jan 312018
 

“Que as autoridades revolucionárias não façam mais frases, mas, usando uma linguagem mais moderada, a mais pacífica possível, façam a revolução.[…] Pode-se mesmo dizer que a energia da linguagem, a maior parte das vezes, serviu-lhes de máscara para enganar o povo, para lhe esconder a fraqueza e a incoerência de seus atos.”

Mikhail Bakunin

A Organização Resistência Libertária é uma organização política anarquista presente na luta dos povos do Ceará desde 2008. Nesses 10 anos construímos um anarquismo sempre inserido nas lutas populares, nas mesmas trincheiras que povos indígenas, camponeses sem terra, pescadores, marisqueiras, estudantes, trabalhadores precarizados, desempregados, moradores da periferia, mulheres pobres, negras, travestis e transexuais. Somos a escória do mundo, somos o povo pobre e em luta permanente!

A ORL é também uma organização integrante da Coordenação Anarquista Brasileira (CAB), coordenação de organizações políticas anarquistas especifistas que atuam em 12 estados do nosso país com o objetivo de criar e fortalecer movimentos sociais de forma autônoma, combativa e com independência e solidariedade de classe, sempre com a vista apontada para o socialismo libertário.

Recebemos via redes sociais uma nota intitulada “Pela Formação de um Comitê de Apoio e Propaganda da Unipa no Piauí”, em que fomos citados. Indigna-nos, mas não nos surpreende, a forma espinhosa e desonesta com que foi escrita. Esta nota, de tom profundamente apolítico, e, sobretudo, meramente acusatório, reproduz, como sempre, o raso arsenal argumentativo que é recorrente desta organização. Dessa vez, também seguindo o modus de todos os seus outros textos, que tem sua análise pautada sempre no presumível erro “dos outros”, tentam “inovar”: citam a ORL, acusando-nos de “não haver superado o romantismo e por isso (ter) pouca ou nenhuma base social”.

Além disso, a nota, que mostra um total desconhecimento do funcionamento da nossa Organização, cita um “grupo” chamado Anarquismo e Organização Popular que “esporadicamente se reunia para fazer trabalho de base”, o que se revela também um completo desconhecimento das nossas relações com outras agrupações políticas e sociais, e sobre a atuação das nossas frentes sociais de militância. É simplesmente um misto barato de má fé e de desconhecimento.

Sabendo que tais práticas desonestas são somente táticas de difamação em busca de propaganda para os difamadores, nós seremos breves. Acreditamos que esse tipo de prática recorrente, ao contrário de explanarem divergências – que obviamente somos favoráveis a evidenciar e debater –, não passam de um mero oportunismo e apenas revelam um maniqueísmo em que os verdadeiros inimigos da classe são substituídos por falsos inimigos. Uma estratégia predatória que não contribui em nada para a luta material de todas/os as/os que continuam resistindo dia a dia à morte decretada pelo sistema capitalista.

O velho discurso da “unidade”, do combate ao “ecletismo”, que mais se assemelham aos discursos stalinistas que desejavam uma doutrina homogeneizada e ortodoxa aos pensamentos do seu criador divinizado, ainda são comuns nos auto intitulados “bakuninistas”. Tal discurso dogmático, destes que se reivindicam os conhecedores das “debilidades” organizativas e os salvadores do confucionismo teórico que encontra-se o anarquismo hoje, nunca nos convenceu, e, para nós, parece sempre algo contraditório ao pensamento livre que deve ser característica do próprio anarquismo.

Sendo assim, além de explanar divergências, aproveitamos apenas para registrar ao público uma nota explicativa. Nosso seminário “Anarquismo e Organização Popular” é um evento anual que busca discutir A Outra Campanha com movimentos sociais e coletivos de diversas localidades do Ceará e de estados vizinhos, que constroem lutas desde baixo, à esquerda e por fora das urnas. Portanto, nunca foi e nem é um “grupo” e nem um espaço de trabalho de base, mas sim, um espaço de reflexão e de aproximações de vários militantes e agrupamentos regionais, compartilhando aprendizados e lutas, na busca de maturar suas experiências políticas e ampliar horizontes de militâncias.

Aproveitamos ainda para registrar nosso posicionamento sobre a também citada Organização Anarquista Zabelê” (OAZ). No nosso entendimento, é que se este coletivo não pôde continuar como organização política, foi pela perca de organicidade diante das dificuldades de sobrevivência que todas/os nós lutadores e lutadoras passamos, e não por nenhuma “debilitada teórica”, como foi maldosamente colocado. Aliás, diga-se de passagem, “debilidade teórica” é algo plenamente superável no dia a dia das lutas, não explicando por si o fracasso coletivo de qualquer agrupamento político. Sobre este aspecto, afirmamos claramente, que nos parece o mais primário erro teórico tentar encaixar a realidade na teoria. Não há teoria que triunfe diante da realidade. Ou andam juntas ou se afundam juntas. Ficar regurgitando a teoria não a salva!

Afirmamos, uma vez mais: o Anarquismo não é fruto de uma mente genial, jamais se personificou e se personifica em uma única autoria. O Anarquismo não é produto de um indivíduo, nem mesmo de Bakunin (como afirma o credo “bakuninista”), e sim fruto da experiência de luta coletiva dos trabalhadores do mundo inteiro.

A militância da ORL continua sólida e permanente. Todas/os nossas/os militantes estão inseridas/os em movimentos sociais, construindo cotidianamente a luta desde baixo, de forma aguerrida, corajosa e com convicção ideológica. Somos anarquistas, crias das lutas do nosso povo, e assim permanecemos.

Ainda que diante das infelicidades que culminaram no fim da OAZ ano passado, continuamos firmes e solidários para que o anarquismo organizado no Piauí possa voltar a se consolidar da maneira mais libertária possível, rejeitando por completo os vícios autoritários ainda presentes na esquerda.

Pela reconstrução da organização política anarquista no Piauí!

Avante o Anarquismo Especifista!

Organização Resistência Libertária

31 de janeiro de 2018