abr 152016
 

Site da Coordenação Anarquista Brasileira

As organizações anarquistas especifistas que compõe a Coordenação Anarquista Brasileira (CAB) vêm repudiar veementemente o ataque orquestrado pela Polícia Militar em conluio com jagunços e seguranças particulares da empresa madeireira Araupel contra um grupo de militantes sem-terra no dia 7 de abril de 2016, quinta-feira, que culminou na morte de dois sem-terra e outros tantos feridos.

luto - toda solidariedade aos sem-terra

Histórico de lutas dos sem-terra na região:

Na região sudoeste do estado do Paraná, onde fica o município de Quedas do Iguaçu e o Acampamento Dom Tomás Balduíno, o agronegócio está fortemente presente com monoculturas de soja, pinus e eucalipto e indústrias madeireiras. Nessa mesma região existe um rico histórico de lutas populares pela terra, construído com muito suor e sangue. É uma área de muitos conflitos em que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) vem construindo uma história de peleia pela reforma agrária popular e também importante pelo seu valor simbólico: foi na cidade de Cascavel que o MST teve sua fundação formal em 1984.

Os conflitos que se agravam na região são de longa data, mas podemos perceber intensificação a partir de 2015, ano de surgimento de dois novos acampamentos do MST em terras paranaenses: Acampamento Dom Tomás Balduíno, em Quedas do Iguaçu, com cerca de 2,5 mil famílias e Acampamento Herdeiros da Terra de 1º de Maio, em Rio Bonito do Iguaçu, com cerca de 1,5 mil famílias. Ambos os acampamentos ocuparam terras que tinham sido griladas pela mesma empresa madeireira, Araupel.

Em 8 de março 2015, para evidenciar que o Dia Internacional da Mulher é um dia de luta e não de comemoração, um grupo de Mulheres do MST, realizaram uma ação política no viveiro de mudas da empresa, ocupando e destruindo mais de 5 milhões de reais em mudas de pinus.

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Ataque da PM, Araupel e jagunços

No período da tarde do dia 7 de abril, quinta-feira passada, um grupo de aproximadamente 25 trabalhadores e trabalhadoras circulava em caminhonetes e motocicletas no acampamento Dom Tomás Balduíno; perímetro da área demarcada como pública pela Justiça Federal. O grupo de trabalhadores e trabalhadoras foi surpreendido por disparos de armas de fogo da PM e seguranças particulares da empresa Araupel contra os veículos, o que fez com que eles fugissem dos disparos para dentro das matas em direção ao acampamento que se encontrava a 6 km de distância.

Os fatos demonstram ser falaciosa a ideia de “confronto” apontada pela grande mídia. Não houve confronto, pois não havia qualquer igualdade de condições. A própria Polícia Militar admite ter encontrado os corpos nas matas e que todos os tiros atingiram os trabalhadores pelas costas, o que faz cair por terra a nota pública da Secretaria de Segurança Pública do Paraná (SESP/PR) emitida sobre o assunto no mesmo dia. Nota-se que a relação dos monopólios e oligopólios da mídia paranaense e brasileira estão em enorme sintonia com os empresários da Madeireira Araupel e do agronegócio em geral.

Segundo a versão da SESP/PR, as equipes policiais tinham ido atender a ocorrência de um incêndio nas áreas do acampamento, porém estavam presentes grupos especiais da Polícia Militar, como o BOPE e a ROTAM, mas o Corpo de Bombeiros sequer tinha sido acionado.

No ataque ao grupo dos sem-terra, os trabalhadores Vilmar Bordim, 44 anos, pai de três filhos, e Leomar Bhorbak, 24 anos, com esposa grávida de 9 meses, tiveram suas vidas ceifadas, em nome da defesa do latifúndio, do agronegócio, do “desenvolvimento econômico” do Brasil. Além disso, mais dois trabalhadores rurais que foram detidos e após duas horas foram liberados.

A nota pública da SESP/PR é incisiva e deixa claro até que ponto eles estão dispostos a encobertar o ocorrido:

“Mais de 20 pessoas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) estavam no local e começaram a disparar contra as equipes da PM, que reagiram ao ataque.”

Com o titulo da nota, eles demonstram, apesar de tudo, querer ainda responsabilizar e criminalizar o movimento pelo acontecido:

“Policiais são alvo de emboscada em Quedas do Iguaçu”

Ainda, segundo a Polícia Militar,

“Com eles, a polícia apreendeu uma pistola 9 milímetros e uma espingarda calibre 12.”

Como é possível falar em confronto entre um grupo de trabalhadores rurais com uma espingarda e uma pistola (se é que realmente estavam) contra duas equipes da Polícia Militar, da ROTAM (Rondas Ostensivas Tático Móvel) e BOPE (Batalhão de Operações Especiais), além de um grupo de jagunços?

Nota da Secretária Estadual de Segurança Pública do Paraná: http://www.seguranca.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=9886&tit=Policiais-sao-alvo-de-emboscada-em-Quedas-do-Iguacu

Ainda há outros elementos que demonstram a barbárie ocorrida: parentes, amigos e imprensa foram impedidos de acessar o local por horas, não puderam socorrer os feridos do ataque, nem averiguar a situação do local. Os policias chegaram a retirar os corpos das vítimas sem a presença do IML – Instituto Médio Legal, como também os próprios objetos pessoais das vítimas. Todas as delegacias e hospitais da cidade de Quedas do Iguaçu para onde foram levados os sem-terra envolvidos no acontecimento foram cercadas pela Polícia Militar, que impediu qualquer acesso às vitimas, até mesmo de advogados.

Um ataque com nome e assinatura

O embate entre Araupel x MST vem se arrastando há alguns anos, tanto na esfera jurídica quando na esfera da luta nas ruas. Recentemente o MST obteve algumas vitórias na justiça, um dos motivos que fez com que a Araupel, recorresse a meios “mais eficazes” para atingir seu objetivo: exterminar os sem-terra que ocuparam “suas” terras.

O Poder Judiciário tem um lado, e não é o das pessoas pobres. Mas quando os pobres se organizam em movimentos sociais para obter seus direitos, pressionam e conquistam seus objetivos. Os derrotados na esfera legal, que muitos momentos recorrem ao discurso da legalidade para validar seus objetivos, rasgam qualquer lei quando convém. Quando lhes interessa, recorrem aos meios mais violentos como a contratação de grupos para-militares, jagunços, pistoleiros, capangas de fazendeiros para o assassinato de lideranças camponesas ou quem quer que esteja lhes perturbando.

No dia primeiro de abril deste ano, o deputado federal Valdir Rossoni (PSDB-PR), agora ministro chefe da Casa-Civil do Paraná, foi a Quedas do Iguaçu participar de uma audiência que discutia a questão dos conflitos agrários na região. Segundo o MST, Rossoni se comprometeu com a Araupel – que foi quem financiou sua campanha eleitoral – teria que retribuir o “favor” e “resolver o problema com os sem-terra”. Para isso, foi solicitado o envio de mais de 80 soldados da PM para a região a fim de “combater a eminência da criminalidade” na região. Segundo ele os acampamentos seriam os maiores responsáveis pela criminalidade na região. Nota-se a clara tentativa de criminalizar o movimento social.

Questão Jurídica do território Rio das Cobras:

No ano de 2004, O INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) entrou com uma ação na Justiça contra a grilagem da Araupel, para que os títulos de propriedade da terra da empresa fossem declarados como nulos. Em maio de 2015, a juíza Lilia Côrtes de Carvalho de Martino, da 1ª Vara Federal de Cascavel, declarou nulo estes títulos de propriedade da fazenda Rio das Cobras (que até então estavam nas mãos da empresa), como também considerou ilegal toda a cadeia dominial das terras. Assim, elas pertenceriam à União.

O que aconteceu no dia 7 de abril foi uma tentativa desesperada da Araupel de retomar suas terras através da violência, ameaças e assassinatos.

A iminência de conflitos agrários no Paraná é cada vez mais nítida. Além desse caso, houve também a reintegração de posse na Terra Indígena Boa Vista, no início de março.  Pouco depois, a liderança Kaingang da comunidade, Claudio Rufino, foi presa e ainda hoje se encontra encarcerada pela Policia Federal em Curitiba, com acusações das mais variadas diversas, desde porte de armas à cárcere privado.

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Conjuntura de repressão e criminalização dos que lutam:

Está em curso uma agenda de ataques severos aos povos do campo e florestas que lutam por seus territórios e direitos sociais. No último dia 6 de abril houve a reintegração de posse do Território Indígena Gravatá, no município de Ilhéus – Bahia, onde vive a aldeia indígena Tupinambá. No dia anterior havia sido feita uma negociação entre os indígenas e a Polícia Militar para que não houvesse a reintegração, entretanto, como era de se esperar, a PM não cumpriu sua parte do acordo. E no fatídico dia 7 de abril o cacique Rosivaldo Ferreira da Silva, o Babau, foi preso por porte de arma.

O cacique Babau é uma liderança indígena com grande histórico de luta e perseguição. Existe, naquela região, grande interesse econômico na retirada de areia, entretanto, a comunidade Tupinambá sempre se posicionou contrária a pratica, impedindo a entrada e saída de veículos e caminhões.

Também neste caso o Estado assume seu lado na figura do juiz Lincoln Pinheiro da Costa, da Justiça Federal de Ilhéus, que vem atuando para defender a retirada de areia da terra indígena tupinambá, comprovando o seu caráter de classe.

20 anos do Massacre de Eldorados dos Carajás

Há 20 anos do Massacre de Eldorados dos Carajás o Estado continua mantendo e preservando ferozmente os interesses de quem explora e esmaga os pobres. Cumpre assim o papel de servir a uma minoria privilegiada, legitimando a exploração e opressão dos de baixo e se utilizando de todos os meios possíveis para manter o sistema de dominação.

O Massacre de Eldorados dos Carajás ocorreu em 1996 no Pará, em que a Policia Militar assassinou 19 trabalhadores rurais. Não será esquecido!

Assim, no período em que se marca os 20 anos do Massacre no Pará, vemos cada vez maior a intensificação das pautas da bancada ruralista contra os povos do campo, floresta e mar.

Viemos manifestar todo nosso apoio e solidariedade aos que lutam. É somente a partir da ação direta do povo, da autogestão e da autonomia dos movimentos sociais que conseguirmos avançar rumo a uma sociedade mais justa.

Toda solidariedade aos sem-terra!

Leomar Bhorbak e Vilmar Bordim vivem!

Solidariedade ao cacique Tupinambá Babau!

Lutar! Criar Poder Popular!

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Coordenação Anarquista Brasileira – CAB

14 de abril de 2016

abr 092016
 

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Carta de Saudação da Coordenação Anarquista Brasileira ao

Ato de Fundação da Organização Anarquista Zabelê (OAZ)

A Coordenação Anarquista Brasileira comemora a Fundação da Organização Anarquista Zabelê (OAZ). A CAB é resultado de um processo de reconstrução da ideologia anarquista no Brasil desde a década de 1990, que foi aos poucos se gestando nas discussões do Fórum do Anarquismo Organizado (FAO) e se concretiza como Coordenação em 2012. Recorremos a este histórico com um único objetivo, o de reconhecer também o esforço e o processo de organização do Anarquismo no Piauí, saudando de maneira unânime nossas companheiras e companheiros por mais esta iniciativa.

O Anarquismo tem ganhado espaço no cenário nacional e com isso inúmeras propostas e iniciativas libertárias tomam corpo no país, concretizando alternativas autoorganizadas e potentes na construção de movimentos sociais cada vez mais fortes. No entanto, muitos desses projetos com o tempo naufragam e acabam virando apenas “iniciativas”, perdendo a oportunidade de concretizar-se em verdadeiros espaços de agitação e articulação das lutadoras e lutadores desse país.

Nesse sentido, elogiamos o passo dado pelxs companheirxs do antigo Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí (GEAPI), que depois de 2 anos de estudos, discussões e lutas – e retomando as experiências de várixs militantes ao longo dos últimos anos –, amadureceram o projeto de fundar uma Organização Anarquista Especifista nesse estado, em sintonia com o projeto já em curso no Brasil.

Nesse país, com dimensões continentais, é necessário fincar pé em cada lugar. E nós, militantes da CAB, nos sentimos irmanadxs pelo projeto que agora tem início no Piauí. Para nós, não é “apenas” o surgimento público de uma nova organização política ao nosso lado. É, pois, um novo sotaque em cada palavra que iremos difundir em todos os lugares. Por um lado regionaliza o projeto de construção nacional e avanço do anarquismo e, por outro, são novas idéias energias e sonhos que ousarão construir novas táticas de lutas para todo o país. A grandiosidade de nossos objetivos finalistas impõe a necessidade de enraizarmos nossa ideologia em cada palmo de chão desta terra.

Destacamos ainda duas iniciativas que nos pareceu exitosas e que merecem ser lembradas nesta saudação. Trata-se dos dois Congressos realizados no Piauí (CONAPI’s). Nós entendemos que esses Congressos tiveram uma importância fundamental tanto para a criação da OAZ quanto para nosso afinamento. Foram momentos em que tivemos oportunidade de ver vários projetos libertários em curso por todos os cantos, e de maturar conceitos e propostas de intervenção e de organização política.

Além disso, registramos aqui o fortalecimento do eixo Teresina/Sobral/Fortaleza. Nos últimos dois anos, a organização conjunta de várias atividades nas três cidades, como foram os Seminários “Anarquismo e Organização Popular”, demonstram claramente laços importantes e que certamente fará nossa bandeira avançar.

Diante de uma conjuntura bastante singular em nossa história e com expectativa de ainda mais ataques a nossa classe, temos como urgência a organização em nossos locais de estudo, trabalho e moradia. Acreditamos que a Organização Anarquista Zabelê irá contribuir imensamente para seguirmos buscando soluções para os enormes desafios na construção do Poder Popular.

 

Viva a Organização Anarquista Zabelê!!!

Fazer crescer a bandeira negra!!!

Viva a Anarquia!!!

Coordenação Anarquista Brasileira

09 de Abril de 2016

Baixe a Carta de Saudação da CAB a OAZ

mar 212016
 

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Entre a farsa do pacto social e a tragédia golpista: só a luta de classes decide!

Coordenação Anarquista Brasileira

20 de março de 2016

Manifestamos aqui nossa posição, das e dos anarquistas da CAB, diante do agravamento no cenário de disputa feroz entre os setores dominantes pela direção do poder político nacional.

Os expedientes usados pelo juiz Sergio Moro, a Polícia Federal e o MPF, combinado com o espetáculo orquestrado pelos oligopólios da comunicação, em especial a rede Globo, desde a condução coercitiva de Lula até os grampos vazados em paralelo a sua nomeação como ministro, são descritivos de uma luta cada vez mais agressiva pela máquina do Estado.

A direita opositora ao governo do PT se vale da judicialização da política e de toda produção do discurso seletivo e criminalizador da mídia para atuar numa “zona de fronteira” dos marcos constitucionais do direito democrático burguês. Em meio a esse cenário, têm sido comuns entusiasmadas manifestações oportunistas de setores da esquerda anti-governista com pretensões eleitorais em torno da judicialização da política. Ao contrário do que sugere estas manifestações, a judicialização da política não guia para a esquerda, muito menos para uma “revolução política”. Sugerir isso demonstra o retrocesso de expectativas e horizonte estratégico e um esvaziamento de significado que faz do que se entende historicamente por “revolução”, uma infantil bravata para ser agitada de forma torpe nas redes sociais. O oportunismo que hoje abraça esse espetáculo abre caminho para a capitulação de amanhã. Trágicos exemplos que seguiram essa via não nos faltam.

Antes de mais nada, a judicialização da política joga efeitos ideológicos que repercutem em ideias e noções conservadoras de uma salvação nacional pelas mãos do poder judiciário, da polícia ou das forças armadas. Tanto ceticismo, indiferença, a ascensão de discursos de ódio e ressentimento com a política amesquinhada pelos partidos da democracia burguesa são o caldo de cultura de um pensamento fantasioso. Uma noção de política que dispensa a participação popular e governa pelas técnicas do controle e da ordem. Pode dar asas para a imaginação autoritária de onde nascem as criaturas mais infames da política.

É pela via desses artifícios que um golpe branco está em curso. Mas, digamos em linhas muito francas para evitar equívocos: este é um tipo de golpe orquestrado por setores da direita no congresso, no judiciário, na mídia, nas organizações patronais que tomam coragem em cima da situação ridícula e patética em que caíram o PT, as autoridades do governo e as burocracias dos movimentos populares que fazem parte de seu arco de sustentação. Um PT atirado na vala comum da política burguesa é o álibi perfeito de uma ofensiva que vem para castigar os direitos e liquidar recursos e serviços públicos.

O sistema de dominação capitalista não leva a Constituição debaixo do braço para atuar. Quando tem oportunidade, ele torce a legalidade, rasga o estado de direito, mexe nas regras do jogo pela força e impõe seu poder de fato. Quando a esquerda tentou fazer reformismo apoiada nessa estrutura legal, foi, primeiramente, empurrada ao recuo organizativo e ideológico para em seguida ser severamente reprimida. A história tem vários episódios que contam isso.

Mas esse não é o caso do PT. O Partido dos Trabalhadores, parafraseando Lula, foi acovardando seu reformismo desde os anos 80 até chegar ao governo pela eleição de 2002 com um programa negociado com as estruturas do poder dominante. Foi um eficiente e deslumbrado gestor de turno do capitalismo brasileiro, associado com patrões, banqueiros e ruralistas, amigado com uma oligarquia nojenta. O PT atraiu um setor da direita para um pacto de classes com prazo de validade e o pior é que se convenceu e segue convencido que pode ser parte confiável do sistema das classes dominantes.

O fracasso da colaboração de classes que sonhou o PT e seus governos arrastou junto o movimento sindical e popular, tirou a independência de classe na luta da classe trabalhadora, dividiu e burocratizou as organizações de resistência. Fez toda uma cultura política que produziu um sujeito domesticado pelo poder, que pôs freios e cabrestos na luta de classes.

Se esse projeto sempre rezou a cartilha das regras do jogo institucional do Estado burguês, no campo popular nunca dispensou a possibilidade de pisotear os mais elementares princípios de democracia de base. Fraudes em eleições e assembleias de organizações sindicais e estudantis, manobras, agressões e perseguições a correntes e militantes dissidentes foram se afirmando como o script por excelência na base dos maiores movimentos que dão sustentação ao projeto “democrático-popular”. Nesse sentido, é sintomático notar que as burocracias dos movimentos populares a reboque são muito mais enérgicas e combativas para defender o governo de turno do que para defender a classe, constantemente aviltada por esse mesmo governo e também pelos rebaixados acordos assinados por seus sindicatos com as patronais que hoje convocam a liquidação de ambos.

Por outro lado, ativou na sociedade um recalque furioso pelo que não foi, que desperta ódios e abre espaço para emergência nas ruas de setores fascistizantes de extrema-direita, que, animados por esse mesmo recalque, buscam hoje um linchamento público de tudo aquilo que cheire esquerda, fazendo-se valer da vidraça do PT.

Quem quer assumir o governo agora e pisa por cima da carniça do PT são partidos de oposição ressentidos por ficarem de fora do controle dessa estrutura de privilégios, mas que nunca ficaram de fora do rateio dos recursos públicos e da farra com os patrões sobre o orçamento e o patrimônio público. Mas também está o mercado com o sistema financeiro e os industriais que ganharam toda sorte de juros, benefícios e privilégios durante os melhores dias da narrativa do crescimento econômico. Os agiotas, sonegadores, genocidas do povo indígena e negro, que fazem de conta que estão de fora do esquema. Eles cospem no prato que comem, engordaram com o PT e agora querem fazer da sua queda o palco de imposição do ajuste no grau máximo. Um ajuste que busca rasgar de vez os direitos trabalhistas, fazer a cama para os vampiros das patronais que pretendem precarizar ainda mais as condições de trabalho, impor o PL das terceirizações, a reforma da previdência, manter as falências fraudulentas, atirando os trabalhadores vítimas de acidentes de trabalho no olho da rua como se fossem dejetos, demitindo em massa para recontratar em condições cada vez mais precárias.

Esse é o golpe que está em processo. Que se vale do PT sócio da corrupção com as empreiteiras, avalizador do ajuste, de entrega do pré-sal, autor da lei antiterrorismo, das UPPs, da paralização da reforma agrária e da violência contra os povos indígenas e quilombolas. Que o toma como patético refém e o execra publicamente para fazer o ajuste cortar ainda mais fundo e sangrar sem limites as classes oprimidas.

O curto prazo promete um concerto por cima. Seja como for, vem um governo de coalizão agressivo contra os trabalhadores e o povo. Independente do desfecho deste trágico espetáculo, o que veremos serão coxinhas e jararacas, cada qual a sua forma, buscando fazer valer o ajuste, ainda que com graus de variações distintos. A punhalada está vindo de frente pela direita ideológica, mas também pelas costas, aplicada por um governo e partido que não deixa de se valer de um discurso emotivo e irracional, que convoca mitologias e fetiches em torno de um passado de luta como forma de criar uma cortina de fumaça ao seu ajuste e ao seu claro projeto político de centro-direita.

A eterna espera pela “guinada à esquerda” nesses dias se manifesta na defesa intransigente de um Lula ministro que não esconde que chega para tentar salvar a aliança com o PMDB e o restante da base aliada, leiloando o que pode, com os joelhos dobrados cada vez mais à direita. Enquanto a cortina de fumaça midiática agita uma polarização de “torcidas”, as mãos se fecham em acordos pelo avanço da privatização das empresas estatais e adequamento do aparato repressivo para a maior criminalização do povo que luta.

Somos contra este golpe, porque ele implica um corte mais profundo na carne das classes oprimidas e abre caminho para uma correlação de forças ainda mais desfavorável para os de baixo. Mas não admitimos negociar nenhum direito para servir como moeda de troca deste governo moribundo que cavou sua própria cova ao trair as expectativas dos/as trabalhadores/as e ao sancionar a lei antiterrorista em plena crise política. Vamos lutar realmente contra esta tentativa de golpe, sem aderir ao reboquismo e ao mesmo tempo sem perdoar a pelegada, ao fortalecer uma posição à esquerda, de combate e a partir da concepção de que só podemos contar com nós mesmos e com o povo em luta organizado construindo seu próprio caminho, contra todo e qualquer golpe historicamente aplicados pelas/os de cima contra as/os de baixo.

Nosso lugar nessa dramática e decisiva disputa é fazer valer a independência de classe como a real alternativa às classes oprimidas. Uma alternativa de classe que no curto prazo, marcado pelo trágico desmantelamento organizativo do tecido social, se traduz na mais resoluta solidariedade de classe. Dar disputa ideológica em defesa das lutas que surgem desde baixo e aportar toda solidariedade possível; buscar estender e massificar as greves, ocupações, atos contra as medidas de austeridade e a carestia para, a partir daí, se acumular forças reais para radicalizar a independência de classe, colocando-a como efetivo embrião de poder popular, de um forte e solidário punho a se estender dos oprimidos em todos os rincões do país e golpear de forma altiva e destemida os patrões, governos e também o peleguismo e a traição de classe.

A organizar os diversos setores que compõem a classe trabalhadora, construindo movimentos sociais e fortalecendo seu protagonismo popular, pautando sua autonomia e combatividade! Apenas o avanço do poder popular será capaz de tanto dar resposta ao avanço da onda conservadora que toma o país, quanto resistir aos retrocessos impostos pelo governo.

Uma só classe, uma só luta!

Derrotar a direita golpista e avançar na luta contra o pacto de classes!

Pelo socialismo e pela liberdade!!!

 

mar 172016
 

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Quem trabalha com a educação vive um momento difícil. O PT, à frente do governo federal, executa políticas com a única finalidade de agradar empresários, latifundiários e especuladores. A queda na taxa de crescimento do país leva ao enxugamento da máquina pública e os primeiros cortes são nos direitos da classe oprimida. Não poderia ser diferente: o Estado cumpre sua função, que é garantir os privilégios de quem é rico às custas de quem é pobre.

O Governo da Pátria Educadora iniciou 2015 com um corte de 10,5 Bilhões no orçamento da educação. Vimos o sucateamento de várias universidades federais, com o atraso do pagamento dos setores terceirizados, levando ao atraso do ano letivo; no que tange à formação de docentes, vemos o programa PIBID sendo afetado. No campo, desde 2003, foram fechadas 38 mil escolas. Uma clara ofensiva sobre a conquista dos camponeses na educação. Para 2016, a promessa é um corte ainda maior, indo contra uma das pautas conquistadas pelos movimentos sociais, que prevê o aumento progressivo do investimento. E segue a aplicação do PNE somente nos aspectos que levam a maior privatização da educação. Em meio a isso tudo, traz uma nova proposta de modelo curricular, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), de forma vertical e impositiva, sem que haja tempo hábil para discussão, tentando vender a ilusão de que, mesmo com os cortes, é possível melhorar a educação do país.

Mas os ataques não são a política apenas de um ou outro governo. Em Goiás, o governo do PSDB avança a passos largos a privatização da educação pública. Está em vigor um projeto que prevê a gestão das escolas por Organizações Sociais (OS). Tais organizações, segundo a lei, são “sem fins lucrativos”, ao mesmo tempo elas podem firmar convênios para arrecadar recursos. Sabemos que no capitalismo nenhum empresário irá gerir uma escola pensando na educação dos filhos e filhas da classe oprimida, certamente veremos a influência ideológica dessas empresas em nossas escolas. Essas organizações sociais serão responsáveis pela contratação de docentes, funcionárias e funcionários. Além disso, o governo abriu as portas para as Parcerias Público-Privadas (PPP), nas quais é possível terceirizar todos os setores com exceção do pedagógico.

Vemos ainda o modelo de militarização da escolas sendo implementado amplamente. Somente em Goiás, 15 escolas já seguem esse modelo. Essas escolas passam a ser geridas pela polícia militar, com militares sendo colocados à frente da direção das escolas. A juventude que estuda é obrigada a bater continência, cantar o hino e vestir-se segundo um código rígido. Até mesmo o vocabulário é controlado. Para piorar, existe a cobrança de uma “contribuição voluntária” mensal. Essa concepção de escola baseia-se na repressão e no medo como instrumentos, representando um avanço do que há de mais conservador na ideologia dominante para dentro da escola pública.

O governo paranaense (também do PSDB) realizou uma reforma da previdência, que confisca o fundo previdenciário dos servidores, comprometendoa previdência social do estado. Modelo que também está em processo de aprovação e implementação no estado de Mato Grosso. As categorias de servidores públicos resistiram massivamente, chegando a ocupar a Assembléia Legislativa (o que se repetiu em outros estados, como São Paulo e Santa Catarina). Porém, frente a resistência dos trabalhadores e trabalhadoras, o estado paranaense armou uma das maiores operações de repressão ao movimento sindical da história. No dia 29 de Abril, com um contingente de 4000 policiais, incluindo helicópteros e a tropa de choque, massacrou as categorias, deixando mais de 200 pessoas feridas.

No estado de São Paulo, outro estado gerido pelo PSDB, foi apresentado um projeto de “reorganização escolar” que previa o fechamento de quase 100 escolas. Porém, antes que fosse aplicado, estudantes ocuparam quase duzentas escolas, resistindo. Mesmo diante da repressão e das investidas do governo, resistiram, conseguindo fazer com o que projeto fosse retirado, provando mais uma vez que a ação direta é efetiva.

Em Mato Grosso, uma série de ataques vem sendo desferida contra trabalhadoras e trabalhadores da Educação da rede básica. Ataques impostos pelo governo PSDB e suas políticas neoliberais. A maior parte da categoria é composta por trabalhadores contratados, mais de 60%; contratos que precarizam as condições desses trabalhadores, pois não garantem o plano de carreira, 13º é reduzido, não garantem direito ao recebimento das férias e deixam os contratados totalmente sem salários nos meses de janeiro e fevereiro. O Estado “economiza” às custas dos trabalhadores! Apesar dessa condição a da existência comprovada da necessidade de efetivar essas vagas, o governo tarda e se nega a discutir a realização do concurso público. Em 2015, o reajuste inflacionário, garantido por lei, foi parcelado e as datas apontadas para seu pagamento foram todas desrespeitadas. O governo ainda fez várias modificações de modo autoritário, que tiveram consequência diretas no chão da escola, atrasando e precarizando o início do ano letivo de 2016. Ataca, principalmente, a autonomia das escolas, retirando a escolha democrática da coordenação pedagógica, antes eleita pelos trabalhadores, e ameaçando e controlando as decisões das escolas.

No Rio de Janeiro, o sucateamento das escolas e o processo de precarização e privatização da educação pública caminha a passos largos, professores e professoras do estado entraram em greve no dia 2 de março. A UERJ também aderiu à greve, assim como a FAETEC. A UENF em Campos, norte do estado, deve aderir em breve. A FAPERJ sofre cortes todo ano. Por isso, a educação estadual se encontra em uma greve unificada e muitos municípios vêm parando oujá se encontravam parados, caso de Cabo Frio na região dos Lagos. O Governo Pezão (PMDB) encaminhou um “pacote de maldades” a ser votado pelo legislativo dirigido ao serviço púbico estadual. Este inclui a proposta de reajuste zero por 3 anos e o aumento progressivo da arrecadação previdenciária de 11% para 18%, para além das ações já implementadas, como mudança da data base de pagamento e o parcelamento do 13º de 2015.

Fora que a situação das escolas é péssima, falta água, luz, merenda, material didático, equipamentos e um quadro de funcionários capaz de mantê-las em funcionamento. No Rio de Janeiro, o processo de eleição de diretores ainda está distante da realidade da maioria das escolas, apesar de ser um direito da comunidade escolar, que é obrigada a conviver sob a tutela de direções indicadas ou meritocráticas. Em 2016, não terá concurso para o magistério, tampouco para administrativos. Os contratados e terceirizados, as contratadas e terceirizadas conseguem se encontrar em uma situação ainda mais precária que os servidores estatutários, trabalhando com meses de salários atrasados, sofrendo ameaças e sem nenhum direito ou abono garantido. As insatisfações se acumulam e o sindicato da categoria paga por anos de uma metodologia de luta que aliena a base do protagonismo das lutas. Mas professores e professoras do estado estão “dando uma aula”, acumulando com a experiência das últimas greves e aprendendo com o exemplo da mobilização dos servidores e servidoras no Paraná e do movimento de ocupação das escolas pela estudantada em São Paulo, o que alimenta as perspectivas e o horizonte de lutadores e lutadoras da educação fluminense.

No Rio Grande do Sul o cenário de desmonte da educação pública segue à risca a cartilha aplicada pelo PSDB em outros estados. O governo do PMDB não deixa em nada a desejar no que se refere aos sistemáticos ataques aos trabalhadores e trabalhadoras da educação. Desde o início de seu mandato assumiu o “discurso da crise”, do “corte de despesas” e do “ajuste fiscal” para tentar justificar o injustificável, ou seja, um conjunto de projetos que retira e flexibiliza direitos básicos da maioria da população em prol dos interesses das elites econômico-empresariais. A aplicação do receituário neoliberal iniciou com cancelamento de nomeações de concursados em lista de espera e atraso no pagamento de fornecedores (o que resultou em falta de merenda escolar, materiais de escritório, higiene e limpeza em diversas escolas), se ampliou com o atraso e parcelamento de salários do funcionalismo por vários meses (chegando ao cúmulo de pagar como “parcela inicial” menos de um salário mínimo) e com a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que, entre outras consequências, congelou os míseros salários dos trabalhadores da educação que nem sequer recebem o valor do piso nacional, acumulando uma perda salarial de mais de 70%. A categoria reagiu enfrentando esses ataques através de uma das maiores greves da educação dos últimos anos. Porém, além do governo, a categoria teve de enfrentar o peleguismo golpista e entreguista da direção do Sindicato (ARTSIND – CUT/PT), que desde o início manobrava os Conselhos e Assembléias para fazer passar na marra uma estratégia imbecil de “greve parcelada”, sob o argumento fajuta de “manter a unidade com outros setores do funcionalismo público estadual”. O movimento grevista crescia e ações descentralizadas (em bairros, escolas, zonais, etc.) começavam a ganhar corpo. O medo de “perder o controle” sobre a greve fez com que a direção do sindicato pusesse fim ao movimento através de um golpe no momento da contagem de votos em uma Assembléia que decidia pela continuidade da greve. Essa manobra, verdadeiramente golpista, trouxe em um primeiro momento revolta e, em seguida, desencanto e frustração para a categoria. A ação do sindicato funcionou como um “sinal verde” para o governo que, a partir desse momento, ampliou os ataques com a aprovação de vários Projetos de Lei que passaram a dar “legitimidade institucional” para o ajuste fiscal e retirada de direitos. O ano de 2016 começou com ainda mais ataques, como o aumento de carga horária, remanejamento de funcionários(as) e professores(as), demissão decontratados(as), ameaça de fechamento de escolas, fechamento de turmas e turnos (o que aumenta o número de estudantes em cada sala de aula), etc. A direção do sindicato não tem nenhuma legitimidade perante a categoria, suas propostas são ínfimas perante a magnitude dos ataques e o desafio de mobilização passa, invariavelmente, pelo trabalho de base, não só dentro das escolas, mas também dentro das comunidades onde elas estão inseridas.

A educação do campo também sofre com perseguições, criminalizações e fechamento de escolas em várias regiões do país. Enfrentam a precarização da educação de modo intenso, bem como as imposições de governos que desconhecem as realidades dessas escolas. Assim, governos e prefeituras têm dificultado o processo de atribuição de trabalhadores pertencentes às comunidades nas quais tais escolas estão inseridas, que conhecem sua realidade e lutam em sua defesa. Reduzem também os investimentos para uma educação mais digna!

A resistência vem de baixo

Frente à essa conjuntura, vemos resistência da classe oprimida, como nas ocupações de escolas e nas greves. Porém, essa resistência é localizada e os ataques acontecem nacionalmente. As velhas táticas de conciliação de classes e negociatas utilizadas pela burocracia sindical, em especial pelas direções ligadas à CUT, que estão à frente da maior parte dos sindicatos de trabalhadores em educação, não nos servem. Os ataques continuam e se aprofundam enquanto os dirigentes tentam “dialogar” com os governos.

A resistência deve vir de baixo, da mobilização da classe oprimida, construída no trabalho de base cotidiano, prática que as burocracias abandonaram há muito tempo. Se tentarmos enfrentar os governantes nos espaços onde eles têm mais força, como no parlamento ou na justiça, não temos chance. Devemos levar a luta para onde nós, trabalhadores e trabalhadoras organizadas, temos força. Não devemos buscar construir acordos com a classe dominante, devemos enfrentá-la, nas ruas, através da ação direta.

A CNTE convoca 3 dias de mobilização e compreendemos que isso deve ser apenas o começo de uma luta mais intensa. Não basta ir às ruas um dia e ter uma sensação de “missão cumprida”, enquanto os governos intensificam os ataques. 3 dias são o começo, mas é preciso que a luta e a mobilização sejam construídas e fortalecidas no decorrer do ano inteiro, de baixo e de forma combativa; o que não temos observado nos anos anteriores na prática da CNTE, que parece desaparecer em papéis burocráticos no restante dos 365 dias ou que se volta mais para defesas do governo Dilma / PT do que para a luta real dos trabalhadores. Prática reproduzida por muitos sindicatos de trabalhadores da educação filiados à CUT. Precisamos intensificar nossas lutas, trazendo de volta o movimento sindical para a rua, apostando em táticas mais efetivas como piquetes e ocupações. Somente dessa forma, teremos condições de reverter a atual conjuntura.

 

Retomar os piquetes e as ruas!

A nossa luta é todo dia! Educação não é mercadoria!

Lutar! Criar! Poder Popular!

Coordenação Anarquista Brasileira – Março de 2016.

Baixe aqui a versão para impressão do Boletim da CAB

mar 092016
 

“Somos escravas dos escravos. Exploram-nos mais impiedosamente que aos homens.”

Lucy Parsons.

Resgate histórico sobre 8 de Março, Dia Internacional da Mulher:

Possuímos uma cultura do esquecimento, de apagamento de nossa memória, somos fruto de uma história que gerações antepassadas construíram. Por isso é de suma importância que nós, enquanto anarquistas feministas organizadas, façamos o resgate e a preservação cultural da história da luta da classe oprimida, das lutas empregadas por grandes mulheres que não se submeteram ao regime patriarcal dominador de sua época.

Datas importantes e que foram históricas na luta de classes, como o 8 de Março e o 1° de Maio, são “comemoradas” sem que haja o conhecimento suas origens. Sabemos que a classe dominante tem sua própria versão da história, versão essa que apaga deliberadamente as lutas sociais contra a dominação e exploração. Ainda mais por isso é que devemos nos apropriar da história de nossa classe, valorizar suas conquistas e aprender com seu movimento.

8 de Março:

O Dia internacional de luta das mulheres tem origem em 8 de Março de 1857. Em um episódio de muita repressão e violência empregadas contra a luta das mulheres operárias do setor têxtil e ao seu movimento grevista. As operárias haviam ocupado a fábrica em que trabalhavam, reivindicando redução da jornada de trabalho, equiparação salarial aos dos homens, que chegavam a receber três vezes mais pelo mesmo tipo de serviço, e mais dignidade no ambiente de trabalho. Na cidade de Nova Iorque, os patrões, em resposta ao movimento, trancaram as operárias e incendiaram a fábrica, carbonizando e matando cerca de 130 tecelãs.

Se vivemos sob a lógica de dominação e exploração, que faz milhares de pessoas viverem submetidas às várias formas de opressões, também podemos ter a certeza de que são as mulheres as que mais sofrem com toda a desigualdade e a injustiça social do capitalismo. Elas já são exploradas enquanto trabalhadoras, o que se intensifica ainda por serem mulheres numa sociedade regida pelo machismo.

Conjuntura política de ataques às mulheres:

E hoje, em uma sociedade em que o ascenso da direita conservadora é inegável, vemos os ataques às de baixo se intensificarem ainda mais. Um dos ataques é o Projeto de Lei 5069/2013 de autoria do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), que trata sobre a prática do aborto, em que “Tipifica como crime contra a vida o anúncio de meio abortivo e prevê penas específicas para quem induz a gestante à prática de aborto.” Prevê pena de prisão de 4 a 8 anos, para quem auxiliar de forma direta ou indireta a gestante na prática do aborto. E isso se acentua ainda mais em relação ao auxílio e/ou orientação por parte de profissionais, com penas entre 5 a 10 anos de prisão.

Este deve ser um momento de unificação dos setores da classe oprimida para reagir contra os ataques dos de cima. Só com muita organização e força social nós, mulheres, avançaremos em nossas conquistas econômicas e políticas e arrancaremos das forças do capital e do Estado, os direitos que sempre nos foram negados durante a história da luta de classes.

Podemos dizer que o ano de 2015 foi de avanços para a luta das mulheres. Além da 5ª Marcha das Margaridas, em agosto de 2015, que reuniu mulheres indígenas, quilombolas e agricultoras de todo o Brasil, também em Brasília ocorreu a Primeira Marcha da Mulher Negra, que serviu para dar mais visibilidade para quem até então “não aparecia na foto carregando o piano”, como disse Juliana Gonçalves, jornalista e uma das coordenadoras do movimento em São Paulo.

Curdas e Zapatistas:

Em outros dois pontos do globo terrestre, um tanto quanto distantes do Brasil, estão em curso processos muito interessantes de auto-organização e empoderamento feminino, em que podemos nos debruçar e atentar um pouco mais, servindo de referência e inspiração.

Um deles é o processo revolucionário curdo, em que as mulheres, em uma região historicamente dominada e regida por um machismo perverso, que as impedia de mostrar o próprio rosto, vêm protagonizando um papel central na luta contra o Estado Islâmico e o Estado Turco, dois grandes inimigos do povo curdo.

Mais próximo a nós, há as Zapatistas, no México, onde desde 1994 as mulheres indígenas vem chamando a atenção do mundo todo na luta em defesa de seus territórios e de sua cultura. Como se vê na Ley Revolucionária de Mujeres de EZLN, “Noveno: Las mujeres podrán ocupar cargos de dirección en la organización y tener grados militares en las fuerzas armadas revolucionarias.”

Neste 8 de Março, queremos chamar atenção especial para o assassinato de Berta Cáceres. Ela foi coordenadora Geral do Conselho Cívico de Organizações Populares e Honduras Indígena (COPINH). Havia repetidamente manifestado-se contra as ações e intenções de ambas as atuais concessões governamentais de recursos naturais e empresas transnacionais estrangeiras nefastas através da construção de barragens e captura dos recursos dos povos indígenas. Foi assassinada em sua casa, em 03 de março. Por ela, nenhum minuto de silêncio. Todas nossas vidas de luta!

A Coordenação Anarquista Brasileira (CAB) vem a público dizer que faz parte, com todas as mulheres, desta luta contra o sistema capitalista patriarcal e pelo resgate da memória histórica das lutas das mulheres. Chamamos todas as pessoas para a luta em defesa da mulher trabalhadora, da mulher ribeirinha, da mulher indígena, da mulher camponesa, da mulher quilombola, da mulher negra, da mulher LGBT, de todas as mulheres exploradas e oprimidas!!

zapatistas  curdas

VIVA 8 DE MARÇO!!

VIVA BERTA CÁCERES!!

VIVA AS CURDAS E ZAPATISTAS!!

NÃO AO PL 5069/13 !

Mulheres da CAB, 8 de março de 2016

dez 092015
 

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Contra a Crise e o Oportunismo: Ação Direta com as/os De Baixo

A Coordenação Anarquista Brasileira manifesta sua opinião sobre os recentes acontecimentos resultantes da lógica dominante do capital financeiro especulativo, nacional e internacional, que opera seus interesses por meio do Estado e suas estruturas jurídicas, políticas, repressoras e midiáticas. São expressões disso as defesas de um terceiro turno por parte do PSDB, as investidas nos avanços dos cortes de direitos trabalhistas e sociais, os cortes de verbas à educação e a lei antiterror que o PT colocou em pauta, e o caso das quatro contas bancárias em paraíso fiscal por parte de Eduardo Cunha (PMDB).

Aqui, declaramos nossa opção de luta classista, que prima a organização com os debaixo na luta cotidiana, ombro a ombro, na luta diária. Vemos que existem questões mais profundas, estruturais, que vão além da chantagem da direita declarada no jogo político (representada por Cunha e pelo PSDB) ou pela manutenção de uma esquerda institucional (PT e seus comparsas). Lembremo-nos das declarações do EZLN de que a “esquerda institucional nada mais é do que uma direita envergonhada”. O PT, PSDB, PMDB e tantas outras siglas não se envergonham do que fazem, nem têm tentado esconder o que pensam. São carrascos e traidores da luta popular, e devem ser tratados, denunciados e combatidos como tal.

Repudiamos a manipulação da Rede Globo e demais empresas da mídia burguesa. Empresas que fazem campanha pela desestabilização do país, colaborando com os interesses do capital financeiro especulativo e industrial de governos e empresas dos EUA e da Europa. Esses que veem o caos no Brasil como porta aberta para avançar nas políticas de privatização e redefinição dos critérios de exploração do pré-sal, privatização da Petrobras e demais setores estratégicos e lucrativos como os da energia, recursos naturais e transportes. Assim, podem fazer avançar ainda mais as políticas neoliberais de privatizações e de austeridade, já em profunda aplicação nos países da União Europeia. A ganância do capital e os interesses mesquinhos dos políticos não autorizam o PT, o PMDB, o PSDB, Cunha e sua quadrilha a fazerem um “governo de reféns”. Quem de fato sofre e se torna refém é o povo, que é quem sente na carne com desemprego, cortes sociais, especulação imobiliária e perda de direitos básicos como: saúde, moradia, educação e transporte.

Entendemos que grande parte dessa situação é resultado das escolhas mais do que conscientes do PT nos treze anos de governos Lula e Dilma. Resulta também de uma política de coalizão de classes, que já chegou ao seu esgotamento e da política de barganhas a qualquer preço para garantir a manutenção da governabilidade e de seu projeto de Poder. Um caminho tomado de forma planejada e pragmática pelo PT e que só poderia levar a essa situação, dadas as concessões e negociações com o capital e poderosos – não esquecendo da sua aliança permanente com o próprio PMDB.

O povo está refém de partidos e políticos que só defendem seus próprios interesses e de seus financiadores. A “estagnação” do país é conveniente apenas para determinadas pautas, em meio a chantagens, permutas e disputas internas. No entanto, quando se faz necessário, a direita e os governistas esquecem supostas divergências e comerciam de forma conjunta para fazer duros cortes no social e transferir o pagamento da “crise” para as/os trabalhadoras/es. Tal situação pode ser observada com clareza no congresso que trabalha de modo rápido, eficiente e articulado para onerar o povo. Esse é o caminho da política institucional e parlamentar, palco de propinas, barganhas, pilantragens e roubalheiras sistemáticas, praticadas hoje por PT, PMDB, PSDB e toda essa corja de parasitas do Congresso, Senado e judiciário. Ou seja, independente do partido que está no governo, as reais demandas do nosso povo nunca foram, nem serão, prioridades da via institucional-parlamentar.

Desse modo, com que cinismo o PT vem pedir mobilização permanente em defesa de seu governo? Um governo que não avança um milímetro na defesa dos reais interesses do povo, mas só recua seus direitos e o violenta, com recessão, políticas de austeridade, fechamento de escolas do campo e da cidade. Degrada hospitais públicos, deixa a reforma agrária estagnada, mas privilegia o empresariado e o mercado internacional. O PT foi conivente e opera as políticas de direita, criando espaço para o conservadorismo e negociando com a agiotagem do FMI (e o capital especulativo), mas se pinta de vermelho quando convém. Com isso, possibilitou o avanço da direita mais retrógrada e de setores conservadores que cada vez mais conseguem implementar suas pautas, o que, pelo que tem demonstrado, são suas também.

Com que argumento o PT vai pedir apoio se continua sangrando o povo? Mantendo a mesma lógica de exploração da classe trabalhadora com uma política social mínima e uma economia baseada nas taxas de juros beneficiando a agiotagem do setor financeiro especulativo, e no modelo de exploração e venda de commodities oriundos da mineração e da monocultura extensiva do agronegócio? Como pedir apoio se assistimos ao maior desastre ambiental da história do país, protagonizado por parte da terrorista Vale por meio de sua testa de ferro SAMARCO, e o governo apresenta uma lentidão inacreditável sem aplicar nenhum tipo de punição ou ação proporcional que obrigue esta multibilionária empresa a se responsabilizar e custear os irreparáveis danos sociais e ambientais causados?

O resultado dessa política do PT/PMDB é que o povo paga a conta da crise. É o povo que fica sem terra e sem condições para plantar e viver no campo. Fica sem moradia, sem hospitais e escolas, sem transporte e sem direitos sociais garantidos. O povo negro é exterminado diariamente nas periferias com a política de segurança e os pobres e movimentos sociais são criminalizados. Mulheres e indígenas têm seus direitos sequestrados, mas os ricos, banqueiros, empresários, latifundiários e demais poderosos, continuam a ser beneficiados e priorizados pelas políticas do governo.

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Retomar os legítimos valores da luta da classe trabalhadora: por independência de classe e organização pela base!

Os setores políticos progressistas dizem que a democracia está em risco com essa disputa política, mas são os valores e conquistas históricas da luta popular classista construída pela força das/os de baixo que estão realmente em risco, e não é de hoje! Os movimentos sociais não podem mais ficar esperando e acreditando que vão conseguir pautar ou disputar o governo. Esse governo (muito menos outros) não está em disputa, como prova o final da última eleição, quando muitos trabalhadores apoiaram “criticamente” o PT e este simplesmente executou grande parte da agenda neoliberal do adversário derrotado, o tucano Aécio Neves.

A esquerda em geral, os movimentos sociais e sindicatos não podem se deixar mais cooptar pelo PT no governo nem pelo governismo. Assim como foi com Lula e com a reeleição de Dilma, não podemos deixar se repetir mais uma situação ridícula de mobilização da esquerda em apoio ao PT, seguida de mais recuo nas pautas sociais por parte do governo. Foi justamente isso que ocorreu com a reeleição de Dilma e é eminente que se repita com esse processo de impeachment. Acontecendo ou não o impeachment da presidenta, o que vale para eles nesse jogo político é construir uma base de apoio ao governo e um amplo consenso para manter a dominação de classe no próximo período. O central da pauta conservadora já está estabelecido, agora a disputa é entre quem se candidata a executá-la nos próximos anos.

O nosso entendimento é de que a esquerda e os movimentos sociais devem romper com essa lógica suicida do governismo, se não querem ir para o fundo do poço junto com o PT. Não se pode ser revolucionário e crítico e, ao mesmo tempo, manter apoio incondicional a um governo que permite e é cúmplice da lei antiterrorismo. Um governo que é cúmplice dos avanços das políticas conservadoras contra mulheres, LGBTTs e o genocídio do povo negro e dos povos originários e aumenta a criminalização dos pobres; que nomeia uma ministra ruralista para dar mais poder ao agronegócio e piora ainda mais a situação de sem-terras e camponeses. Um governo em que indígenas, ribeirinhos, catadores de caranguejo, quebradeiras de coco babaçu, pescadores e pescadoras artesanais são cada vez mais violentados e perdem seus territórios para os ruralistas que têm bancada no congresso; que assume uma política neoliberal com um verniz progressista sacrificando os pobres para satisfazer os interesses dos investidores e do FMI.

Já passou a hora dos movimentos sociais irem para as ruas sim, não para defender este governo, que é totalmente indefensável, mas para fazer frente ao avanço dos setores conservadores e de direita e também contra as políticas de direita do governo.

O governismo também é nosso inimigo, pois atua dentro dos movimentos barrando a revolta popular. Muitas das recentes experiências de luta, como as ocupações de escolas em São Paulo, mostram que as práticas governistas e burocráticas são incapazes de pautar o significado e a direção das lutas quando há métodos de empoderamento popular desde a base, dotados de princípios organizativos como a ação direta e a autonomia. Mas o governo ainda tem seus aliados e muitas direções de movimentos se deixaram cooptar. É preciso romper com a subordinação da luta de massas e a suspensão de bandeiras de luta ao calendário eleitoral, aos conchavos do Estado e às disputas internas dos políticos profissionais.

Essa polarização, impeachment ou o governismo aferrado, sustentada pelos petistas, burocracias sindicais e certas direções de movimentos sociais não são alternativas para a luta contra o ajuste que golpeia a vida da classe oprimida. Os consertos e os arranjos oligárquicos que vêm de cima, o sistema corrupto e criminal que faz estelionato eleitoral com a democracia burguesa, não produzem mudança real. A democracia que tem de ser peleada nessa hora é a democracia de base e tem de ser a afirmação da independência de classe em relação aos sistemas de representação burguesa. Assembleias nas escolas ocupadas, nos locais de trabalho onde a patronal corta direitos, salários e ameaça demitir. Assembleias nas comunidades da periferia que é perseguida pela violência policial e privada de serviços públicos, luta nos territórios de resistência indígena, quilombola e camponês, extensão e radicalização de uma participação decisiva que não aceita intermediação burocrática e faz exercícios de poder popular.

Só um povo forte e organizado pode exigir seus direitos e mudanças nessa política, que não é apenas do Levy, da Kátia Abreu ou do Congresso Nacional, mas sim da lógica perversa e opressora do capitalismo e do Estado, a qual o PT soube se adaptar e barganhar muito bem desde a “Carta ao Povo Brasileiro”. E isso não aconteceu por acaso, foram décadas de uma prática burocrática de setores da esquerda, que abandonaram o trabalho de base e que agora cobram seu preço. Treze anos de acomodações de muitos movimentos sociais se deixando cooptar pelo governo PT agora cobram seu preço. O imaginário popular da esquerda foi abalado e as práticas do PT no governo têm grande parcela de culpa nesse processo. O avanço conservador é a derrota do discurso de que este governo é um projeto “democrático-popular”, quando na verdade é o avanço de um governo que caminha cada vez mais e abertamente para a aplicação do projeto neoliberal.

Lutar com as/os de baixo, pela construção de um Povo Forte e Organizado que deve caminhar pela via da Independência de Classe ao Poder Popular

O jogo está posto e quem tem perdido com essa disputa entre elites, somos nós: pobres, trabalhadores, negras/os, quilombolas, moradoras/es das favelas e periferias, indígenas, mulheres, LGBTTs, campesinas/os e povos originários – nós, as/os de baixo. É mais que necessário e urgente a nossa organização contra o verdadeiro golpe que tem sido aplicado pelos de cima (os opressores), na retirada de direitos conquistados e na precarização dos nossos direitos básicos: saúde, educação, moradia e transporte etc.

Defendemos a retomada dos valores classistas e práticas históricas de luta da classe trabalhadora. Com ação direta, federalismo e democracia direta na construção e condução das lutas. Fortalecendo organismos populares de base, desburocratizados e organizados em espaços e movimentos sociais, com autonomia e unidos pela solidariedade de classe e apoio mútuo. Só podemos construir o Poder Popular com o protagonismo desde as bases e radicalizando a democracia em todas as esferas. Lutando com as/os de baixo nos processos cotidianos, como único caminho para construção do Poder Popular e de um sujeito de transformação social com vias a um novo mundo, Socialista e Libertário.

 

Coordenação Anarquista Brasileira
08 de dezembro de 2015

 

Texto publicado no site da Coordenação Anarquista Brasileira: http://anarquismo.noblogs.org/?p=375

set 292015
 

SOLIDARIEDADE COM O COMPANHEIRO ARI DO SUATT

(Sindicato dos Taxistas) – Montevidéu – Uruguai

Difundimos e queremos fazer chegar aos lutadores e lutadoras do Brasil nossa solidariedade ao companheiro detido hoje pela manhã após a dispersão de um ato por agentes da inteligência. É sabido que o SUATT tem sido incansável na defesa dos direitos dos trabalhadores e tem tomado um lugar ao lado dos conflitos da educação pública, entre eles a ocupação do Codicen semana passada, que foi despejada pela violência policial.

O governo da Frente Ampla e as patronais querem calar as rebeldias populares com processos judiciais e repressão sobre os de baixo.

NÃO ESTÃO SOZINHOS COMPAS!

NÃO TÁ MORTO QUEM PELEIA!

NOSSA SOLIDARIEDADE LIBERTÁRIA NÃO CONHECE FRONTEIRAS.

ARRIBA LOS Y LAS QUE LUCHAN!!!

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COORDENAÇÃO ANARQUISTA BRASILEIRA (CAB)

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jul 042015
 

Toda solidariedade à luta das 8 mil famílias das Ocupações da Izidora (MG)!

Acompanhamos o drama das 8 mil famílias das três ocupações da Região da Izidora (Rosa Leão, Esperança e Vitória) em Belo Horizonte, Minas Gerais. Manifestamos toda solidariedade à luta dessas famílias e repúdio à forma como o governo Pimentel (PT) está tratando o caso, com cinismo, repressão e terror psicológico.

A luta destas milhares de famílias é em defesa de um direito básico que deveria ser assegurado pelo próprio Estado que hoje criminaliza, reprime e despeja. Em Belo Horizonte o déficit habitacional ultrapassa a casa das 70 mil famílias sem teto. Em Minas Gerais, o déficit chega a 6 milhões. É por conta desta dura realidade, somada ao fator da especulação imobiliária que faz com que o povo pobre seja expulso das proximidades da região central para as margens, que surgem as inúmeras ocupações urbanas.

São inúmeros os lotes vazios, os terrenos devolutos e entregues às moscas da especulação na capital de Minas Gerais, enquanto milhares de trabalhadoras e trabalhadores vivem a penosa realidade do aluguel, de morar de favor, ou de simplesmente não ter um teto para abrigar sua família. Este contraste aponta, inevitável e justamente, para o surgimento de ocupações urbanas, que dão vida e função social para lotes que anteriormente serviam para a especulação e até mesmo para desova de cadáveres, estupros, etc. As ocupações urbanas são exemplos práticos de ação direta do povo organizado que faz valer seu direito que é furtado pelo Capital, pelo Estado e pela (in)Justiça.

Não é diferente com as ocupações da Izidora. A luta das famílias das ocupações coloca de um lado o direito que o povo tem de morar dignamente e de outro a ambição pelo lucro de construtoras e demais especuladores. Enquanto as famílias querem apenas um teto, a Construtora Direcional quer garantir o seu lucro de 15 bilhões com as construções que foram planejadas para o local. Neste embate, o governo Pimentel, a prefeitura de Márcio Lacerda, e o Tribunal de Justiça compraram o lado dos ricos e exploradores.

Somamos nossa voz às vozes de NÃO AO DESPEJO diante da possibilidade de o governador petista Fernando Pimentel promover um verdadeiro banho de sangue no norte de Belo Horizonte. É claro e evidente que um massacre está anunciado, de mesmo tamanho ou até maior do que houve com Pinheirinho, em São Paulo, em 2012. Isso porque a questão da Izidora, pelo tamanho dos terrenos, pela quantidade de famílias e pela disposição destas famílias de resistir ao despejo, é tida como o maior conflito fundiário urbano atualmente no país. Desta forma, o governador que alfinetou Beto Richa, governador do Paraná (PSDB), pelo massacre cometido contra os servidores públicos em 29 de abril deste ano, promoverá um atentado à vida de milhares de trabalhadoras e trabalhadores tão grande quanto o cometido pelo tucano em Curitiba.

Por isso, reafirmamos nossa posição em defesa da luta destas famílias, nos integramos à rede de solidariedade Resiste Izidora e reiteramos que se não for pela união popular, a organização de base e a solidariedade de classe, nossos direitos serão tratorados e, junto com eles, as nossas casas, a nossa dignidade, nossos sonhos e as nossas vidas.

 

Despejo Zero!

Resiste Izidora!

Somos todxs Izidora!

Com Luta, com Garra, a casa sai na Marra!

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Assinam esta nota: Coordenação Anarquista Brasileira (CAB) / Coletivo Mineiro Popular Anarquista (COMPA)

abr 302015
 

Todo apoio à luta dos trabalhadores, trabalhadoras e estudantes do Paraná!

 

Quanto mais nos reprimem, mais nos mobilizamos!

A luta do funcionalismo público em conjunto com estudantes do Estado do Paraná já é histórica, conseguindo barrar medidas de austeridade do Governo Beto Richa (PSDB) a partir da ação direta, com mobilizações com mais de 50 mil pessoas e com duas ocupações da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (ALEP).

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O chamado “pacotaço”, pacote de medidas que afetava diretamente osdireitos trabalhistas conquistados com muita luta (especialmente aprevidência dos funcionários e funcionárias públicas), foi retirado em fevereiro devido à luta radicalizada da classe oprimida organizada. Porém, o Governo do Estado não desiste de atingir a previdência dos servidores e servidoras, colocando em pauta na ALEP o Projeto de Lei 252/2015, o PL da Previdência.

Com um contingente policial enorme, vindo de todo o Paraná, o Estado conseguiu passar a proposta de alteração da previdência na comissão de constitucionalidade, na segunda-feira (27/04), mas na quarta-feira (29), data em que o projeto vai ao plenário, a classe trabalhadora vai resistir até o fim para barrar mais uma vez este ataque aos direitos que foram conquistados com muito suor e sangue.

Como se não bastasse o Estado estar endividado até o limite de nãorepassar verbas para combustíveis e comida de seu braço armado, a polícia, o Governo Beto Richa ordenou dois ataques repressivos truculentos para cima dos trabalhadores, trabalhadoras e estudantes nesta terça (28). Um na madrugada, com direito a spray de pimenta, e outro no final da manhã, com muitas pancadas de cassetetes, balas de borracha, mais spray de pimenta e bombas de gás lacrimogênio.

Mas se o Estado tem seu braço armado e toda sua classe burocrata, as pessoas trabalhadoras e estudantes têm a solidariedade do resto da classe oprimida. Quem apanha não esquece e quem luta coletivamente até o fim conquista a vitória.

Toda solidariedade aos lutadores e lutadoras da educação do Paraná!

Todas as pessoas paranaenses presentes na batalha de amanhã!

Só a ação direta garante nossos direitos!

Quanto mais nos reprimem, mais nos mobilizamos!

Coordenação Anarquista Brasileira (CAB)

set 242014
 

Eleições: A saída à esquerda não é nas urnas, mas nas Ruas!
Elementos da conjuntura eleitoral – Coordenação Anarquista Brasileira (CAB)

O contexto de eleições em nosso país precisa ser analisado a partir de alguns elementos da conjuntura brasileira que procuraremos apontar na presente análise. São aspectos que acreditamos relevantes e em certa medida condicionantes de uma compreensão mais rigorosa das eleições e de algumas conclusões libertárias que no final apontaremos.

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Quando o “Ganha, ganha”, pode se tornar o “Ganha, perde”

O Partido dos Trabalhadores já governa o país há 12 anos, desde 2002. Sua fórmula tem sido a de fortalecer o financiamento aos grandes capitalistas “tupiniquins”, bem como a expansão do crédito pessoal, que por tabela fortalece o mercado consumidor. O governo busca fortalecer os grandes capitalistas e, de quebra, cria empregos e melhora as condições de consumo da massa trabalhadora. Para completar temos ainda programas sociais que atendem a massa, a exemplo do Bolsa Família – “36 milhões de brasileiros foram tirados da extrema pobreza” (DILMA, 2014) e o Mais Médicos – que segundo o governo cobriu 50 milhões de pessoas desassistidas. Toda esta forma de governar tem sido sintetizadas por nossa corrente, no bojo da CAB, como o neodesenvolvimentismo, porque representa uma nova busca pelo desenvolvimento de alguns setores da economia como sua inserção na economia internacional por meio da injeção de recursos públicos (isto é mais intervenção que no período neoliberal), todavia com certa repaginação, pois não podemos comparar essas com as políticas desenvolvimentistas de outrora, afinal o Estado entra mais como financiador do que como agente direto do desenvolvimento, nesse sentido privatizações e parcerias público privadas vigentes da época neoliberal se mantém, quando muito ganham outra roupagem.
O que temos visto, nos últimos anos, são sintomas de certo “cansaço” deste modelo de desenvolvimento e crescimento. Falamos de alguns sinais desse esgotamento em nosso último documento:
“Em relação ao desenvolvimento capitalista, o PT atingiu alguns índices que permitem certa estabilidade e crescimento, como os 4,6% de desemprego, que permitem certa fluidez à economia; afinal, o consumo de massas é um de seus carros-chefes. Todavia, a não distribuição real de renda, ou seja, a socialização da miséria, gera índices de endividamento preocupantes, que prometem desacelerar o consumo de massas e o mercado imobiliário, com um grande risco desse endividamento se tornar inadimplência. As grandes obras e os megaeventos têm prazo de validade, e, quando finalizados, prometem desacelerar ainda mais a economia. O agronegócio, como apontado, está sujeito ao mercado internacional e, por isso, sensível às oscilações econômicas externas. Resta saber, também, até que ponto os bancos públicos suportarão manter o crédito no mercado, sem que o Estado se endivide ou tenha suas contas pressionadas, em especial no que tange aos programas sociais.
Como vemos, temos um modelo econômico que está distante de uma perspectiva transformadora; ele não pode ser assim caracterizado sequer em uma perspectiva reformista. Mesmo no que diz respeito ao equilíbrio capitalista, ele parece estar sustentado em “bases” instáveis, sujeitas a desequilíbrios. ”(CAB, 2014)

Sem ser taxativos e sem buscar fazer do alarmismo e catastrofismo elementos da análise, temos de ficar atentos a alguns movimentos do capitalismo brasileiro, pois certos sintomas de desaceleração e certa instabilidade econômica despontam na realidade, e sabemos os impactos que têm na conjuntura política do País.

O próprio governo de turno (Dilma-PT) , e seu programa eleitoral apontam que seu pilar é, e continuara o mesmo
(…)A competitividade produtiva será atingida por meio dos investimentos em produção e consumo de massa, investimentos em infraestrutura social e econômica, na construção de um Brasil sem Burocracia e nas áreas de Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação, construindo uma sociedade do conhecimento.”(DILMA, 2014)

Deste modo, não podemos ser otimistas, no sentido de esperar algo diferente nos próximos anos, a despeito de certa desaceleração da economia, teremos mais do mesmo. O próprio governo admite que o PIB que tinha a expectativa de crescimento de 2,5%, deve crescer no máximo 1,8%, o mercado e instituições financeiras apontam para 1,5% (os mais pessimistas instrumentos financeiros 0,52%), sendo que o PIB teve um crescimento de 1,03% no período da crise mundial (2009), como vemos estamos com nossa economia com taxas muito próximas do período de recessão. Claro que esta é uma tendência global, a Economia mundial deve ter expansão de 2,8% este ano. Mais pessimismo se aponta com a dita “recessão técnica”, que aponta para encolhimento da economia do Brasil no primeiro trimestre de 2014, de menos 0,6%. A expectativa de crescimento do Banco Mundial para os países em desenvolvimento em 2014 foi reduzida para 4,8%, ante uma expansão de 5,3% esperada no relatório divulgado pelo órgão em janeiro. Todavia, há de se destacar que dos BRICS o Brasil é melhor somente que a Rússia, nesse sentido passa a ter um desempenho econômico fraco mesmo quando comparado com países de mesmo perfil.
Com todos estes resultados preocupantes, o que vemos nas campanhas, e no próprio programa do PT, é a reafirmação do que foi feito e alguns “avanços” que serão feitos na mesma direção. Parece que viveremos do passado nestas eleições, afinal seus principais adversários são o PSDB, que representa o que de pior temos na política, e o PSB, uma “terceira via” que não traz nada de novo e já aponta que governará em prol do capital. Deste modo não podemos esperar mudanças vindo destes setores, ao menos mudanças positivas no que se refere a população e a economia do País. Assim, o processo eleitoral tem pouco a oferecer nesta área, de um lado o PT que promete reeditar aquilo que vemos patinar, do outro aqueles que governaram o País por anos, e tem governado alguns Estados (exemplo do Paraná, estado que Richa quebrou literalmente, o Estado está sem empréstimos federais e sequer tem dinheiro para abastecer carros oficiais).
Os principais setores da economia nacional sofrem para crescer. O setor automobilístico enfrenta significativa recessão, a produção de veículos é a principal queda na indústria, aponta IBGE no mês de maio de 2013. Em comparação com maio de 2013, setor de automotores recuou 20,1%. A produção industrial registrou terceira queda seguida em maio, com -0,6%. A venda de veículos no primeiro semestre de 2014 caiu 7,33% em relação ao ano passado, aparecendo como pior resultado desde 2010. O varejo tem desacelerado, e dos 8,4% do ano de 2012 (crescimento foi de 2004 a 2012), tem como estimativa para 2014 4%, segundo Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). No setor imobiliário vemos significativa desaceleração este ano também, se em 2013 o financiamento imobiliário aumentou 34% em relação ao período anterior, este ano vemos acrescidos no setor meros 7%, a estimativa de crescimento é de 15% (menos da metade), de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Se o consumo de massa é um dos pilares para o crescimento, tudo indica que está em um processo de decadência, pois os principais setores se encontram em franca desaceleração, deste modo entramos em um momento de enfraquecimento da economia. Tal queda nas taxas de crescimento são reflexos dos índices de endividamento da população, pois na medida em que o crescimento e aquecimento do mercado é fruto da expansão de crédito, e não dos ganhos reais, a tendência que se confirma é o endividamento das famílias. Segundo Roberto Luis Troster, ex-economista chefe da Federação Brasileira de Bancos, a situação em 2013 era a seguinte: 63% da população brasileira possui algum tipo de dívida e 20% de contas atrasadas; 76% destas pessoas têm dívidas no cartão de crédito e o juro médio desse tipo de conta, no Brasil, atualmente se encontra no patamar dos 130%. A inadimplência ainda era baixa, fechou 2013 em 2,33%. Recentemente, um dado no mínimo preocupante revelou que 57 milhões de brasileiros já se encontram inadimplentes, destes 60% dos endividados têm contas atrasadas que superam toda a renda mensal. Outro dado aponta que 53% das pessoas com dívidas possuem até duas contas não pagas no prazo. É necessário observar que este número representa que, do total da população brasileira com 18 anos ou mais (144 milhões de pessoas), cerca de 40% estão inadimplentes. Um cenário de crise não se estabelece devido ao desemprego baixo que gira, de acordo com dados do IBGE entre 4,6% e cerca 5%, que garantem um cenário de pleno emprego.
Como podemos explicar esta desaceleração? Bom já havíamos apontado em uma análise anterior que este modelo de crescimento não era sustentável, em seu sentido de gerar um ciclo de crescimento. Pois nota-se que desde que o PT assumiu, colocou em curso seu projeto neodesenvolvimentista, baseando-se no aumento da oferta de crédito e não da distribuição de renda, o que logicamente leva a população ao endividamento, estagnando, ou ao menos diminuindo a capacidade de crescimento. Anteriormente já havíamos levantado dados recentes que apontam a situação do aumento dos salários no Brasil

“No que tange ao ganho real nos salários, este é muito pequeno no atual cenário. Apesar de que 84,5% das categorias que são monitoradas pelo DIEESE tiveram aumentos acima do INPC, apenas 0,6% receberam aumentos acima de 5%. A maior fatia recebeu entre 0,01% e 1%, somando 34,8% destes 84,5%. Nesta mesma pesquisa, constata-se que 64% tiveram um aumento da ordem de 0,01% a 2% acima do INPC. Em 2012 houve a maior taxa de aumentos acima de 5% do INPC. Isso atesta que o aumento no consumo se deu com a ampliação do crédito e corrobora a afirmação de que não há uma distribuição de renda significativa no país.” (CAB, 2014)

No que se refere o panorama da distribuição de renda encontramos também um quadro não muito positivo:

Enquanto isso, a maior parte da população brasileira continua vivendo com menos de um salário mínimo: trabalhadores com 15 anos ou mais de idade que ganham menos de um salário mínimo somam 26,080 milhões, isso representa que 43% da famílias brasileiras apresentam uma renda per capita inferior à um salário mínimo. (2)
Estes dois elementos quando se defrontam, demonstram a crueldade da realidade brasileira: enquanto 124 pessoas concentram mais de 12% do PIB, 26 milhões de trabalhadores vivem com menos de um salário mínimo por mês.
Mas para manter a aparência de “país rico”, o governo e a mídia disseminam o conceito de “classe média” como se houvesse mesmo, na prática, esse segmento que se diferencia dos pobres e miseráveis. Para o governo, essa “classe média’ abrange a população com renda per capita de R$ 291 até R$ 1019, ou seja, mais da metade da população brasileira pertence à classe média. Mas na prática, o que isso significa? O governo está mesmo redistribuindo a riqueza? Sim e não. Esta renda média está muito abaixo daquilo que o DIEESE aponta como necessário para se ter acesso aos direitos fundamentais, a instituição estipula que o salário mínimo brasileiro deveria ser de 2.621,70 R$ (2013). Percebe-se que, na realidade, o que acontece é que o governo redistribui a miséria. Segundo o IPEA, a pobreza reduziu no brasil de 32,4% para 22,6%, incluindo mais essa parcela da população na classe média, mas os mais ricos continuam da mesma forma, acumulando. Vejam: 1% da população mundial detém 43%da riqueza do globo, e 43% detém 2% da riqueza. (Banco Credit Suisse); apenas 6% dos brasileiros detém meios de produção próprios (IPEA); ou ainda: 1% dosproprietarios de terra brasileiros detém 45% da terra, 90% dos proprietários detém 20%(INCRA). Assim o que aparece como distribuição de riqueza nas afirmações do governo, na verdade se configura como uma dispersão da renda dos mais pobres, enquanto a acumulação dos mais ricos mantém os mesmos padrões, ou mesmo se intensifica, afinal com o crescimento da economia brasileira não contemplando a desconcentração de riqueza, acaba por estes segmentos se afastarem cada vez mais, afinal o crescimento dos mais ricos é assombrosamente maior. (CALC, 2013)

Como vemos, para além da distribuição de riqueza relacionada à população mais pobre, por meio de programas sociais (cujo o carro chefe é o bolsa família), não existe uma desconcentração real de riqueza, o que impede um ciclo contínuo de crescimento.
Em contra partida, os setores dominantes sentem a desaceleração, com um crescimento menor e com menores lucros (menores porque não batem recordes). Entre os bancos vemos na lista de maiores lucros, o Banco do Brasil, um banco público com lucro líquido de R$ 15,75 bilhões em 2013, ficando em primeiro lugar. O que demonstra que a oferta de crédito ainda é responsabilidade do Estado. Na sequência vem o O Itaú Unibanco com lucro líquido contábil de R$ 15,696 bilhões, acima do resultado de R$ 13,594 bilhões registrado um ano antes. Em terceira posição está o Bradesco, com um lucro líquido contábil de R$ 12,011 bilhões em 2013, valor acima dos R$ 11,381 bilhões obtidos no ano anterior. Não à toa vemos a pressão para o aumento da taxa Selic, a taxa básica de juros, pois como vemos tais bancos garantem um bom percentual de seus lucros no Brasil. O Santander, quarto nesta mesma lista, garante quase ¼ de seu lucro somente no Brasil. As classes oprimidas veem seu poder de compra diminuir com seu endividamento e com a inflação corroendo-as. A resposta para conter a inflação tem sido aumentar a taxa de juros, assim de um lado ou de outro quem “perde” é a população (com a alta da inflação ou com a alta dos juros), afinal investir no aumento da oferta não é do interesse dos grandes capitais financeiros. Pois no mesmo momento que governo declarou a diminuição do crescimento do PIB, alertou para um aumento na estimativa da inflação para o ano. Mesmo com desaceleração em junho, ainda batia o teto (de 6,5%) atingindo um acumulado de 6,52% nos últimos 12 meses. Em julho sofre ligeira desaceleração e se manteve por pouco, mas ainda acima do teto 6,51%.
Como vimos o governo continua apontando como modelo de crescimento a expansão de programas sociais, infraestrutura e a tal “competitividade produtiva”. Não vemos nenhum apontamento que o governo ira radicalizar na política de distribuição de renda ou ainda no investimento em setores estratégicos para fortalecer a indústria nacional realmente. O que vemos é que temo uma equação complexa a resolver, como manter o crescimento no consumo sem aumentos reais na renda? Como ampliar ainda mais o consumo e frear a inflação, se para conter a inflação o governo aumentou a taxa de juros para frear um pouco a procura? E mais como modernizar a indústria e o parque produtivo sem investimentos massivos na área ciência e tecnologia (o ápice de investimento é no ciência sem fronteiras, e não na montagem de equipamento em de C & T em solo nacional)? Como segurar capitais sem um disciplinamento dos mesmos (isto é, regulação, pois não há nacionalismo que faça capitalistas segurar o dinheiro em nossa economia)?
É inviável pensar em como atrair mais capitais produtivos para o País com uma taxa de juros de 11%, que favorece o capital financeiro, não à toa a venda de títulos públicos (títulos de dívida) bateu o recorde de R$ 57,97 bilhões. Não à toa a dívida pública volta a crescer 3,4%, chegando aos 2,12 trilhões. Não à toa vemos que as previsões para indústria são de encolhimento de 0,67% (pesquisa Fócus) neste ano de 2014 (a três meses a indústria encolhe). Entre os BRICS deixamos de ser a 4º economia com mais investimentos para passar a ser a 7º.
Qual solução apresenta o Governo? Por óbvio o aumento do crédito, a exemplo inverso do crescimento econômico os desembolsos do BNDES sobem 35% no 1º bimestre. No período, desembolsos chegaram a R$ 28,5 bilhões. Desembolsos para o setor de infraestrutura tiveram aumento de 82%, não à toa vemos que estes são os setores que mais financiam campanhas eleitorais. Não por acaso as contas do governo têm pior resultado para o 1º semestre em 14 anos.
Em junho, houve déficit de R$ 1,94 bilhão, pior resultado desde 1997. A arrecadação tem o pior crescimento desde 2009, isso resultado de desonerações fiscais, em especial a automóveis e eletros. Outro caminho encontrado pela presidente, e citado em seu programa como mais uma solução para o crescimento, são as parcerias público privadas, onde o governo entra com o financiamento (via BNDES), e o setor privado com a “gestão eficiente”, e é claro o lucro, tudo em prol do desenvolvimento. Entraram na onda da privatização portos, aeroportos, rodoferrovias, rodovias e Hospitais. Todas estas medidas para buscar manter as classes dominantes satisfeitas, e por outro lado impedir que as classes dominadas enfrentem o desemprego e achatamento ainda maior em sua capacidade de consumo.
Como vemos a economia enfrenta turbulência, e as classes dominantes ainda continuam a expandir seus ganhos, já ganharam mais, mas continuam ganhando. As classes dominadas vem perdendo o acesso a uma das únicas conquistas que obtiveram junto a este governo: o consumo. Têm percebido pouco a pouco perda de seu poder de compra, afinal endividados não tem condições de contrair mais despesas. Perdem com a alta da inflação, perdem com a alta dos juros, perdem quando o Estado se endivida e investe menos em áreas sociais, o mesmo ocorre quando o Estado arrecada menos, de um jeito ou de outro perde, e paga as contas do neodesenvolvimentismo. Tais aspectos não poderiam deixar de influenciar o panorama político. Afinal quando a política do “ganha-ganha” não é possível, sabemos quem tem de “perder”.

Acabou a festa do crescimento, acabaram os amigos…

Vemos junto das condições de instabilidade econômica, despontar os primeiros questionamentos a cerca do governo. O consenso de classes forjado pelo PT em seus 12 anos de governo, parece se abalar frente a incapacidade de manter um cenário de crescimento econômico. Se este governo já teve avaliações positivas acima de 60%, chegando a 68% em Dezembro de 2010, e mesmo em março de 2013 ainda contava 63% de aprovação, atualmente sua avaliação caiu a quase metade disso, pois em 4 meses a aprovação ao governo caiu nove pontos, de 43% para 34%. Ainda segundo a mesma pesquisa do Ibope (abril) a desaprovação à maneira de Dilma governar subiu de 43% para 48%. Segundo pesquisa do mesmo instituto realizada em julho, gostariam que o/a presidente mudasse totalmente o governo do país: 29%; mantivesse só alguns programas, mas mudasse muita coisa: 41%; fizesse poucas mudanças e desse continuidade para muita coisa: 18%;
desse total continuidade ao governo atual: 10%; e não sabe / não respondeu: 2%. Essa desaprovação ao governo Dilma, que possui influência indireta nas eleições, não consegue, contudo, ser captada por Aécio, mas por Marina, uma suposta alternativa, que como veremos não pode ser encarada como uma “saída”
Como dito, os problemas para reprodução do ciclo de crescimento, e a desconfiança na política do governo já tem seus resultados eleitorais, que se não retiram a estabilidade do governo, fazem o consenso em torno do PT ser atingido. Percebe-se o quão frágil são as conquistas petistas, que garantiram crescimento aos de cima, e acesso ao consumo e emprego (de baixa qualidade diga-se) aos debaixo, que ao demonstrar seus primeiros sinais de cansaço devido o modelo de desenvolvimento adotado, já mostra que aquilo que era tão consensual, talvez não o fosse tanto assim. São os frutos da engenharia do pacto social montada em todos esses anos de governo petista que, ao priorizar e fazer de centro de sua estratégia conchavos e alianças com os setores dominantes acabou deixando de lado a mobilização e organização dos de baixo, enterrando de vez qualquer perspectiva de transformação Socialista.

Sem crescimento econômico: debandada dos de cima… Sem garantia de Direitos: Insatisfação dos de baixo!

Como apontamos, a diminuição na taxa de crescimento aliada a fatores de coerência ideológica tem gerado tensionamentos por parte dos setores dominantes ao governo petista. Muitos deles feitos por meio da mídia, que ataca o PT e busca ampliar o clima de instabilidade, buscando favorecer a “oposição” ao governo, que agora promete modernizar a base produtiva com uma reforma tributaria, isto é sempre menos Estado, no que tange a gestão da economia e direitos, afinal não estão falando de uma reforma tributaria para implementar impostos progressivos. Mesmo a direita entrou na onda de criticar a copa (como alguns apontavam o General Figueiredo não fez a copa), e contrastando os estádios com serviço público.
Como apontamos anteriormente também, se não houve uma mudança radical na distribuição de riqueza também não houve atendimento à população no que tange aos serviços fundamentais. Se observarmos os principais serviços de atendimento a população: educação, saúde, transporte e saneamento, os mesmos não passaram por mudanças significativas, esperadas de um partido reformista. Nem podia ser diferente, se olharmos o orçamento de 2014, 42% são destinados à dívida pública. Somando isso à Lei de Responsabilidade Fiscal, torna-se difícil discutir qualquer mudança, ou reforma que seja. Não surpreende a privatização estar em uma crescente. Vemos recentemente esta noticia: Fusão da Anhanguera e Kroton cria a 17ª maior empresa da Bovespa
“Nova empresa passa a ter valor de mercado de mais de R$ 24 bilhões. Associação cria empresa com quase 1 milhão de alunos.”
(…)
De acordo com o CFM, do investimento federal total de R$ 47,3 bilhões em 2013, os R$ 3,9 bilhões da saúde representam 8,2%. Esse percentual, segundo a entidade, é menor que as fatias destinadas aos ministérios de Transportes (23,3%), Defesa (18,6%), Educação (16%) e Integração Nacional (9,3%).

Como pode-se notar a educação no Brasil continua a ser um negócio, e o aumento do investimento público se dá no setor privado. No ensino superior, por exemplo, veio por meio do PROUNI, que não é nada mais que a privatização de vagas públicas (estima-se que cada vaga no PROUNI custa cerca de 3 nas Universidades públicas). Ainda quando vamos olhar em como se encontra a educação, nos defrontamos com o seguinte panorama

Quando tocamos a situação das universidades, temos uma situação ainda mais crítica no que tange à administração do serviço por parte do poder público. Apenas 11% da população entre 25 e 64 anos de idade atingiu esse patamar educacional, quando o recomendável para nações desenvolvidas é, pelo menos, 31%. Atualmente, ao menos 74% dos estudantes do ensino superior têm de recorrer ao ensino privado, pois as instituições de ensino superior privado correspondem à maior parte deste serviço no Brasil. São 2.112 instituições privadas para 304 públicas. Somente 62% das pessoas com ensino superior e 35% das pessoas com ensino médio completo são classificadas como plenamente alfabetizadas. Segundo pesquisa do Instituto Paulo Montenegro e da ONG Ação Educativa, os níveis de alfabetização e alfabetização funcional melhoram seu desempenho de acordo com a renda. Percebe-se que o produtivismo imposto à educação brasileira por órgãos internacionais nos anos de neoliberalismo ferrenho, combinado com a falta de atenção naquilo que tange às políticas de bem-estar social (em que renda é somente um elemento) e com uma universalização que não representou aumento suficiente em verbas (por consequência em ganho estrutural e pessoal), gerou uma estrutura sobrecarregada (salas lotadas) com número pequeno de professores, acabando por se converter em uma educação massificada de péssima qualidade. Nosso país não somente tem uma educação de péssima qualidade, como, por conta da expansão via universidades privadas, é incapaz de promover o desenvolvimento tecnológico, pois as privadas não investem em pesquisa e possuem um frágil sistema de produção de conhecimento. O Brasil é responsável por meros 2,7% da produção científica no mundo, o que é pouco para uma das maiores economias mundiais. Não é à toa que somente quatro universidades brasileiras estão entre as 100 mais bem avaliadas dos BRICS. Nessa área, a privatização se estende a todos os níveis, do básico ao superior, seja por meio da privatização de receitas, da estrutura pública ou pela liberalização que transforma um direito em mercadoria.
No recém aprovado PNE (Plano Nacional de Educaçao), grande parte da discussão ficou em torno de orçamento, os famosos 10% do PIB, e 100% do Pré-Sal. Se estas discussões são importantes, não podemos esquecer de pensar na qualidade e gestão da educação, justamente o que mais preocupa no PNE que preve a privatização do sistema de educação de cima a baixo, desde a educação infantil até a pós graduação.
Na Saúde não temos melhores situações em pesquisa recente, realizada pelo TCU aponta que 64% dos Hospitais encontra sempre superlotados, 81% das unidades tem falta de médicos, e 73% das instalações são inadequadas. Em pesquisa ainda deste ano (2014), constatou-se algo que não soa nada estranho frente a este panorama, 93% da população se encontra insatisfeita com o SUS e convênios privados. Recentemente ainda encontrávamos o seguinte cenário

Segundo pesquisa de 2011, cerca de 70% da população se encontra insatisfeita com os serviços prestados pelo SUS. Esse número se refere àqueles que, frequentemente, buscam o serviço. A principal reclamação é de falta de médicos, seguida da demora em agendar consulta ou exame na rede pública (IPEA), que podem chegar, segundo algumas fontes, a 9 meses. Segundo outra pesquisa, cerca de 60% da população usa somente o SUS, enquanto outros 30% combinam o uso do SUS com a saúde privada. Na prática, cerca de 90% da população depende dos serviços do SUS. Ele não obtém aumento real em sua suplementação desde 1994, pois, a inflação no setor de saúde acumulada na última década, de 83,3%, acabou por absorver os 32% de aumento em subsídios no setor. Vemos o atual governo romper somente na retórica com a antiga política privatizante, impondo-a por meio de medidas mascaradas, como no caso das empresas públicas de direito privado (como a EBSERH), que abrem espaço para as privatizações (hospitais de porta dupla) e promovem a mercantilização da saúde (não só no sentido comercial, mas também de submetê-la à lógica da administração empresarial em detrimento do bem-estar. Em nível estadual temos as suas equivalentes, as Organizações Sociais (OSs). Somente apontando esses dados preliminares, sem nos determos à fundo nas estatísticas relacionadas à saúde pública brasileira, é notável que a sua situação é catastrófica.
Ainda no que se refere o saneamento básico, tema diretamente ligado a Saúde Pública, dos 100 maiores municípios, 34 não tem plano de saneamento estima-se que 35,5 milhões de pessoas não acessam o saneamento básico.
No que se refere aos transportes, dos 50 bilhões adicionados por Dilma no orçamento para área, parece que pouco se investiu em transporte para a população. Acabou que a única conquista real da população foi a redução da tarifa nas mais de 100 cidades, e algumas cidades que passaram a garantir o passe livre por meio da força das ruas. Em geral o transporte continua na mão das velhas máfias do transporte, mais do que isso, esse orçamento suplementar caiu na mão de velhas oligarquias. O Cade realizou denuncia de cartéis nas obras de metro em São Paulo, Distrito federal, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Como vemos a situação continua igual ou mesmo pior.
Tais dados revelam a realidade de um Brasil que ocupa a posição de 46° lugar em novo índice que mede a qualidade de vida. O Indicador global IPS avaliou ‘progresso social’ em 132 países. Brasil foi o melhor dos Brics, mas foi superado por outros latinos. O país mais bem-sucedido da região foi a Costa Rica, que apareceu em 25° lugar. Em seguida, vieram Uruguai (26°), Chile (30°), Panamá (38°) e Argentina (42°). Como vemos não necessariamente “País Rico é País sem Pobreza” pois, mesmo em índices de instituições burguesas, aparecemos atrás no que tange a qualidade de vida de países com economias muito menores.

Igual não é, mas também não cai muito longe…

Parte da esquerda desqualifica seu próprio debate apontando que o PT segue a mesma cartilha neoliberal do PSDB. Entendemos que tais afirmativas, para além de serem de certo modo inverdades, desqualificam a esquerda que acaba por afirmar que a realidade promovida pelo PSDB, de privatizações estrito senso, e menos participação do Estado na economia são idênticas por parte do governo PT. Não se pode comparar o atual governo ao período do PSDB, quando somente de 95 a 2000 o desemprego cresceu 155,5%, e o investimento público na geração de emprego declinou 32,2 %. Soma-se que em 2000 o desemprego batia os alarmantes 15%, dos quais hoje estamos distantes. A política de protagonismo econômico do Brasil frente a economia mundial também é um diferencial. O Banco do Brics é um de seus últimos exemplos. A lógica ainda é a lógica capitalista, por óbvio, em especial porque o multilateralismo brasileiro pouco leva em conta as alianças políticas, mas o pragmatismo econômico (basta ver que Rússia e China estão longe de serem países democráticos), e visa em especial criar zonas de influência do imperialismo brasileiro.
Todavia vemos que a lógica privatizante permaneceu (agora sob a égide das PPPs), e que o investimento público, como demonstramos, não atingiu aquilo que espera-se de um governo reformista. Deste modo destacar diferenças não significa capitular ao “melhorismo” do PT, nem mesmo defendê-lo, mas compreender uma reconfiguração dos inimigos de classe. Ou seja, não há como negar que o governo PT se preocupou, de alguma forma, em favorecer a parcela mais precarizada da população brasileira, porém, sempre com políticas dualistas, onde os pobres ganham um pouco e os ricos ganham mais. Exemplo disso são os programas sociais que o governo PT desenvolveu durante sua gestão, como o Minha Casa Minha Vida ou o Minha Casa Melhor que, claramente, são políticas de estímulo ao consumo que visam aquecer o mercado.
Outro tema que vem aproximando o PT do PSDB é a forma como vem sendo tratados os movimentos sociais. Pois a repressão aos mesmos se tornou uma constante, como a judicialização da luta política. Os casos de São Paulo (2 presos) e do Rio de Janeiro (23 indiciados) são exemplares, e, se não são de responsabilidade direta do PT, são realizados com sua benção. Não é raro a guarda nacional e o exército serem acionados para combater movimentos. E mais, o PT foi um dos partidos que mais se esforçou por aprovar o projeto de lei que visava conter os protestos, aderindo mesmo ao projeto da bancada do PDT para acelerar a criação de dispositivos legais para reprimir manifestações. Cabe mencionar que o próprio exército vem sendo mobilizado para investigar manifestantes, algo que desde a ditadura não se via. Parece que estamos a relembrar a onda de terror e medo de investigações massivas, que chegam a absurdos para condenar militantes. A própria anistia internacional interveio no tema dos protestos relacionados à Copa, apontando que o Brasil vinha infringindo o direito a livre manifestação. Isto parece um contrassenso em um governo que tem sua presidente saída dos quadros da luta contra a ditadura, e mais absurdo quando vemos o cinismo da mesma: “Na minha época eramos presos por fazer política”. Tem se tornado lugar comum, os movimentos sociais serem tornados caso de polícia, e temos visto o mesmo tipo de montagem de “farsas” contra movimentos, dignos das épocas mais reacionárias de nosso país, botijões da gás que viram explosivos, livros de determinadas ideologias (em especial anarquistas) que se tornam prova de crimes (como na invasão do Ateneu Batalha da Várzea), mais recentemente ainda camisas, bandanas e suvenires de banda se tornaram prova de crime.
Para criminalizar o protesto, o PT e o PSDB vem contando com o apoio da mesma mídia que o PT acusa de golpista (e realmente o é até hoje, o wikileaks recentemente revelou documentos que revelam ligações de agentes da Globo e Folha de São Paulo a cônsules americanos). Mídia que os governistas apontam como sua principal oposição. Todavia há de se lembrar que se as concessões continuam na mão dos oligopólios da informação, é com a anuência do PT. Governos como o de Chaves e Kichiner revisaram tais concessões. Todos estes processos de criminalização buscam silenciar aqueles que denunciam o “bem estar” tupiniquim, criado por um governo que concede muito aos de cima, e que cede pouco aos de baixo, que precisa se comparar o tempo todo àquilo que existe de pior na política institucional para se situar a esquerda. Não tem existido deste modo menor constrangimento por parte do governo do PT na montagem e sustentação de farsas (é o caso de Tarso no RS) contra os movimentos sociais e na intensificação da repressão e organização de uma máquina de repressão aos movimentos sociais. A criação de bodes expiatórios como mascarados, black blocs, “fascistas” etc., se mostra como a faceta de farsas criadas para abafar as vozes descontentes, afinal a população deve aceitar resignada que o melhor que podemos alcançar em matéria de mudança social é o PT, e que qualquer oposição fortalece a oposição tucana, isto, claro, na visão do governismo. Estas farsas, que sim podem ser aproximadas (guardadas as proporções) aos tempos tucanos, e mesmo dos “anos de chumbo”, de alguma maneira obtiveram êxito em certo esvaziamento das ruas. Porém se a mídia consegue cumprir o papel de confundir, e busca esvaziar as ruas elegendo novos inimigos para colocar no lugar das classes dominantes, criando um antagonismo entre população e militantes/ativistas, estabelecendo as urnas como lócus da política, por outro vemos que o descontentamento e concordância com a necessidade de mudança não muda. Temos de observar ainda que em matéria de direitos humanos, este governo já firmou seu pacto com os setores mais conservadores, demonstrando que não podemos esperar nem as tímidas mudanças sociais que ensaiou o Uruguai, onde se descriminalizou o aborto e o uso da maconha, e mais deixando voltar a tona pautas de direita como internação compulsória para usuários de drogas e a malfadada “cura gay”. O PT é conivente com tais absurdos, pois nos bastidores Dilma já acalmou alguns dos setores mais conservadores da sociedade, (a exemplo de seu “pacto” com os neopentecostais) comprando seu apoio ao trancar pautas relacionadas a liberdades civis e direitos Humanos.
Já não nos defrontamos com o momento em que 8 em 10 brasileiros apoiavam as manifestações (Datafolha, 2013), que dois milhões saíram as ruas, em um contexto onde ocorreu uma manifestação a cada 3 dias na paulista (CET, 2014), não podemos dizer que a população está “acomodada” com a situação. Em uma recente pesquisa mostrou-se que se 73% dos paulistas vêm mais prejuízos do que ganhos nas manifestações, ainda sim 52% dos mesmos apoia as mesmas (Datafolha, 2014), cabe destacar a que pesquisa foi realizada no primeiro dia da greve de ônibus. De São Paulo, Estado mais rico em pesquisas do tipo, vemos que com o início da Copa caem 61%, mas que por outro lado temos 14,5% mais manifestações que em 2013 no primeiro semestre. O que podemos apurar disso, é que se as manifestações estão menores, se tornaram frequentes e parte do cotidiano, o “senso comum” já as compreende como parte da vida política, e isso podemos entender como uma mudança ideológica significativa na consciência dos brasileiros. Se a massa saiu às ruas, os velhos movimentos ganharam nova força em uma conjuntura ideológica mais favorável, vimos greves massivas, sem teto, etc. Por outro lado vemos uma confusão instaurada pelos meios de comunicação, endossadas por nossas personalidades políticas, que demonstram que se não existe uma homogeneidade entre PT e PSDB, as classes que os mesmos representam (ambos disputam a capacidade de representar as classes dominantes) tem uma mesma preocupação, assim passam a existir muitos pontos de contato, talvez o principal é de que os poderosos não gostam da organização e luta dos de baixo, e que seu trato é o mesmo, cooptar quem se pode cooptar, reprimir quem não concordar. Não é à toa que o candidato à presidência do reacionário PSDB (que tem em seu seio desde narcotraficantes, a membros da Opus Dei) não tem problema algum em colocar: “Política e administração pública é você copiar as coisas que dão certos e aprimorá-las. […] Não tenho o menor constrangimento de mantê-los e aprimorá-los [os programas socias do PT]“. Como vemos escolhemos no máximo com qual “molho” vamos ao fogo. O problema é da democracia burguesa, e não dos partidos em questão, salvaguardadas as diferenças, ambos terão que manter a “ordem”, sem ao mesmo tempo alterar nada de fato, pois não se pode distribuir direitos sem mexer na concentração de riqueza. Isso ficou claro nos dividendos políticos gerados na “sala de cima” da política pelo junho de 2013: mais repressão, fortalecimento do aparato militar, farsas e mentiras da mídia encomendadas por estes senhores e senhoras e claro mais recursos públicos paras as quadrilhas que se associam ao poder público.

Uma “Nova Velha” Alternativa

A “fatalidade” da queda do avião de Campos, abriu espaço a uma “nova” e ao mesmo tempo velha conhecida do eleitorado, Marina Silva. Dirigente da Rede Sustentabilidade, sigla que não foi legalizada, como herdeira natural de Campos assume a cabeça da chapa liderada pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro – cujo socialismo resistiu somente na sigla). A fraqueza do PSB e seu programa fica eminente, na medida em que cede sua sigla a uma “forasteira” no partido (afinal Marina apenas aluga a sigla por seu partido, a Rede, estar ilegal) na eminência do sucesso eleitoral. Isso tanto procede, que quando o chefe da campanha de Campos padece, tão logo o PSB anuncia Marina como nova candidata a presidência.
Não podemos deixar de lembrar que Marina, é uma velha novidade, na medida em que fez parte do atual governo. Mas as semelhanças com o passado, não param por ai. Se temos como “velhas” alternativas o PT de Dilma (mesmo lugar da onde saiu Marina) e o PSDB de Aécio, e como novidade a Marina da Rede (travestida de PSB), nos bastidores da política, a realidade é a mesma. Marina tem como grande financiador o maior banco privado do País: o Itaú. Conta com Neca Setúbal como sua estrategista, nada mais nada menos que a herdeira da rede bancária. Como já discutimos, sem enfrentar o capital financeiro que morde boa parte dos recursos orçamentários do país (com a arrolagem da dívida pública), fica difícil pensar em mudanças quaisquer. Quando tem-se o capital financeiro pagando a conta de uma candidatura, é eminente que esta candidatura em nada rompera com o status quo.
Outra mostra de que Marina é mais do mesmo fica por conta de sua prontidão em abrir mão de compromissos históricos seus e de sua legenda (no caso a Rede e não o PSB), que são com a ecologia e a tal sustentabilidade (conceito tão disputado que sem uma longa discussão pouco define, atualmente). Marina já se dispôs a apoiar e financiar o setor do agronegócio (supostamente seus inimigos históricos na pauta ambiental). Se aquilo que era o “coração” do programa de seu partido já se esvaiu na eminência de uma vitória eleitoral, no caso a suposta “intransigência” da ambientalista na defesa do meio ambiente, não podemos esperar que aquilo que está em um segundo plano resista. Deste modo temos uma terceira via que renuncia seu “programa” na primeira oportunidade, que flexibiliza aquilo que lhe é mais caro em nome do pragmatismo eleitoral. Diante de poucas certezas “programáticas” de Marina, a suposta Terceira Via: também representa a vitória do Capital. Entendemos que esses 3 projetos (PT, PSDB e PSB/REDE) representam variações administrativas no marco do Estado e que seguirão ajustados às relações de poder do sistema de controles do capitalismo financeiro. Não podemos nos deixar iludir pelas falsas alternativas; a SAÍDA À ESQUERDA É SÓ UMA.

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As Ruas são a Única Saída à Esquerda

Junho de 2013 nos mostrou que existe certo descontentamento com o governo atual, principalmente pelos setores médios da população. Porém, a esquerda combativa (leia-se esta, a esquerda que luta por fora do poder burguês) tem tido imensas dificuldades de aglomerar todo este descontentamento em termos de organização e construção programática dos de baixo. Nesse sentido veremos setores oportunistas “surfando na onda”, da necessidade de mudança, chamando às “urnas” que são o “verdadeiro” lugar da cidadania (Marina Silva tão prontamente tomou este posto). Mesmo assim, observamos uma disposição da população para com a luta e ação direta, que a muito não víamos. Quando se trata da juventude, aquela parcela da população escolarizada (os dados mostram que em junho a maioria era de universitários), com um perfil etário que não viu as mazelas do PSDB, mas que também não viu o PT em seus áureos anos de combate, tem aparecido com disposição para exigir mais, e isso o próprio PT admite em seu programa para 2014. Segundo a Pesquisa Agenda Brasil Juventude, nove em dez jovens acreditam que podem mudar o mundo, 83% entendem que a política é importante, e destes 45 % ( a resposta mais escolhida) dos jovens entendem “a participação e mobilização nas ruas e ações diretas” são o mais importante, seguido de 44% para “atuação em associações ou coletivos que se organizam por alguma causa”, em terceiro “atuação em conselhos, conferências, audiências públicas ou outros canais de participação deste tipo”, com 35%. Podemos ver que as “ruas” vencem na pesquisa, todavia os instrumentos da Política Nacional de Participação Social, ainda ocupam um bom espaço, assim sendo a cooptação e manipulação da participação popular ainda estão voga, em franca disputa com os movimentos sociais independentes, afinal esta foi uma das últimas cartadas de Dilma para tentar capitalizar a revolta das ruas, a institucionalização do PNPP. Sabemos que este é mais um engodo, não porque discordamos da participação popular, mas porque sabemos que na ordem do dia não serão colocados o orçamento, a dívida pública, mas sim a reforma política, que nada irá alterar, afinal as eleições e nossos representantes são uma das facetas do poder burguês. As relações de poder que garantem os privilégios e dominação das classes dominantes não serão alteradas pelas eleições. Nesse sentido, antes mesmo das eleições começarem, podemos ter uma certeza: as classes dominantes vencerão, e as classes oprimidas perderão, perder com governos que já tem pactuados seus acordos com as elites, os donos do poder, perder quando manipulados se enganarem e verem o poder neste processo, e assim se deixando cooptar pelo processo que somente legitima a Ditadura Burguesa com a áurea de democrática. A única vitória possível pelos oprimidos virá de sua organização e luta, pois mesmo as reformas não virão de uma mágica varinha de condão do Estado, mas pela capacidade de pressão que tem as classes oprimidas. É essa força que faz mesmo o reacionário PSDB aceitar programas sociais (afinal é temperatura da luta de classes que faz a política ceder, e não a benevolência ou consciência subjetiva destes senhores). Nesse ponto concordam PT e PSDB, bem como a classe dominante, o poder não pode se reorganizar, tampouco se democratizar, com reforma ou sem reforma política as eleições ainda serão uma encenação, o “espetáculo democrático”, pois os temas estratégicos para a população somente podem aparecer na ordem do dia por meio de sua ação direta. Junho é uma pequena mostra disso, se arrefecendo o espírito de luta na massa, as pautas das ruas saíram de cena ou fizeram uma metamorfose, se tornando interessantes a burguesia (voltemos ao caso da suplementação orçamentária ao transporte, cujo o dinheiro vem caindo nas mão dos velhos cartéis). PT e PSDB não são iguais, mas ambos são partidos da ordem burguesa que disputam a gestão do aparelho, não um projeto de sociedade. A esquerda “revolucionária” que participa das eleições sequer tem força para disputar o aparelho, e serve como mera legitimação do processo, emprestando-o ares de plural e democrático. As mudanças que se ensaiaram vieram todas das ruas, e somente aí se apresenta uma saída à esquerda para o processo. Seus programas recheados de “boas intenções”, como eles mesmo sabem, sequer tem chances nas eleições minoritárias, menos ainda nas disputas em torno do poder executivo, elucidando mais uma vez que não há “milagre” que substitua o trabalho e a organização de base, demonstrando que sua incansável propaganda (12 anos o PSOL, e 20 anos do PSTU) pouco renderam eleitoralmente ou organicamente. Sequer são capazes de criar um campo de unidade da esquerda, apresentando nas eleições uma esquerda que é minúscula e fragmentada, e que muito pouco pode definir na atual política brasileira.
O terreno ainda é fértil ao nosso campo, que ganha mais espaço público que em outros tempos. Não ao acaso nos tornamos o bode expiatório mais atingido pelas farsas policiais. A população, em especial a juventude, está aberta para discutir uma nova política. Uma “Outra Campanha” nunca esteve tão em voga, afinal o consenso dos Partidos da ordem atual em torno da necessidade de pactuar as classes sociais, e de gerir a miséria capitalista da forma mais “humana” possível, fazem com que as massas olhe com ceticismo o processo eleitoral. Acreditamos que a única saída à esquerda possível é a organização dos de baixo e sua luta direta nas ruas. Apostamos na construção de processos de massas, sem “imposição” de programas “revolucionários” de cima. Afinal vanguardas descoladas não radicalizaram os de baixo por osmose, pois estes constroem seu espírito reivindicativo no dia a dia dos conflitos e das mobilizações.
As Ruas ainda jogam peso no imaginário daqueles que fizeram sua experiência de luta em 2013. O protagonismo político exercido pela população, na opinião dos anarquistas, sempre teve como lócus as manifestações e ações diretas em geral. Diante da realidade, que nos ofereceu uma recente revolta de massas no Brasil, este elemento das Ruas se mantém vivo no imaginário coletivo. Tanto o é que todos os candidatos da extrema esquerda a extrema direita reivindicam o legado de junho. O TRE tenta capitalizar nas urnas a “vontade de mudança”, tentando estabelecer uma disputa de “urnas” versus “ruas”, tentando definir que o lugar da política e da decisão, tem dia, hora e local marcado, estes definidos pelas classes dominantes, que já venceram antes do “gongo soar”.
Para nós Socialistas Libertários, a política dos de baixo não se faz nas urnas, mas no cotidiano do protagonismo de classe e da ação direta. Falar disso no atual momento não significa mais remeter a abstrações ou ao passado “dos anos dourados dos movimentos de massa”, mas remeter a algo que evoca no imaginário coletivo um real exercício do poder do povo. Sem sermos ingênuos acreditando que só ir as ruas basta, sabemos que a falta de organização de base fragiliza os processos de mobilização e facilitam as tentativas de controle pelos dominantes. Deste modo, nossa aposta é nas Ruas como espaço privilegiado da ação política, mas também é a aposta na organização horizontal e de base que fortalece a ação direta, com uma agenda popular que delibera, encaminha e executa seu programa: um programa dos de baixo, que não delega poder a nenhum político de plantão. Ou se vota com os de cima, ou se organiza e se luta com os de baixo!

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Coordenação Anarquista Brasileira – CAB
Setembro de 2014