporâneas.

Partimos da certeza que vivemos em uma sociedade patriarcal que tem em sua gênese a propriedade sobre o corpo e a vida das mulheres. Para nós feministas anarquistas, o patriarcado só será destruído com a derrubada do capitalismo. Assim, temos uma ponte entre o feminismo e o anarquismo, em que ambos contestam as relações de poder advindas de construções sociais de gênero, poder econômico, social ou simbólico.

Por isso, para nós o anarquismo não existe sem o comprometimento com a luta feminista.No entanto, não é suficiente reconhecer que a anarquia é “um lindo ideal”. É necessário querer chegar à anarquia através do combate às opressões que existem hoje, ou ao menos guiar esse combate para nos aproximar da anarquia, tratando de atenuar o domínio do Estado, do capitalismo e dos privilégios de identidade de gênero, raça, e orientação sexual, reivindicando sempre mais liberdade e mais justiça social.

Maria-Lacerda-de-Moura-anarquista2

[1] Pessoas trangêneras nascem com um sexo que difere do socialmente vinculado à identidade de gênero que elas se reconhecem. Pessoas cisgêneras nascem com um sexo que coincide com o socialmente vinculado à identidade de gênero que elas se reconhecem. Compreendemos por mulheres as pessoas que se identificam com essa identidade de gênero, portanto, mulheres cisgêneras ou transgêneras.

[2] Se analisamos a história da América Latina, não é correto apontar que historicamente foi papel apenas do homem executar trabalhos de produção em espaços públicos, sob pena de estarmos nos apropriando de um feminismo branco e eurocêntrico. As mulheres negras, escravas, sempre executaram trabalhos de produção, nos canaviais e cafezais. As mulheres negras nunca foram associadas ao sexo frágil, relegadas apenas ao espaço do lar.

mar 182016
 

Continuação do Mês de Março Feminista e Libertário!

As mulheres da Organização Resistência Libertária (ORL/CAB) convidam a todxs para a continuação do “Mês de Março Feminista e Libertário”. A próxima atividade será a terceira edição do Ciclo de Debates Anarquistas, que terá como tema “Anarquismo e Gênero”. O Ciclo acontecerá no dia 19 de março, às 09h, na Sede do PRECE, na Rua Juvenal Galeno, 413 (entre a Av. da Universidade e a Av. Carapinima).

 

anarquismo e genero

mar 172016
 

logo cab pequeno

Quem trabalha com a educação vive um momento difícil. O PT, à frente do governo federal, executa políticas com a única finalidade de agradar empresários, latifundiários e especuladores. A queda na taxa de crescimento do país leva ao enxugamento da máquina pública e os primeiros cortes são nos direitos da classe oprimida. Não poderia ser diferente: o Estado cumpre sua função, que é garantir os privilégios de quem é rico às custas de quem é pobre.

O Governo da Pátria Educadora iniciou 2015 com um corte de 10,5 Bilhões no orçamento da educação. Vimos o sucateamento de várias universidades federais, com o atraso do pagamento dos setores terceirizados, levando ao atraso do ano letivo; no que tange à formação de docentes, vemos o programa PIBID sendo afetado. No campo, desde 2003, foram fechadas 38 mil escolas. Uma clara ofensiva sobre a conquista dos camponeses na educação. Para 2016, a promessa é um corte ainda maior, indo contra uma das pautas conquistadas pelos movimentos sociais, que prevê o aumento progressivo do investimento. E segue a aplicação do PNE somente nos aspectos que levam a maior privatização da educação. Em meio a isso tudo, traz uma nova proposta de modelo curricular, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), de forma vertical e impositiva, sem que haja tempo hábil para discussão, tentando vender a ilusão de que, mesmo com os cortes, é possível melhorar a educação do país.

Mas os ataques não são a política apenas de um ou outro governo. Em Goiás, o governo do PSDB avança a passos largos a privatização da educação pública. Está em vigor um projeto que prevê a gestão das escolas por Organizações Sociais (OS). Tais organizações, segundo a lei, são “sem fins lucrativos”, ao mesmo tempo elas podem firmar convênios para arrecadar recursos. Sabemos que no capitalismo nenhum empresário irá gerir uma escola pensando na educação dos filhos e filhas da classe oprimida, certamente veremos a influência ideológica dessas empresas em nossas escolas. Essas organizações sociais serão responsáveis pela contratação de docentes, funcionárias e funcionários. Além disso, o governo abriu as portas para as Parcerias Público-Privadas (PPP), nas quais é possível terceirizar todos os setores com exceção do pedagógico.

Vemos ainda o modelo de militarização da escolas sendo implementado amplamente. Somente em Goiás, 15 escolas já seguem esse modelo. Essas escolas passam a ser geridas pela polícia militar, com militares sendo colocados à frente da direção das escolas. A juventude que estuda é obrigada a bater continência, cantar o hino e vestir-se segundo um código rígido. Até mesmo o vocabulário é controlado. Para piorar, existe a cobrança de uma “contribuição voluntária” mensal. Essa concepção de escola baseia-se na repressão e no medo como instrumentos, representando um avanço do que há de mais conservador na ideologia dominante para dentro da escola pública.

O governo paranaense (também do PSDB) realizou uma reforma da previdência, que confisca o fundo previdenciário dos servidores, comprometendoa previdência social do estado. Modelo que também está em processo de aprovação e implementação no estado de Mato Grosso. As categorias de servidores públicos resistiram massivamente, chegando a ocupar a Assembléia Legislativa (o que se repetiu em outros estados, como São Paulo e Santa Catarina). Porém, frente a resistência dos trabalhadores e trabalhadoras, o estado paranaense armou uma das maiores operações de repressão ao movimento sindical da história. No dia 29 de Abril, com um contingente de 4000 policiais, incluindo helicópteros e a tropa de choque, massacrou as categorias, deixando mais de 200 pessoas feridas.

No estado de São Paulo, outro estado gerido pelo PSDB, foi apresentado um projeto de “reorganização escolar” que previa o fechamento de quase 100 escolas. Porém, antes que fosse aplicado, estudantes ocuparam quase duzentas escolas, resistindo. Mesmo diante da repressão e das investidas do governo, resistiram, conseguindo fazer com o que projeto fosse retirado, provando mais uma vez que a ação direta é efetiva.

Em Mato Grosso, uma série de ataques vem sendo desferida contra trabalhadoras e trabalhadores da Educação da rede básica. Ataques impostos pelo governo PSDB e suas políticas neoliberais. A maior parte da categoria é composta por trabalhadores contratados, mais de 60%; contratos que precarizam as condições desses trabalhadores, pois não garantem o plano de carreira, 13º é reduzido, não garantem direito ao recebimento das férias e deixam os contratados totalmente sem salários nos meses de janeiro e fevereiro. O Estado “economiza” às custas dos trabalhadores! Apesar dessa condição a da existência comprovada da necessidade de efetivar essas vagas, o governo tarda e se nega a discutir a realização do concurso público. Em 2015, o reajuste inflacionário, garantido por lei, foi parcelado e as datas apontadas para seu pagamento foram todas desrespeitadas. O governo ainda fez várias modificações de modo autoritário, que tiveram consequência diretas no chão da escola, atrasando e precarizando o início do ano letivo de 2016. Ataca, principalmente, a autonomia das escolas, retirando a escolha democrática da coordenação pedagógica, antes eleita pelos trabalhadores, e ameaçando e controlando as decisões das escolas.

No Rio de Janeiro, o sucateamento das escolas e o processo de precarização e privatização da educação pública caminha a passos largos, professores e professoras do estado entraram em greve no dia 2 de março. A UERJ também aderiu à greve, assim como a FAETEC. A UENF em Campos, norte do estado, deve aderir em breve. A FAPERJ sofre cortes todo ano. Por isso, a educação estadual se encontra em uma greve unificada e muitos municípios vêm parando oujá se encontravam parados, caso de Cabo Frio na região dos Lagos. O Governo Pezão (PMDB) encaminhou um “pacote de maldades” a ser votado pelo legislativo dirigido ao serviço púbico estadual. Este inclui a proposta de reajuste zero por 3 anos e o aumento progressivo da arrecadação previdenciária de 11% para 18%, para além das ações já implementadas, como mudança da data base de pagamento e o parcelamento do 13º de 2015.

Fora que a situação das escolas é péssima, falta água, luz, merenda, material didático, equipamentos e um quadro de funcionários capaz de mantê-las em funcionamento. No Rio de Janeiro, o processo de eleição de diretores ainda está distante da realidade da maioria das escolas, apesar de ser um direito da comunidade escolar, que é obrigada a conviver sob a tutela de direções indicadas ou meritocráticas. Em 2016, não terá concurso para o magistério, tampouco para administrativos. Os contratados e terceirizados, as contratadas e terceirizadas conseguem se encontrar em uma situação ainda mais precária que os servidores estatutários, trabalhando com meses de salários atrasados, sofrendo ameaças e sem nenhum direito ou abono garantido. As insatisfações se acumulam e o sindicato da categoria paga por anos de uma metodologia de luta que aliena a base do protagonismo das lutas. Mas professores e professoras do estado estão “dando uma aula”, acumulando com a experiência das últimas greves e aprendendo com o exemplo da mobilização dos servidores e servidoras no Paraná e do movimento de ocupação das escolas pela estudantada em São Paulo, o que alimenta as perspectivas e o horizonte de lutadores e lutadoras da educação fluminense.

No Rio Grande do Sul o cenário de desmonte da educação pública segue à risca a cartilha aplicada pelo PSDB em outros estados. O governo do PMDB não deixa em nada a desejar no que se refere aos sistemáticos ataques aos trabalhadores e trabalhadoras da educação. Desde o início de seu mandato assumiu o “discurso da crise”, do “corte de despesas” e do “ajuste fiscal” para tentar justificar o injustificável, ou seja, um conjunto de projetos que retira e flexibiliza direitos básicos da maioria da população em prol dos interesses das elites econômico-empresariais. A aplicação do receituário neoliberal iniciou com cancelamento de nomeações de concursados em lista de espera e atraso no pagamento de fornecedores (o que resultou em falta de merenda escolar, materiais de escritório, higiene e limpeza em diversas escolas), se ampliou com o atraso e parcelamento de salários do funcionalismo por vários meses (chegando ao cúmulo de pagar como “parcela inicial” menos de um salário mínimo) e com a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que, entre outras consequências, congelou os míseros salários dos trabalhadores da educação que nem sequer recebem o valor do piso nacional, acumulando uma perda salarial de mais de 70%. A categoria reagiu enfrentando esses ataques através de uma das maiores greves da educação dos últimos anos. Porém, além do governo, a categoria teve de enfrentar o peleguismo golpista e entreguista da direção do Sindicato (ARTSIND – CUT/PT), que desde o início manobrava os Conselhos e Assembléias para fazer passar na marra uma estratégia imbecil de “greve parcelada”, sob o argumento fajuta de “manter a unidade com outros setores do funcionalismo público estadual”. O movimento grevista crescia e ações descentralizadas (em bairros, escolas, zonais, etc.) começavam a ganhar corpo. O medo de “perder o controle” sobre a greve fez com que a direção do sindicato pusesse fim ao movimento através de um golpe no momento da contagem de votos em uma Assembléia que decidia pela continuidade da greve. Essa manobra, verdadeiramente golpista, trouxe em um primeiro momento revolta e, em seguida, desencanto e frustração para a categoria. A ação do sindicato funcionou como um “sinal verde” para o governo que, a partir desse momento, ampliou os ataques com a aprovação de vários Projetos de Lei que passaram a dar “legitimidade institucional” para o ajuste fiscal e retirada de direitos. O ano de 2016 começou com ainda mais ataques, como o aumento de carga horária, remanejamento de funcionários(as) e professores(as), demissão decontratados(as), ameaça de fechamento de escolas, fechamento de turmas e turnos (o que aumenta o número de estudantes em cada sala de aula), etc. A direção do sindicato não tem nenhuma legitimidade perante a categoria, suas propostas são ínfimas perante a magnitude dos ataques e o desafio de mobilização passa, invariavelmente, pelo trabalho de base, não só dentro das escolas, mas também dentro das comunidades onde elas estão inseridas.

A educação do campo também sofre com perseguições, criminalizações e fechamento de escolas em várias regiões do país. Enfrentam a precarização da educação de modo intenso, bem como as imposições de governos que desconhecem as realidades dessas escolas. Assim, governos e prefeituras têm dificultado o processo de atribuição de trabalhadores pertencentes às comunidades nas quais tais escolas estão inseridas, que conhecem sua realidade e lutam em sua defesa. Reduzem também os investimentos para uma educação mais digna!

A resistência vem de baixo

Frente à essa conjuntura, vemos resistência da classe oprimida, como nas ocupações de escolas e nas greves. Porém, essa resistência é localizada e os ataques acontecem nacionalmente. As velhas táticas de conciliação de classes e negociatas utilizadas pela burocracia sindical, em especial pelas direções ligadas à CUT, que estão à frente da maior parte dos sindicatos de trabalhadores em educação, não nos servem. Os ataques continuam e se aprofundam enquanto os dirigentes tentam “dialogar” com os governos.

A resistência deve vir de baixo, da mobilização da classe oprimida, construída no trabalho de base cotidiano, prática que as burocracias abandonaram há muito tempo. Se tentarmos enfrentar os governantes nos espaços onde eles têm mais força, como no parlamento ou na justiça, não temos chance. Devemos levar a luta para onde nós, trabalhadores e trabalhadoras organizadas, temos força. Não devemos buscar construir acordos com a classe dominante, devemos enfrentá-la, nas ruas, através da ação direta.

A CNTE convoca 3 dias de mobilização e compreendemos que isso deve ser apenas o começo de uma luta mais intensa. Não basta ir às ruas um dia e ter uma sensação de “missão cumprida”, enquanto os governos intensificam os ataques. 3 dias são o começo, mas é preciso que a luta e a mobilização sejam construídas e fortalecidas no decorrer do ano inteiro, de baixo e de forma combativa; o que não temos observado nos anos anteriores na prática da CNTE, que parece desaparecer em papéis burocráticos no restante dos 365 dias ou que se volta mais para defesas do governo Dilma / PT do que para a luta real dos trabalhadores. Prática reproduzida por muitos sindicatos de trabalhadores da educação filiados à CUT. Precisamos intensificar nossas lutas, trazendo de volta o movimento sindical para a rua, apostando em táticas mais efetivas como piquetes e ocupações. Somente dessa forma, teremos condições de reverter a atual conjuntura.

 

Retomar os piquetes e as ruas!

A nossa luta é todo dia! Educação não é mercadoria!

Lutar! Criar! Poder Popular!

Coordenação Anarquista Brasileira – Março de 2016.

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