abr 262012
 

“Eles não querem só minha morte. Eles querem o meu silêncio”:

MUMIA ABU-JAMAL, UMA HISTÓRIA DE RESISTÊNCIA E LUTA PELA LIBERTAÇÃO


“Eles levaram embora tudo o que você tem/E o que restou, eles ainda não podem dobrar/Fazê-lo culpado foi o trajeto deles […]/Trinta anos se passaram/No corredor da morte, nós nunca soubemos/Nada sobre o peso/Que você teve de carregar enquanto cresceu.”*

Mumia Abu-Jamal (pseudônimo de Wesley Cook) é um jornalista radical afro-americano e ex-integrante dos Panteras Negras, movimento anti-racista atuante nos Estados Unidos nas décadas de 1960 e 70. Mumia, como é amplamente conhecido no mundo inteiro, se destacou nos EUA pela sua atuação como militante negro anti-racista, denunciando as crueldades que sofrem os negros (em particular) e as pessoas mais pobres sob o capitalismo. Tornou-se jornalista na Filadélfia e ficou popular com o seu programa de rádio “A voz dos sem-voz”, fazendo um tipo de jornalismo radical, crítico e de denúncia da violência policial – particularmente as de natureza racista – e os dramas diários da população pobre dos Estados Unidos. Pela sua militância, iniciada aos 14 anos de idade, Mumia foi várias vezes perseguido e ameaçado por policiais, autoridades locais e pelos poderosos.

No dia 9 de Dezembro de 1981, Mumia foi preso. Posteriormente foi julgado, sendo condenado à pena de morte, por, supostamente, matar um policial branco, chamado Daniel Faulkner, na cidade da Filadélfia. Segundo o relato de várias testemunhas consultadas, o que aconteceu foi que Jamal interveio para socorrer seu jovem irmão, que estava sendo brutalmente espancado pelo policial. No meio da briga, em meio à confusão, muitos gritos e disparos de armas de fogo; havia outro homem, até hoje não identificado. Quando outros policiais chegaram ao local, Mumia estava ferido gravemente e o policial morto. Várias testemunhas declararam ter visto o tal homem não identificado – que não tinha semelhança com Jamal – fugir do local.

A partir dai surgem uma série de flagrantes irregularidades: nenhuma perseguição ou busca foi feita na hora e local do ocorrido pela polícia. Foi encontrada uma arma com Jamal, mas esta arma não foi a mesma que disparou as balas que mataram o policial. Nenhum exame de balística foi efetuado para saber se a arma de Jamal tinha sido utilizada. E mais ainda: nenhuma das testemunhas que saíram em sua defesa fez parte do processo. Uma delas declarou que a polícia a ameaçou de prisão se testemunhasse. Algumas das testemunhas denunciaram que policiais haviam intimidado as pessoas para que mudassem seu testemunho. Além destas irregularidades, o juiz que presidiu o processo, Albert Sabo, declarou publicamente ser hostil a Mumia Abu-Jamal, que em sua juventude foi membro do Black Panthers. “Vou ajudá-los a fritar esse preto”: essas foram algumas palavras, ditas por esse juiz (que foram ouvidas por uma estenografa) a um policial, no dia do julgamento de Mumia, antes da sessão. Uma clara demonstração do ódio e de como o racismo influiu profundamente na condenação de Mumia.

Ao longo de 20 anos marcados por uma incessante batalha judicial, repleta de apelos por um julgamento justo por parte de personalidades e milhares de manifestantes no mundo todo, e apesar da constatação de inúmeras irregularidades em seu processo, a data de sua execução foi várias vezes marcada, e depois suspensa. Nesse meio tempo, Mumia tem escrito vários livros denunciando o racismo e as atrocidades cometidas sob o capitalismo. As autoridades americanas tentam tratar Mumia como um criminoso comum, mas seu caso é um caso típico de prisão por motivações políticas.

Mumia é atualmente um dos prisioneiros políticos mais conhecidos no mundo. É um exemplo vivo de como a pena de morte é cruel e falha, de como o racismo ainda é algo muito forte nos EUA, e de como é real a perseguição do Estado e de grupos conservadores a qualquer um que se insurja contra a ordem do capital e suas formas de opressão e dominação.

Nos últimos anos, após muita pressão e várias manifestações de solidariedade internacional a Mumia, a sentença que o condenava à morte foi anulada e convertida em prisão perpétua. Atualmente Mumia passa por uma situação complicada. No último mês de janeiro ele foi transferido da situação de isolamento total em que se encontrava para a “população geral”, após trinta anos aguardando a execução no corredor da morte e no isolamento. Os movimentos de solidariedade mundial a Mumia, contra a pena de morte e pela libertação de presos políticos, vêem como positiva, porém perigosa essa mudança. Por um lado Mumia pode ter mais contato com sua família (há anos ele não podia nem mesmo abraçar sua mulher e filha) e amigos estando numa prisão com menor rigor e fora do isolamento. Por outro lado, existe um risco real de seus inimigos políticos mandarem assassiná-lo; numa prisão comum isso é muito mais fácil de ser feito. Vários grupos solidários em diversas partes do mundo enxergam que é possível conquistar a libertação de Mumia nesse momento, já que não existem mais provas judiciais concretas contra ele.

Estão ocorrendo várias ações em solidariedade nos EUA, Canadá, França, Alemanha, Brasil e em outros lugares do mundo. Aqui no Ceará, Brasil, estamos nos organizando em uma articulação de solidariedade a Mumia Abu-Jamal, juntamente com movimentos, organizações, grupos, coletivos e indivíduos autônomos que são sensíveis ao caso, com todos e todas que são contra a pena de morte, as perseguições políticas de toda ordem, o racismo e todas as formas de discriminação e opressão. Estamos com todos que são contra a ordem social que persegue, prende e mata quem ousa falar e lutar contra o capitalismo e seus meios de exploração e opressão. Estamos juntos pela libertação imediata de Mumia Abu-Jamal! E com vistas à libertação de todos os presos políticos!

Sim Mumia, eles não querem apenas sua morte. Querem que você e todos nós nos calemos diante desse mundo de dominação e crueldade, de sofrimento e destruição, de miséria e morte cotidiana. Querem nos matar e nos calar! Mas não calaremos! Não morreremos! E seremos realmente livres um dia, se tivermos a coragem de fazer o que você tem nos ensinado com sua história de luta e resistência.

 

 

Sonho com a liberdade. É a palavra mais doce que já escutei, e sonho com ela toda noite. Sonho com um país e um mundo onde a pena de morte é uma memória, é história. Sonho com a ausência das grades da prisão. A ausência de grilhões, a ausência da ameaça de morte.

Sonhamos junto com você Mumia.

“Nunca deixaremos que eles vençam/Não deixaremos que te impeçam de entrar/Em sua casa na Estrada da Liberdade/Mas eles não vão te pegar Mumia/Nós venceremos, nunca seremos dobrados/Por trinta anos você tem mostrado a todos nós/Apenas como lutar até o fim.”*

Mumia Livre!

Milhões por Mumia Abu Jamal!

Pela libertação de todos os presos políticos!

Abolição da pena de morte!


Articulação em Solidariedade e pela Libertação de Mumia Abu-Jamal – Ceará/Brasil


*Trechos de “Freedom Road” (Estrada da Liberdade), canção escrita por Samuel Légitimus em homenagem a Mumia Abu-Jamal, por ocasião dos seus 30 anos na prisão.




 


 

 Leave a Reply

You may use these HTML tags and attributes: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

(required)

(required)