Organização Resistência Libertária

Formação Política

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dez 142016
 

TEORIA E IDEOLOGIA DO ANARQUISMO

ORGANIZAÇÃO POLÍTICA: ESPECIFISMO 

A ORGANIZAÇÃO ESPECÍFICA ANARQUISTA E A SUA ATUAÇÃO NOS MOVIMENTOS SOCIAIS 

CONSTRUÇÃO DO ANARQUISMO ORGANIZADO NO BRASIL

IDENTIDADE DE GÊNERO, RAÇA, DIVERSIDADE SEXUAL

OUTROS TEXTOS

 

dez 082016
 

 

CARTA PÚBLICA DE COMEMORAÇÃO DOS 8 ANOS DA ORGANIZAÇÃO RESISTÊNCIA LIBERTÁRIA

A Organização Resitência Libertária está completando mais um ano de existência na sociedade predatória do capitalismo, ou seja, mais um ano de RESISTÊNCIA, e não de qualquer resistência, resistência libertária! Uma luta rebelde pela libertação de todos os autoritarísmos e demais opressões/dominações sistêmicas. Com este, são 8 anos dizendo basta ao machismo, ao racismo, às LGBTT fobías, à discriminação com os povos originários e a exploração da classe dominante ao povo pobre.

Temos ciência que os próximos anos  não serão passivos, como este também não o foi. Diante dos ataques aos direitos do povo oprimido, dos cortes orçamentários e do projeto monstruoso neoliberal que instalou-se no brasil; e ainda em razão de uma “esquerda” que vendeu-se completamente, que girou todos os seus esforços para a política eleitoreira e que colocou o povo em uma passividade diante da falsa representatividade democrática, a palavra resistência adquire um significado mais que especial. Mais do que nunca a palavra estará na ordem do dia, e é nossa tarefa fazer da palavra uma ação, como a tradição anarquista nos ensina. Se sempre foi hora de luta, nesse presente contexto é mais que evidênte. Sempre lutaremos lado a lado dos de baixo, seguiremos caminhando mesmo que à passos modestos no caminho cada vez mais perto do real poder popular, criando um povo forte rumo à revolução social. Seguiremos sempre fiéis aos nossos príncipios, aos nossos valores, pois apesar de não serem dogmas ou verdades absolutas, continuamos a acreditar em nossa ética libertária, que é do suor de nossas próprias mãos que nascerá um mundo de igualdade, de liberdade e de fraternidade.

Recordaremos com orgulho do dia 8 de dezembro de 2008, na abertura do I Encontro Libertário: Anarquismo e Movimentos Sociais, quando a Organização Resistência Libertária lia seu Manifesto de Criação. A partir daí foi palco de deiversos sonhos, de diversos rostos, e cada um deles foram fermento impulsionador de outros sonhos, de novas pilastras fincadas. Agradecemos aos velhos e novos rostos, aos apoiadores que cada um do seu jeito fizeram parte de nossa história.

Agradecemos aos companheiros e companheiras da Coordenação Anarquista Brasileira ao qual compartilhamos nosso projeto político de transformação social. A ORL agradece as organizações-irmãs, nomeadamente: Federação Anarquista Gaúcha (FAG/RS), Rusga Libertária (RL/MT), Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ/RJ), Federação Anarquista dos Palmares (FARPA/AL), Coletivo Anarquista Luta de Classes (CALC/PR), Organização Anarquista Socialista Libertário (OASL/SP), Coletivo Anarquista Bandeira Negra (CABN/SC), Federação Anarquista Cabana (FACA/PA), Coletivo Mineiro Popular Anarquista (COMPA), ao Fórum Anarquista Especifista da Bahia (FAE/BA), Organização Anarquista Maria Iêda (OAMI/PE) e da Organização Anarquista Zabelê (OAZ/PI).

Agradecimentos especiais ao Movimento Social FOME de Sobral, pela ótima convivência e companheirismo durante todos esses anos.

Coragem para lutar,

Coragem para vencer,

Ousar, lutar,

Criar o Poder Popular!

 

Organização Resistência Libertária

08 de dezembro de 2016

nov 252016
 

Fonte: Site Nacional da CAB

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O dia 25 de novembro foi instituído como o Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher em 1999, homenageando as irmãs Pátria, Minerva e Maria Teresa Mirabal, “Las Mariposas” – brutalmente assassinadas em 1960 a mando do ditador Rafael Leônidas Trujillo, da República Dominicana. As três, que combatiam corajosamente a ditadura de Trujillo, foram estranguladas por agentes do Serviço de Inteligência Militar dominicano que, para simular um acidente de carro, jogaram seus corpos em um precipício. Em 2016, o movimento feminista também lembra os dez anos de vigência da Lei Maria da Penha.

Em vários espaços, várias formas de violência destroem nossas vidas: violências domésticas, no ambiente de trabalho, nas ruas, nos transportes coletivos, nas escolas e universidades – quer sejam violências físicas, sexuais, psicológicas ou simbólicas. O Estado, o patriarcado e o capitalismo estão intimamente envolvidos na opressão e repressão de nossos corpos e vidas.

Em série especial chamada “Violência contra a mulher no mundo”, de 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) reúne dados importantes para entendermos o problema social da violência contra a mulher. Segundo este documento, a violência contra a mulher é a violação de direitos humanos mais tolerada no mundo. Essa pesquisa usa o termo feminicídio para designar toda violência contra mulher que leva ou pode levar à morte.

Os números do feminicídio são alarmantes e se dividem majoritariamente entre 1) feminicídios íntimos: 35% de todos os assassinatos de mulheres no mundo são cometidos por um “parceiro”; 2) feminicídio não-íntimo: são crimes cometidos por alguém que não tenha relações íntimas com a mulher. A América Latina é uma das regiões mais conturbadas por crimes como estes: estupros, assédios e assassinatos; 3) crimes relacionados ao dote: é mais evidente no continente asiático, onde a cultura do “dote” ainda é forte; 4) casamentos forçados: mais de 100 milhões de meninas poderão ser vítimas de casamentos forçados durante a próxima década; 5) mutilação genital feminina: mais de 135 milhões de meninas e mulheres vivas já foram submetidas a essa prática aviltante em 29 países da África e Oriente Médio; 6) “Crimes de honra”: são homicídios de mulheres, jovens ou adultas, a mando da própria família, por alguma suspeita ou caso de “transgressão sexual” ou comportamental, como adultério, recusa de submissão a casamentos forçados, relações sexuais ou gravidez fora do casamento – mesmo se a mulher tiver sido estuprada. O crime é praticado para não “manchar o nome da família”. 5 mil mulheres são mortas por “crimes de honra” no mundo por ano.

Além disso, segundos dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em todo o mundo, 52% das mulheres economicamente ativas já sofreram assédio sexual no ambiente de trabalho.

Em um documento chamado “Diretrizes Nacionais para Investigar, Processar e Julgar com Perspectiva de Gênero as Mortes Violentas de Mulheres – Feminicídios”, pesquisa aponta que no Brasil, a taxa de feminicídios é de 4,8 para 100 mil mulheres – a quinta maior no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

No nosso país, 43% das mulheres em situação de violência sofrem agressões diariamente; para 35%, a agressão é semanal, segundo o Centro de Atendimento à Mulher. Em média, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada em nosso país, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Num ranking mundial elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, que analisou a desigualdade de salários entre homens e mulheres em 142 países, o Brasil ficou na 124ª posição, com uma previsão de 80 anos para que elas ganhem o mesmo que eles. Igualdade de salários só em 2095! As brasileiras ganham, em média, 76% da renda dos homens, segundo o IBGE.

Segundo o mapa da violência de 2015, a população negra, com poucas exceções geográficas, é vítima prioritária da violência homicida no país. As taxas de homicídio da população branca tendem, historicamente, a cair, enquanto aumentam as taxas de mortalidade entre os negros. Por esse motivo, nos últimos anos, o índice de vitimização da população negra cresceu de forma drástica. O número de homicídios de mulheres brancas caiu de 1.747 vítimas, em 2003, para 1.576, em 2013. Isso representa uma queda de 9,8% no total de homicídios do período. Já os homicídios de negras aumentaram 54,2% no mesmo período, passando de 1.864 para 2.875 vítimas.

O principal agressor da mulher é o seu “companheiro” ou “ex-companheiro” e o local onde é realizada a agressão é, em 71,9% dos casos, o ambiente privado (residência), seguido da rua com 15,9%. A violência física é a mais frequente (48,7%), seguida da violência psicológica (23%) e, em terceiro lugar, vem a violência sexual (11,9%).

Todos estes dados passam longe da cruel realidade das mulheres, pois muitas violências e violações não são sequer denunciadas, mas servem à reflexão sobre a dimensão do problema da violência contra a mulher no mundo. Pensar em um processo de transformação social exige necessariamente que pensemos no enfrentamento a todas as formas de violência contra a mulher, cotidianamente, através de nossas organizações políticas e movimentos sociais.

O Estado, através dos poderes executivos, legislativos e judiciário negligencia políticas públicas de gênero, oprime e criminaliza as mulheres. A mídia machista objetifica nossos corpos e legitima as violências de gênero. O capitalismo nos explora mais e nos paga menos pelos mesmos serviços.

A atual conjuntura de corte de direitos sociais em nosso país avança também sobre nossas liberdades. A conhecida lei da mordaça impede professoras de abordar em sala de aula assuntos como diversidade sexual e de gênero. A contracepção através da pílula do dia seguinte pode ser barrada. O aborto é proibido, criminalizado e sua ilegalidade já fez centenas de mulheres pobres vítimas em clínicas clandestinas neste ano.

É urgente nossa organização e auto-organização para barrar o capitalismo, o patriarcado e o Estado, pois sabemos que só através da luta social cotidiana, internacionalista, desde baixo e à esquerda podemos transformar essa realidade.

Precisamos tomar as ruas contra as ofensivas do Estado, fortalecer a auto-defesa e criar espaços de solidariedade para o enfrentamento a todos os tipos de violências contra a mulher. Façamos nós por nossas mãos tudo o que a nós nos diz respeito!

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Construir mulheres fortes!

Construir um povo forte!

Coordenação Anarquista Brasileira (CAB)

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nov 162016
 

NOTA DO ENCONTRO NORTE & NORDESTE – BELÉM/PA

Primeiramente, Liberdade para Rafael Braga!

“Em todos os Estados mais e mais prisões estão sendo construídas. Para quem são? Eles certamente não estão planejando para por brancos nelas. Prisões são parte da guerra genocida do governo contra pessoas negras.”

Assata Shakur

Diretamente do trópico úmido, organizações anarquistas especifistas reafirmando o compromisso com o anarquismo social estiveram reunidas na cidade de Belém do Pará, para o VII encontro regional das organizações do Norte e do Nordeste da Coordenação Anarquista Brasileira (CAB) que aconteceu nos dias 12, 13 e 14 de novembro de 2016.

No momento em que o Brasil, assim como os países da América Latina, vem sofrendo com o avanço neoliberal e consequentemente com o desmonte das políticas sociais conquistadas historicamente pela classe trabalhadora, faz-se importante construir saídas para este cenário que foi desenhado para os/as de baixo em 13 anos de governo PT/PMDB, onde falsamente falou-se em favorecer o povo, quando na verdade a este sempre foram reservadas migalhas se comparado aos ganhos proporcionados ao setor empresarial/financeiro que foram os que mais lucraram, como os banqueiros, e que agora vem sendo escancaradamente executado a partir do “golpe” pmdbista em nível de governo federal com apoio da mídia burguesa, que nada mais é que um reflexo de políticas de retrocesso frutos do discurso ilusório de conciliação de classes.

Um rebatimento desse processo em curso está justamente nas ocupações que estão ocorrendo em diversas escolas de ensino básico, institutos federais e universidades país afora, impulsionadas por estudantes que, se utilizando dessa arma, lutam contra políticas que atingem negativamente a educação pública brasileira. Um exemplo de tais políticas é a medida provisória 746/16 que institui uma reforma no ensino médio nas escolas brasileiras. Outro exemplo é o projeto de emenda constitucional 241/55 que propõe congelar por 20 anos os investimentos nos setores de melhorias sociais como educação, saúde e saneamento. Estudantes, trabalhadoras e trabalhadores dos institutos federais e universidades somam resistências contra esses ataques às conquistas garantidas pelo povo através de muita luta no decorrer de décadas. Tais medidas afetarão agudamente as periferias, onde essas políticas públicas já chegam lenta e precariamente, e, certamente, os cortes de investimentos na área social contribuirão para endurecer ainda mais a realidade das periferias, somando-se a isso o cruel fenômeno da marginalização, criminalização, encarceramento (liberdade para Rafael Braga) e extermínio da juventude negra e pobre como prolongamento de política de estado.

Esse momento é de extrema importância, visto que a força das mobilizações será o termômetro para o governo implementar as outras reformas que já estão no gatilho, como a reforma trabalhista e a reforma da previdência. Ante tal contexto político, só a luta desde baixo, sem se envergar aos ajustes, e o fortalecimento das diversas formas de resistência como as ocupações, greves, boicotes, poderão apontar outro rumo para a construção de um poder popular pautado no socialismo e na liberdade.

Acreditamos, lutamos e resistimos ombro a ombro com os/as de baixo contra o ajuste fiscal e o corte dos direitos sociais. Seguimos firmes na árdua caminhada para a construção do poder popular e rumo ao socialismo libertário.

Contra os cortes de direitos!

Lutar e vencer fora das urnas!

Lutar, Criar, Poder Popular!

Federação Anarquista dos Palmares (FARPA) – AL

Organização Resistência Libertária (ORL) – CE

Federação Anarquista Cabana (FACA) – PA

 

set 282016
 

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“O sistema machista quer nos proibir com um papo furado, mas se homem engravidasse já seria legalizado.”

Brisa Flow

O dia 28 de setembro foi escolhido como o dia de luta pela descriminalização e legalização do aborto durante o V Encontro Feminista Latino-Americano e do Caribe, realizado na Argentina, em 1990.  Mas a discussão sobre o tema não é recente, pelo contrário. Em nossa tradição feminista e anarquista, Emma Goldman defendia em seus escritos a necessidade de descriminalização do aborto, bandeira que levantou em sua atuação sindicalista nos EUA e na União Soviética, após sua deportação.

Na Rússia Soviética, o decreto de 1920 tornou visíveis as necessidades das mulheres de interromper a gestação e tornou o aborto legal. Para o acesso ao aborto as mulheres enfrentavam uma burocracia absurda e seus pedidos entravam numa “lista de prioridade”. Aos olhos do Estado, o desemprego, a pobreza e a ilegitimidade levavam as mulheres a abortar, sendo quase impossível o acesso ao aborto legal quando se tratava de uma escolha da mulher em outras circunstâncias. Além disso, na URSS os médicos não utilizavam anestesia nas cirurgias de aborto, pois eram consideradas de menor importância, provocando um sofrimento doloroso para as mulheres e fazendo com que mesmo sendo legal, muitas mulheres recorressem ao aborto ilegal ou não abortassem. No curto verão da anarquia na Espanha, em janeiro de 1937 o Conselho de Saúde Catalão promulga um decreto de liberalização e controle do aborto nos hospitais.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 8,7 milhões de brasileiras com idade entre 18 e 49 anos já fizeram pelo menos um aborto, destes 1,1 milhão foram provocados.

O papel socialmente atribuído à mulher na sociedade faz com que derrubem apenas sobre os nossos braços a responsabilidade de prevenção e cuidado e o peso da gravidez. Percebemos que no círculo criminalizante do aborto, sempre somos nós, mulheres, as mais penalizadas. Respondemos com nossos corpos e nossas liberdades por uma gravidez gerada por homens e mulheres.

No Brasil o aborto é crime. A mulher que aborta, e quem quer que a auxilie, podem ser penalizados. Exceto os casos em que o aborto é legal no Brasil: risco de vida da mãe (diagnosticado de forma bem imprecisa pelos médicos e nos últimos momentos antes do parto, ou mesmo durante), em caso de estupro e quando o feto é anencéfalo. Fora estes casos, a mulher que comete o aborto é enquadrada no artigo 124 do Código Penal. Código este que é bastante ineficaz para evitar o aborto, mas totalmente eficaz para matar as mulheres.

Disto tiramos duas consequências sociais principais: nós, mulheres do povo, devemos procurar clínicas clandestinas e sem segurança para abortar. As mulheres que não tem como pagar colocam sua vida em risco com métodos caseiros. As ricas conseguem abortar sem riscos indo para fora do Brasil. As que pagam, mas realizam o procedimento aqui, ainda correm risco de morte, pois na maioria das vezes as clínicas clandestinas não possuem estrutura. O caso mais recente foi o da Caroline, grávida de cinco meses e mãe de uma menina de 10 anos, que procurou a clínica para o procedimento e acabou morrendo com um corte na barriga. A outra consequência é que mulheres podem ser presas por causar aborto. Como anarquistas, somos anticárcere e não aceitamos, de nenhuma forma, que mulheres sejam presas por interromper a gestação. O aborto não é um caso de polícia, mas sim de saúde pública! Quantas morrerão até que algo seja feito?

Nestes tempos em que cresce o conservadorismo espelhado em instituições e pessoas “públicas”, vemos nossos direitos cotidianamente ameaçados. A figura repugnante do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, levou ao Congresso muitos projetos de lei que ameaçam nossas vidas, dentre eles o PL 5069/2013, que torna crime o anúncio de métodos abortivos e a prestação de auxílio ao aborto, especialmente por parte de profissionais de saúde. Além disso, o PL 5069/2013 tem impacto direito no atendimento às vítimas de violência sexual, uma vez que considera estupro apenas as práticas que resultam em danos físicos e psicológicos e que a prova deverá ser realizada por exame de corpo de delito.  Eduardo Cunha também é autor do PL 1545/2011 que prevê pena de 6 a 20 anos para médicos ou médicas que realizam aborto, além da cassação do registro profissional.

Além das ameaças ao aborto legal para casos de estupro, o acesso a métodos contraceptivos também segue sendo ameaçado. O PL 1413/2007 de Luiz Bassuma, proíbe a distribuição, a recomendação pelo SUS e a comercialização pelas farmácias da pílula do dia seguinte. O mesmo deputado é autor do Estatuto do Nascituro (PL 478/2007), que proíbe o aborto mesmo em caso de estupro e transforma o aborto ilegal em crime hediondo.

Só a luta e a organização nas ruas podem barrar o avanço do conservadorismo sobre nossos corpos. Precisamos estar organizadas, quer em movimentos sociais mistos, quer em movimentos auto-organizados por mulheres. A construção do poder popular para barrar a opressão dos nossos corpos é o caminho que nós, anarquistas, trilhamos. E o poder popular se constrói cotidianamente, nas lutas populares, por fora das urnas, de forma horizontal e independente, sempre tendo na mira o socialismo libertário em que nós mulheres possamos ser verdadeiramente livres.

POR TODAS AS MULHERES MORTAS EM ABORTOS CLANDESTINOS NENHUM MINUTO DE SILÊNCIO! TODA NOSSA VIDA DE LUTA!

Construir um povo forte! Construir mulheres fortes!

Coordenação Anarquista Brasileira

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Organizações da CAB

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set 192016
 

Organizações Políticas da CAB

orl_logo Organização Resistência Libertária (ORL) – Ceará
farpa Federação Anarquista dos Palmares (FARPA) – Alagoas
fae Fórum Anarquista Especifista (FAE) – Bahia
faca Federação Anarquista Cabana (FACA) – Pará
rl Rusga Libertária (RL) – Mato Grosso
compa Coletivo Mineiro Popular Anarquista (COMPA) – Minas Gerais
oasl Organização Anarquista Socialismo Libertário (OASL)  – São Paulo
farj Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ) – Rio de Janeiro
cabn Coletivo Anarquista Bandeira Negra (CABN) – Santa Catarina
calc Coletivo Anarquista Luta de Classes (CALC) – Paraná
fag Federação Anarquista Gaúcha (FAG) – Rio Grande do Sul

 

 

 

 

jul 252016
 

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TODA MULHER NEGRA É UM QUILOMBO

A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado rumo à favela.

A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue e fome.

A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.

Conceição Evaristo

Em julho de 1992, durante o I Encontro de Mulheres Latino-americanas e afro-caribenhas, instituiu-se o 25 de julho como o Dia da Mulher Negra da América Latina e do Caribe, em homenagem a Tereza de Benguela – uma mulher negra guerreira, líder do quilombo de Quariterê, em Mato Grosso. Enxergamos neste dia mais uma oportunidade de luta que se justifica pela realidade das mulheres negras na América Latina e no Caribe. Realidade expressa em indicadores socioeconômicos reveladores de desigualdade e decorrente de um longo período de subjugação, humilhação, extermínio, escravização do povo negro pela supremacia branca e patriarcal.

Violências de gênero, classe e raça.

O racismo brasileiro encontra na misoginia um mecanismo eficiente de opressão. A história do Brasil se construiu sobre alicerces de racismo e machismo, desde o estupro colonial – estupro de negras e indígenas escravizadas.

O racismo institucional nos atinge – mulheres negras – assustadoramente, tendo em vista que nós somos as mais afetadas pelas desigualdades socioeconômicas de um país ainda escravocrata. Nós, mulheres negras, somos as que menos terminam o Ensino Fundamental e Médio, tampouco o Ensino Superior.Somos as que mais trabalhamos, porém com rendimento mínimo e em condições de subemprego. Somos as que menos recebem assistência do SUS (como menor tempo de atendimento, maior mortalidade infantil e por doença falciforme etc.), em nossas comunidades não existe saneamento básico, fazendo com que sejamos as mais atingidas por doenças. E somos nós as que mais precisam abdicar de algum aspecto de nossas vidas para dar conta de todas as barreiras colocadas pela supremacia branca e patriarcal – seja o trabalho que se quer, o lazer que se gosta, a família unida, dentre tantos outros.

Nos centros penitenciários femininos, segundo o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen) de 2014, duas a cada três detidas eram negras (68%). Das detidas, 57% eram solteiras, 50% tinham o Ensino Fundamental Incompleto e 50% tinham entre 18 e 29 anos.O Brasil é o 5º maior com população carcerária feminina. Esse é só um retrato do extermínio e da criminalização da população pobre, negra e periférica que tem suas vidas ceifadas através do braço armado do Estado – policia.Ainda de acordo com o Infopen, o tráfico de drogas é o crime que mais prende mulheres no Brasil.Esse número chega a 68%, seguido por roubo (10%) e furto (9%).

A guerra às drogas justifica a morte do povo negro nas favelas. E são as mulheres negras que mais sofrem com o extermínio de seus filhos/as, tendo em vista que os pais abandonam as crianças mesmo até antes de nascer.

A mídia contribui para a sensualização do corpo da mulher negra, o que é determinante para os casos de estupros. Como exemplo típico, é a mulher negra e jovem (e por que não dizer, nordestina no caso do Brasil?)que é a mais objetificada no Carnaval. Sem falar nas propagandas de cerveja, carro e outras mercadorias que, para serem vendidas, têm seu valor adjetivado pelo corpo feminino, na maioria, corpo de mulheres negras.

A existência da exploração sexual de crianças e adolescentes e prostituição (nesta última, o exercício é realizado, em grande maioria, por mulheres negras) também reforça e naturaliza a concepção de que “a carne mais barata do mercado é a negra” e serve para apreciação e uso pelo homem – embora não critiquemos as profissionais do sexo que recorrem a essa atividade como fonte de renda.

As mulheres negras também sofrem quando não podem proferir sua espiritualidade, cultura e religiosidade. São inúmeras as violências contra a umbanda e o candomblé –religiões de matriz africanas- além da criminalização. Em 2015, casos como o da menina Kaylane Campos, atingida com uma pedrada na cabeça, aos 11 anos, no bairro da Penha, na Zona Norte do Rio, quando voltava para casa de um culto e trajava vestimentas religiosas candomblecistas, e de um terreiro de candomblé que foi incendiado em Brasília nos mostra o quanto a intolerância aliada à supremacia branca e cristã produz racismo e violência, disseminando o ódio.

Resistências Pretas

Cada mulher negra que se mantém caminhando e enfrenta o racismo e o machismo em sua rotina diária é um ícone de força e celebração da negritude.

Desde o início da escravização no Brasil, nós – mulheres negras – permanecemos firmes em resistências. Quer por meio de ação direta, como faziam as nossas velhas nas cozinhas dos brancos, quer por meio da resistência organizada nos quilombos.

Atualmente, a organização em movimentos sociais mistos, auto-organizados por identidade de gênero ou racial, são nossas ferramentas de luta. Só a organização e a autodefesa das mulheres negras contra o machismo, a supremacia branca, o capitalismo e o Estado podem nos libertar. Temos ciência que a luta parlamentar não nos trará frutos de resistência, pelo contrário, fortalecerão as novas correntes de escravidão.

O silenciamento de Tereza de Benguela – mais uma mulher negra negligenciada pela história brasileira – representa uma forma de fazer história para a qual não podemos nos curvar. Uma história branca, machista e eurocêntrica, que entoa muitos feminismos, mas que não cabe nas nossas fileiras. Grita a necessidade de construirmos um feminismo nosso, não eurocêntrico, com nossas raízes indígenas e quilombolas.

Viva Dandara!

Viva Tereza de Benguela!

Viva Negra Bonifácia!

Organização Resistência Libertária (ORL/CAB)

25 de julho de 2016